Osvaldo Coggiola* – Correio da Cidadania
Quando o Brasil venceu a Copa das Confederações, no mesmo momento, fora do Maracanã, uma multidão equivalente àquela que se encontrava no estádio protagonizava uma batalha campal contra a polícia, que usou bombas, gás e balas de borracha. O saldo foi de dezenas de presos e feridos. Que o futebol, religião nacional, não tenha conseguido desviar uma mobilização anti-governamental é um feito inédito na história. Tão insólito quanto o feito de que a presidenta sequer pisou no estádio, temendo vaias ainda piores do que na inauguração da Copa. Neymar se pronunciou (apesar do cordão de segurança que o rodeia permanentemente) a favor das manifestações.
No mesmo domingo, a Câmara Municipal de Belo Horizonte foi ocupada por jovens que reivindicam a abertura dos contratos com as empresas privadas de transporte urbano, para por em evidência os superlucros patronais e a corrupção descarada dos “representantes do povo”. Desde a semana passada, os movimentos das favelas paulistas (MTST, os “sem teto” e o Periferia Ativa) organizam manifestações e bloqueios de avenidas contra as péssimas condições de moradia, saúde e transporte nos bairros pobres.
Ao mesmo tempo, é desenvolvida uma formidável ofensiva repressiva não apenas nas ruas senão nas mesmas favelas, uma operação gigantesca de militarização para evitar que os setores mais explorados se incorporem massivamente à luta. Na Favela Nova Holanda, localizada no complexo da Maré, a operação deixou uma dúzia de jovens mortos, definidos como “ladrões”; em seguida, foi posto em evidência que nenhum deles havia tido sequer uma acusação formal contra si próprio em toda a sua vida. O monstruoso aparelho repressivo brasileiro foi incrementado e sofisticado como nunca em função dos “grandes eventos” (campeonatos mundiais de futebol e Olimpíadas) pelo “governo dos trabalhadores”. Durante as primeiras manifestações, Dilma Rousseff ofereceu publicamente e explicitamente o apoio da “Força Nacional”, um braço repressivo “contra-insurgente” montado pelo governo do PT, a governadores e prefeitos “em apuros”. (mais…)