Manifestantes criticam qualidade do transporte público e dizem que vão ficar na sede do Legislativo até encontro com o prefeito
Elian Guimarães e Clarisse Souza – Estado de Minas
Manifestantes continuam ocupando, pelo terceiro dia seguido, a Câmara Municipal de Belo Horizonte. Eles passaram a segunda madrugada acampados no hall da Casa. Em reunião realizada no início da noite de domingo, decidiram que vão permanecer no local até que sejam recebidos pelo prefeito da capital, Marcio Lacerda (PSB) e transferiram para a sede do Legislativo a assembleia que ocorreria hoje no Viaduto Santa Tereza, às 19h. Nessa mesma assembleia será definida a comissão que vai se encontrar com Lacerda. O grupo reivindica melhorias e redução de preços no transporte público da capital. A Prefeitura de BH sinalizou ontem que o prefeito vai receber a comissão que representa estudantes de vários segmentos sociais que estão ocupando a Casa desde a manhã de sábado. Segundo a assessoria de imprensa da PBH, o secretário de Governo, Josué Valadão, ainda vai definir data e local para o encontro.
No início da tarde de domingo, um grupo de representantes de Lacerda, entre eles o presidente da BHTrans, Ramon Victor César, e o próprio Valadão, se reuniu com a comissão de negociação do autodenominado movimento Assembleia Popular Horizontal (APH). Na reunião, os representantes do prefeito se limitaram a explicar a regras das licitações de concessão do serviço público, o que não agradou os representantes do movimento. Segundo Valadão, o objetivo do encontro seria preparar o formato da reunião com o chefe do Executivo. “Discutimos sobre a necessidade de o pessoal conhecer todas as regras dos contratos de concessão assinados em 2008, que determinam que a tarifa é constituída por cinco itens: rodagem, combustível, frota, atividades administrativas e rodoviários. É importante que conheçam o contrato e como é feito e seu cálculo”, disse o secretário de Governo.
Para Valadão, este é o momento oportuno para discutir o sistema como um todo, o que inclui qualidade, necessidade de aumentar a quantidade de viagens nos fins de semana, nível adequado para a plataforma de cadeirante, entre outros pontos.
Ele se comprometeu com a comissão de negociação do movimento a abrir no site da BHTrans, até o meio-dia de hoje, o contrato de concessão com todas as suas regras, além do contrato com a empresa de auditoria. Valadão acredita que essas iniciativas ajudarão nas discussões a serem levadas ao prefeito. De acordo com o secretário, será impossível atender o pedido de revogação do aumento da passagem que passou a valer em 29 de dezembro. “Tudo o que pôde ser feito já está valendo, como as reduções do ISS e do custo de gerenciamento da BHTrans.” Ele garantiu que a prefeitura reconhece a legitimidade desse movimento e sua natureza popular espontânea. “Queremos que todos tenham acesso a todos os dados para que seja um debate qualificado.”
REIVINDICAÇÕES Alexandre Mázus, integrante do movimento APH, criticou a votação na Câmara na manhã de sábado, quando emendas não passaram, entre elas o pedido de abertura dos custos de transporte. Segundo ele, o movimento tem 11 eixos e, na pauta de transporte, são três reivindicações imediatas: revogação do último aumento, desoneração do PIS e Cofins, prevista em MP da presidente Dilma Rousseff, e abertura da planilha de custos de transportes das empresas.
Além disso, segundo Mayra Reis, integrante do comitê de transportes do movimento, é preciso melhorar a qualidade do transporte público em BH, principalmente em relação ao número de viagens à noite e nos fins de semana e ao estado de conservação de veículo, além do acesso aos ônibus dos portadores de necessidades especiais.
A Polícia Militar permaceu do lado de fora da Câmara. No fim da tarde, um grupo de manifestantes saiu da sede e foi ao encontro da comandante de Policiamento da Capital, coronel Cláudia Romualdo. Eles carregavam cartazes e parodiavam músicas criticando a presença da polícia no local .
Desconcentração antenada
A descontração marcou o segundo dia de ocupação do saguão e jardins da Câmara de BH. Um piano colorido foi compartilhado por vários músicos no gramado do Legislativo. Do lado de dentro, os manifestantes dançavam e cantavam.
Os movimentos artísticos só eram interrompidos nos momentos dos informes. A reunião a portas fechadas entre a comissão de negociação dos manifestantes e representantes da prefeitura acabou sendo “furada” pela tecnologia da mídia alternativa “pós-TV”, que conseguiu transmissão sonora ao vivo para um saguão atento.
Organizados, os manifestantes se dividiram em grupos de limpeza, arrecadação de alimentação e produtos de higiene. Deitados por toda a extensão do saguão e entrada do prédio, namoravam e discutiam questões de interesse do movimento.
A solidariedade estava presente. Muitas pessoas da vizinhança e de outros pontos da cidade foram ao local prestar apoio ao grupo, algumas delas acompanhadas de crianças. Cadeiras, mesas, fogão industrial, panelões, pratos, talheres, copos, chapa, mantas, cobertores, travesseiros eram despejados durante todo o tempo por carros que passavam à porta da Câmara.
ARROZ QUEIMADO Apesar de uma certa inabilidade de alguns manifestantes em lidar com o fogão, o que causou pequenos transtornos como arroz queimado, os quilos e quilos de comida preparada no almoço acabaram em poucos minutos.
–
Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.