Violência contra a mulher aumenta no Rio

Prédio da UERJ, no Maracanã. Foto: Leonardo Jorge/Flickr
Prédio da UERJ, no Maracanã. Foto: Leonardo Jorge/Flickr

Camila Nobrega
Do Canal Ibase

O Rio de Janeiro tem assistido em choque às notícias sobre o aumento do número de casos de estupro na cidade. Por dia, a média foi de 16 casos, de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Mas, enquanto situações extremas chamam atenção para a atuação de criminosos anônimos na vida das vítimas, outra violência acaba encoberta. Dados do mesmo órgão apontam que metade dos agressores são pessoas de convívio próximo das mulheres, e 29,7% têm relações de parentesco com as vítimas. O problema vai muito além das agressões que ocorrem nas ruas.

Entre os casos mais recentes está o de uma estudante da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que foi violentada no início deste mês por um colega de faculdade no estacionamento da instituição, localizada no Maracanã, na Zona Norte do Rio de Janeiro, durante uma festa de calouros da universidade. De acordo com depoimento dado pela vítima à Polícia Civil, o agressor a teria visto com uma mulher durante a festa e manifestado repúdio à situação, forçando-a a ter uma relação sexual com ele em seguida. A polícia ainda investiga o caso. Já a UERJ divulgou um comunicado oficial no site da instituição, manifestando repúdio ao ato e informando que abriu uma sindicância para apurar o ocorrido.

O objetivo das ações mais recentes de movimentos como o Fórum de Combate à Violência Contra as Mulheres é chamar atenção aos vários tipos de agressões comuns no município. Membros do grupo saíram às ruas do Centro do Rio na semana passada. O número de casos de abuso sexual notificados dobrou nos últimos três anos no município, como ressaltou Iara Mora, coordenadora de projetos na Casa da Mulher Trabalhadora (Camtra) e membro do fórum.

– Os números são provas de que as políticas públicas não estão dando conta do problema. Há uma legitimação da violência contra as mulheres na nossa sociedade.

De acordo com o ISP, o Estado do Rio teve, no primeiro trimestre de 2013, um aumento de 405 casos de estupro em relação ao mesmo período no ano de 2012, um crescimento de 36%. Para Iara, há uma falha grave na garantia dos direitos básicos da mulher, uma vez que apenas situações extremas, como estupros e feminicídios, causam repúdio em cidades brasileiras como o Rio.

– O estupro por desconhecidos é mais visibilizado, e mais fácil de ser denunciado. Só que mais da metade das mulheres são estupradas por amigos, familiares e parceiros. Muitas vivem situações de violência diariamente e só se dão conta quando as atitudes dos parceiros se transformam em agressão física grave. Algumas, no entanto, sequer percebem. Acham, por exemplo, que, se o namorado ou marido as força a fazer sexo, não é errado. Elas legitimam a noção de posse deles sobre o corpo delas.

Entre os casos mais emblemáticos de estupros recentes na cidade do Rio, uma mulher de aproximadamente 30 anos foi violentada no dia 3 de maio durante um assalto a um ônibus da linha 369 (Bangu-Carioca), na Avenida Brasil. No dia 20 de abril, uma jovem foi vítima de abuso sexual dentro de uma clínica de estética em Bonsucesso, na Zona Norte. Três dias antes uma menina de 14 anos havia sido vítima de abuso, na Praia do Leblon, na Zona Sul. O crime ocorreu no final da praia, quase na Avenida Niemeyer, via expressa que liga o bairro a São Conrado, na mesma região. No dia 30 de março, jornais do mundo todo noticiaram o caso de uma turista que foi estuprada por três homens, durante seis horas em uma van que fazia o percurso Copacabana-Lapa.

As falhas na garantia dos direitos das mulheres em toda a América Latina foram tema de um seminário realizado no início de maio no México, que reuniu centenas de ativistas de toda a região. As participantes finalizaram um documento, apontando que a legislação não está sendo cumprida nos países latinoamericanos e pedindo esforços urgentes no combate à violência contra a mulher.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.