São Gabriel da Cachoeira se “surpreendeu” com prisão de suspeitos de explorar meninas indígenas

Vista de São Gabriel da Cachoeira. Foto - Seplan
Vista de São Gabriel da Cachoeira. Foto – Seplan

Por Elaíze Farias

Após a prisão de nove pessoas suspeitas de explorar sexualmente meninas indígenas, São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro (Amazonas) é uma cidade onde reina a surpresa. Este é o clima descrito por duas pessoas para quem telefonei hoje (23). Em outras palavras, a população está “boquiaberta”.

Estas duas pessoas com quem conversei  já vinham denunciando há muito tempo a prática da exploração sexual das meninas indígenas para a polícia, para a justiça e demais instâncias, sem muito êxito, até que o Ministério Público Federal (MPF) pediu que a investigação passasse para esfera federal, o que aconteceu a partir de setembro de 2012. Até aquele momento, os inquéritos estavam mofando na esfera estadual.

“Aqui é uma cidade pequena e todo o mundo sabe o que acontece com a população. A cidade está em silêncio, mas muito surpresa. Ninguém achava que isso (a prisão) poderia acontecer um dia”, me disse uma delas.

Outra pessoa me falou que a surpresa não foi apenas com as prisões, mas com as pessoas presas. Muitos delas são conhecidas da “sociedade” como “gente de bem”. Outras como gente “endinheirada” que achava que nunca seria presa.

Apesar do alívio e da felicidade com este desfecho, ainda existe temor e receio com o acontecerá a partir de agora. “As famílias das vítimas continuam com medo. Algumas querem até ir embora”, me falou esta pessoa para quem telefonei.

“Vocês receberam algum tipo de ameaça, nem que seja velada, depois das prisões?”, perguntei. “Não, pelo menos isso não aconteceu até agora”, me respondeu ela, por enquanto aliviada.

Outro temor é com a possibilidade de soltura dos presos. “Tem muita gente dizendo: ‘foram presos mas daqui a pouco serão soltos’. É isso que a gente não quer e por isso fica um pouco preocupada”, relatou.

Operação

As nove pessoas presas só serão soltas se a justiça determinar, me falou o delegado Fábio Pessoa, que comandou a operação.

“A prisão deles é preventiva (sem prazo). É aquela prisão decretada pela justiça para a conveniência da investigação. Essas pessoas já vinham ameaçando algumas vítimas. Elas só serão soltas se vier uma ordem da justiça”, disse Pessoa, com quem também conversei hoje.

A Polícia Federal não divulgou o nome dos presos. Segundo Pessoa, o caso corre em segredo de justiça.

Mas o delegado me falou que entre os presos estão “comerciantes, funcionários públicos e um ex-vereador”. Há também um militar do Exército, mas que esteve envolvido em outro caso semelhante (estupro de vulnerável).

A operação não acaba aqui. Pessoa relatou que “há mais pessoas envolvidas” (e certamente “há mais vítimas”) que serão investigadas no prosseguimento da operação. Ele deu alguns detalhes, mas, para atender um pedido seu, não os publicarei.

Conversei com outras pessoas não diretamente ligadas a estas denúncias, mas que de alguma forma, sabiam das histórias (que não é nova) de exploração sexual de garotas indígenas e que lamentavam a omissão da justiça e especialmente da Polícia Civil para apurar as denúncias.

Não citarei os pormenores aqui por questões éticas, pois as pessoas mencionadas não foram procuradas para dar o seu lado.

De meu lado, posso informar que recebi ligações e comentários de muita gente que ficou “aliviada” e “realmente surpresa” com o fato da exploração sexual destas garotas tenha vindo à público e, mais do que isso, que os envolvidos tenham sido presos.

Fico preocupada apenas com as três meninas (este número foi dado pelo delegado) da etnia wanano que tiveram que sair de São Gabriel da Cachoeira com suas famílias e incluídas no Programa de Proteção à Testemunha por terem sido ameaçadas.

Este é um indicador da gravidade da situação e do quanto estas meninas precisavam de apoio e de ajuda. Há outras, certamente, na mesma situação. Daí a importância desta operação ter continuidade.

Comments (2)

  1. O indio tem uma tradição de que a menina quando “sangra” torna-se mulher, aceita homem. Isso é normal segundo a tradição indigena. Mas branco, caucasiano, esse ato é inaceitável, pois, trata-se de pedofilia. Cana neles.

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