Amazônia – Famílias removidas há dois anos de suas casas para dar lugar ao lago da usina de Santo Antônio, em Porto Velho (RO), já começam a abandonar as áreas nas quais foram assentadas pela hidrelétrica.
Pescadores dizem que os peixes sumiram, agricultores se queixam da terra “infértil” e comerciantes reclamam da falta de movimento.
Quando o assunto é “sustentabilidade”, a realocação de famílias atingidas pelas obras é uma das principais vitrines das usinas do rio Madeira –Santo Antônio e Jirau.
No caso de Santo Antônio, para aumentar em 4% a capacidade do país de geração de energia elétrica e iluminar o Sudeste e outras regiões, a concessionária reassentou 2.000 pessoas em sete vilas.
Apesar das queixas, a empresa responsável pela obra afirma que até agora nem 10% das famílias venderam os seus imóveis. Moradores, no entanto, afirmam que o êxodo deve continuar.
“Espero só este verão. Se a coisa não melhorar, vou embora”, afirma Carlos Damasceno, 44, dono de restaurante na Vila Nova de Teotônio e que planeja voltar para terras da família no Amazonas.
POLO DE LAZER
A pelo menos nove quilômetros da localidade original, a nova vila foi projetada para ser um polo de lazer e turismo. Com casas em lotes de 2.000 metros quadrados, ganhou praia artificial, com o enchimento do reservatório, e píer de madeira.
Em um barranco de água barrenta, a praia não atrai banhistas. O acesso de terra também inibe visitantes.
“Os assentamentos se mostraram inviáveis”, afirma Damasceno, que manteve comércio por 14 anos na antiga Vila de Teotônio, ao lado da cachoeira, hoje alagada, e que foi planejada para ser um ponto turístico da região.
O irmão do comerciante, Pedro Damasceno, 42, diz ter perdido a renda “por completo” desde o sumiço da cachoeira, onde pegava peixes facilmente no poço.
“Fazíamos até R$ 6.000 por mês. Agora dá para sobreviver, mas não para viver do rio”, diz. A pesca deixou de ser lucrativa, afirma, pelas despesas com gasolina para percorrer o lago de barco.
A usina repassa R$ 1.250 mensais aos moradores da vila como auxílio. Prevista para ser suspensa em dez meses, até os moradores ajustarem a sua produção, a bolsa teve de ser renovada.
Doze famílias levaram à empresa um projeto de criação de peixes em tanques e esperam o investimento.
O Ministério Público de Rondônia solicitou uma vistoria técnica na vila para apurar as reclamações.
TERRA NOVA
Queixas se repetem no assentamento Santa Rita, local da nova casa de cerca de 135 famílias do Madeira.
O agricultor Francisco Dantas, 51, diz que as suas bananeiras demoraram um ano para vingar. Antes, eram menos de oito meses, afirma.
“Aqui a terra racha, seca. As bananas estão menores”, diz. “Quem não foi embora é porque não tem para onde ir”, acrescenta o agricultor.
No Santa Rita, já não há o repasse financeiro da usina –a concessionária não informou os critérios de suspensão. Dantas abriu uma borracharia para complementar o que recebe do Bolsa Família.