Por Jankiel Campos*
Vejam o tipo de gente que está liderando a nova campanha anti-índio em Brasília: dos 79 municípios do Mato Grosso do Sul ONZE já tiveram o prefeito cassado, isto só nos últimos seis meses. Dourados, segundo maior município do MS, não está entre esses onze, mas em 2010 sofreu uma intervenção judicial pois o prefeito, seu vice e nove dos treze vereadores foram presos na Operação Uragano. Enquanto isso, a Ministra-chefe da Limpeza Étnica, Gleisi Hoffmann, já conseguiu fritar a presidente da Funai, pelo simples fato de a Funai ter feito algo determinado em uma decisão judicial.
Se bem vejamos: o principal fundamento do consórcio governista para instalar a CPI da Funai é a identificação da Terra Guarani Mato Preto, no RS, que segundo a vanguarda ruralista em Brasília é resultado do uso de um chá alucinógeno pela antropóloga responsável pelo laudo de identificação. Os nobres deputados esquecem de contar que esta área já havia sido demarcada como indígena em 1929 pelo governo estadual, mas, no início dos anos 60, o governo estadual despejou os guaranis em um aldeia kaingang para fazer a “reforma agrária” brizolista com a terra dos guaranis.
Agora, o governo estadual alega não ter condições de reassentar os agricultores que ele assentou na terra dos índios, apesar de ter feito isso com centenas de famílias desapropriadas por hidrelétricas nessa mesma região. Também esquecem de dizer que a demarcação é resultado de uma Ação de 2006 do Ministério Público Federal contra a FUNAI, que foi CONDENADA pela Justiça a demarcar a terra. É a claro que é muito mais fácil (e populista, e covarde) para o procurador-geral do RS criticar a Funai ao invés de criticar o Ministério Público Federal, o verdadeiro responsável pela demarcação de Mato Preto.
Além de atacar a Funai, esse cidadão fica repetindo como um papagaio que o decreto 1.775/96 é “inconstitucional”, a despeito do Supremo ter dito o contrário no julgamento da Raposa Serra do Sol e o dito decreto ter criado a possibilidade de contraditório para qualquer interessado (o oposto do que ele está sugerindo em suas incontáveis entrevistas). Também mentiu descaradamente ao dizer que agora o Supremo suspendeu a demarcação da área, quando o que foi suspenso foi o prazo pro reassentamento dos não-índios. A demarcação não só continua como há prazos para a Funai e Ministério da Justiça terminarem os procedimentos para que a terra possa ser homologada pela presidência. A amnésia coletiva (que aqui se estende à mídia) também se aplica ao fato de que há dez anos o guaranis estão morando na beira da rodovia e que em 2009 o pajé morreu de pneumonia por viver em um barraco de plástico, enfrentando temperaturas negativas. Surpreendentemente, sua morte não serviu de inspiração para um dos eloquentes discursos da senadora Ana Amélia.
A tática dos políticos estaduais e federais parece ser a mesma do caso de Monte Caseros: mentir para os não-índios na esperança que a homologação caia no próximo mandato.
É óbvio que tudo que estou afirmando aqui seria melhor exposto pelo membro do MPF autor da ação, mas nenhum dos jornalistas que falam constantemente sobre “chá alucinógeno” e “anulação do laudo antropológico viciado” se deu ao trabalho de telefonar pra ele. Não por algum interesse econômico direto dos meios de comunicação, mas simplesmente por que nesse caso a verdade desagradaria os leitores (consumidores, melhor dizendo). Como os índios não compram jornal que se dane a verdade. Uma rádio de Passo Fundo chegou a dizer que foi o MPF que pediu a paralisação da demarcação!!!
Já no Mato Grosso do Sul a bancada ruralista fica repetindo sem parar que a Funai quer demarcar 22% do Estado. Hoje, se contarmos a terra Kadiweu (que tem quase metade da área invadida por grileiros), 1,7% do MS é terra indígena. Tirando a área Kadiwéu dá menos de 1%. Mas como que os ruralista chegaram a esse cálculo de 22% se os grupos de trabalho mal começaram seu trabalho? Eles simplesmente somaram 100% do território de todos os municípios onde tem grupo de trabalho da Funai!!! Aí os jornais repetem essa asneira sem serem contestados pelo PGR ou pela 6ª Câmara. E agora a Gleisi Hoffmann diz que as demarcações vão ser subordinadas aos agrônomos da Embrapa, algo que nem o PFL tinha coragem de propor no governo FHC.
Como se vê, a bancada ruralista e a Dra. Hoffmann deixariam Joseph Goebbels com inveja.
*Perito em Antropologia do Ministério Público Federal.
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Compartilhada por Margaret Pereira.
reclamam tanto que os índios estão abandonados a própria sorte,mas a funai que é responsável por eles, não faz nada,cade o dinheiro repassado pelo governo pra ajudar esses índios,dinheiro esse que é tirado do trabalhador rural ou qualquer outro em forma de imposto,pros índios é que não esta indo,
Ótima!!!