Leonardo Sakamoto
Já tinha a certeza de que a vida está difícil para as mulheres em festas, baladas e eventos afins.
Não que isso não acontecesse antes, não há provas de que éramos menos machistas e violentos. Pelo contrário, o homem foi historicamente criado para ser um idiota.
Mas a percepção do crescimento da violência contra a mulher se deve também ao aumento no acesso à informação. Plataformas digitais possibilitam que essas histórias circulem livremente, dando coragem a outras mulheres – que antes calavam-se diante do ocorrido por sempre ouvirem que aquilo era normal – a botarem a boca no trombone.
Tenho ouvido cada vez mais história de alunas sobre comportamentos bizarros em festas de faculdades e semelhantes:
Um rapaz deu uma rasteira na moça por ter levado um fora.
Outro aplicou-lhe um mata-leão.
Tem um que beliscou a bunda de uma que estava passando. Ela foi tirar satisfação, ouviu desaforo. Deu um tapa e recebeu, de volta, um soco no rosto. Aliás, socos no rosto têm sido histórias constantes. Eu ouvi três delas, sempre com alguém que levou um fora tentando quebrar o nariz da outra.
Há ainda aquele que segurou forte pelo braço, a ponto de deixar suas marcas, e disse que só largava se ganhasse um beijo.
Outro encoxou na balada, no meio da pista. Quando percebeu que a calça estava suja, saiu chorando para casa.
Arrancar prazer de alguém que não quer dar ou não sabe que está envolvida. Isso é ensaio para estupro. Ou para necrofilia.
Sei que é chato e cansativo. Sei que temos a impressão de que nada disso resolve. E muitas vezes não resolve mesmo, porque há preconceito inclusive entre seguranças de bala e policiais. Sei também que muitos dos que fazem essas aberrações são amigos, conhecidos, colegas. E ninguém quer ficar mal com eles…
Mas, acima de tudo, cometeram atos de violência. E merecem ser repreendidos por isso de acordo com o que prevê a lei, percebendo que as mulheres não estão no mundo para servi-los.
Conversei com o pessoal do Instituto Patrícia Galvão, que atua em defesa dos direitos da mulher. Segundo eles, o ideal é procurar mesmo uma Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher , que funcionam 24 horas por dia (trago uma lista delas, do município de São Paulo, abaixo). Se conseguir levar três testemunhas, melhor. Caso contrário, quantas puder. Pergunte às pessoas em volta se alguém gravou um vídeo do ocorrido – balada está coalhada de paparazzi amador com seus celulares onipresentes atrás de “escândalos” e há muitos desses vídeos circulando na rede. Infelizmente, você precisa levar o nome da pessoa que agiu com violência. Uma foto também ajuda.
Na delegacia, fará o registro da ocorrência. Se quiser, pode pedir uma representação para gerar um processo. O Ministério Público toca a partir disso se o caso se enquadrar como ameaça ou lesão. Se você quiser abrir uma ação civil, precisará depois de um advogado ou um defensor público (que não cobrará nada de você por isso). Em alguns casos, você será encaminhada para o Instituto Médico Legal para fazer um exame, provando a violência. É possível também solicitar cautelares de proteção se quiser, do tipo de afastamento. Vai que o sujeito convive na mesma escola ou local de trabalho e pode repetir a dose?
E não se engane. Não é só os “outros” que fazem isso, os “nossos” também fazem. “Ah, mas o cara é amigo, apenas e excedeu.” Não caia nessa. Por você e pelas outras mulheres.
Ataques como esse traduzem o que parte da nossa sociedade machista pensa. Que uma mulher que conversa de forma simpática em uma festa está à disposição, que uma mulher que se veste da forma como queira está à disposição, que um grupo de mulheres sem “seus homens”, andando na noite de São Paulo, está à disposição.
Uma pessoa suada, dançando animadamente na balada, resolve refrescar-se do calor e tirar a camisa mostrando o peito nu. Se for homem magro, é um extravagante, um exagerado. Se for mulher, é uma imoralidade. Depois perguntam o porquê de Marchas das Vadias acontecerem ao redor do mundo para protestar pelo direito de viver da forma que melhor convier.
1ª Delegacia de Defesa da Mulher – CENTRO
Rua Dr. Bittencourt Rodriguez, 200 – CEP 01017-010 – São Paulo
Telefone: (11) 3241-3328
2ª Delegacia de Defesa da Mulher – SUL
Avenida Onze de Junho, 89 – 2º andar – CEP 04041-050 – São Paulo
Telefone: (11) 5084-2579
3ª Delegacia de Defesa da Mulher – OESTE
Avenida Corifeu de Azevedo Marques, 4300 – 2º andar – CEP 05340-020 – São Paulo
Telefone: (11) 3768-4664
4ª Delegacia de Defesa da Mulher – NORTE
Avenida Itaberaba, 731 – 1º andar – CEP 03069-070 – São Paulo
Telefone: (11) 3976-2908
5ª Delegacia de Defesa da Mulher – LESTE
Rua Dr. Corintho Baldoíno Costa, 400 – CEP 03069-070 – São Paulo
Telefone: (11) 2293 3816
6ª Delegacia de Defesa da Mulher – SANTO AMARO
Rua Sargento Manoel Barbosa da Silva, nº 115 – CEP 04675-050 – São Paulo
Telefone: (11) 5521-6068 e 5686-8567
7ª Delegacia de Defesa da Mulher – São Miguel Paulista
Rua Sabbado D’Angelo, 46 – Itaquera – CEP 08210-790 – São Paulo
Telefone: (11) 2071-4707 e 2071-3588
8ª Delegacia de Defesa da Mulher – SÃO MATEUS
Avenida Osvaldo do Valle Cordeiro, 190 – CEP 03584-000 – São Paulo
Telefone: (11) 2742-1701
9ª Delegacia de Defesa da Mulher – PIRITUBA
Avenida Menotti Laudisio, 286 – CEP 02945-000 – São Paulo
Telefone: (11) 3974.8890
Em tempo: alguns desses rapazes, que tratam mulheres com violência, têm medo de seus próprios sentimentos e foram criados como monstrinhos pela família, escola ou qualquer instituição reacionária a que pertencem, irão comentar abaixo. É fácil descobrir quem eles são. Seriam divertidos, se não fossem trágicos.