Renan Almeida*, Jornal do Brasil
“A gente só quer ir embora. Não é fácil viver nisso aqui, é muito ruim”, desabafa Luiz Claudio, auxiliar de escritório e um dos moradores do 3º Batalhão de Infantaria, em São Gonçalo, abrigo provisório onde os desabrigados na tragédia do Morro do Bumba vivem desde 2010.
Nesta semana, por conta de problemas estruturais, foram demolidos dois dos 11 prédios que seriam entregues a famílias que perderam suas casas na tragédia. A consequência é que cerca de 400 pessoas que já vivem há três anos no abrigo improvisado no 3º BI terão que viver por mais tempo em condições precárias.
O JB não foi autorizado a fotografar o interior das instalações, mas percorrendo o local a reportagem verificou condições desumanas. Poucos quartos possuem banheiro privado e os de uso coletivo, apesar de limpos, estavam com um mau cheiro insuportável e não tinham sequer vasos sanitários.
Talvez por conta das péssimas condições de higiene, dois bebês morreram depois de adoecer no abrigo. Um deles era filho de Luiz Claudio e faleceu há pouco mais de um mês, vítima de pneumonia, com apenas dois meses de idade. “Internamos ele no Getulinho. O garoto saiu bom do hospital, ficou doente aqui e perdi o moleque”, lamenta Luiz Claudio, que vive com a esposa e outros cinco filhos no abrigo.
A maior preocupação dos moradores é com relação às crianças. Segundo eles, o saneamento no local é precário e quando chove o esgoto transborda e corre por entre os blocos. “As crianças ficam muito doentes aqui. Minha preocupação é com relação a minha filha porque muitas crianças já pegaram pneumonia”, disse Caroline Fontoura, carregando no colo sua filhinha de um mês.
Nesta quinta-feira(28), homens da Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) faziam a limpeza do local e outros funcionários da prefeitura pintavam a fachada dos prédios. Moradores,entretanto, afirmam que há poucas semanas esse tipo de limpeza não acontecia.
“É maquiagem que estão fazendo. Eles nunca apareceram aqui, agora começaram a vir. Por quê? Porque tem um monte de jornalistas vindo aqui depois que aqueles prédios foram demolidos”, acusa Claudio da Silva.
A prefeitura de Niterói informou que está fazendo a revisão dos sistemas hidráulico e elétrico e da rede de esgoto do abrigo, poda de árvores e troca de lâmpadas. Informou ainda que a Clin atua regularmente na limpeza do local e que as famílias que estão no 3º BI são assistidas por seis assistentes sociais, psicólogos e oito profissionais de saúde que trabalham de segunda a sexta-feira, de 8h às 18h.
Em relação à previsão de entrega dos prédios do conjunto habitacional Zilda Arns 1 e 2, a prefeitura informou que os questionamentos têm que ser feitos à Caixa Econômica Federal e à empresa contratada para realizar a obra. O JB, entretanto, não conseguiu contato com a Caixa até o fechamento da reportagem.
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Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.