O Movimento dos Pequenos Agricultores apresentou hoje sua visão sobre o conceito de ALIMERGIA em contra ponto aos agro combustíveis no “Espaço Climático”do Fórum Social Mundial em Tunis – Tunísia.
O Fórum está organizado em diversos espaços de debates, sendo que um deles foi sobre as falsas soluções para a crise ambiental. Entre as falsas soluções estão conceitos da “economia verde”, como o REDD entre outros e também a questão dos agrocombustíveis Sobre este tema foi a participação do MPA.
Para Valter Israel da Silva, militante do MPA presente no Fórum, a posição do MPA é de “rechaço”aos agrocombustíveis e ao modelo de desenvolvimento que exige tanta energia. Segundo ele, os principais motivos para esta posição são: 1) o fato de a produção de agrocombustíveis ser antagônica ao principio básico que orienta a Via Campesina, que é a Soberania Alimentar, 2) pela expansão dos monocultivos de cana, de soja e outros, que invade os territórios e expulsa camponeses, 3) pela transformação de alimentos em combustível, como é o caso do milho na América central.
Segundo Silva “é possível ter um outro olhar sobre o tema, um olhar na soberania energética”. Para ele, é possível pensar a produção de energia através de Sistemas Camponeses de produção[1], onde a energia é “um elemento do sistema”. Disse ainda que o MPA vem desenvolvendo experiências com base no conceito de ALIMERGIA[2], (Alimento, Meio Ambiente e Energia). Para finalizar disse que é preciso afirmar o Modo Camponês de fazer agricultura ( diversificado, autônomo em insumos, especialmente em sementes), sistêmico e produtor de alimentos, pois “só a agricultura camponesa é capaz de dar resposta às crises ambiental, energética e alimentar.”disse.
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[1] “Sistemas Camponeses de Produção são sistemas de produção altamente diversificados, tendo como base social as famílias das comunidades camponesas que integram produção animal e vegetal (agrícola e florestal), que priorizam a produção para o auto consumo e para o mercado local, que preservam os recursos ambientais estratégicos como: água e biodiversidade, combinam plantios anuais com plantios perenes, utilizam ao máximo insumos de origem local, utilizam os subprodutos de uma produção para a outra e pela diversificação buscam a sustentabilidade geral do sistema, buscam a autonomia genética e tecnológica e integram novos conhecimentos e novas técnicas ao conhecimento já existente, sem deixar que eles desintegrem o sistema. (MPA 2007) “
[2] “Alimergia é um novo conceito em agricultura, pecuária e floresta que procura desenvolver formatos produtivos que integrem de maneira sinérgica (as energias dos vários tipos de produção se alimentam entre si) a produção de alimentos e de energia com preservação ambiental. A alimergia visa a soberania alimentar e energética das comunidades, dos territórios e dos povos de maneira integrada e harmônica com os ecossistemas locais. No entanto, isso só será possível através de sistemas agrícolas de base ecológica, de modo especial a Agroecologia, o que implica em sistemas complexos de policultivos. Mas alimergia não é só um novo conceito, procurando unir, em um processo produtivo integrado e sistêmico, alimentos, meio ambiente e energia. É um novo paradigma (jeito de ver o mundo), necessário para responder aos desafios e às exigências objetivas que a comunidade humana e a sobrevivência da vida da biosfera colocam em termos energéticos, alimentares e ambientais, para o presente e, dramaticamente, para a construção do futuro.” (MPA 2007)