Nota do Quilombo Raça e Classe sobre desocupação truculenta na Aldeia Maracanã

Na última sexta-feira (22), mais 50 homens do batalhão de choque, cercaram o prédio que abrigava o antigo Museu do Índio, ocupado por índios desde 2006, também conhecido como Aldeia Maracanã. A ordem era cumprir um mandado de desocupação expedido pela Justiça Federal no dia 15 de março.

O prazo para os índios habitantes da Aldeia deixarem o espaço era até o dia 21. Entretanto, os indígenas não o cumpriram, pois, até então, o governo do estado não havia se proposto a dialogar, enviando sempre o quinto escalão depois de ninguém!

O Rio de Janeiro, conhecido como cidade maravilhosa, acordou feio diante da iminente ameaça a quem há muitos anos, ou melhor, séculos, vem sendo explorado, oprimido, exterminado e ameaçado: o povo indígena. O estado criminalizou e criminaliza o índio, assim como sua cultura, suas origens e suas terras, e, para isso, age com truculência. Busca uma sociedade sem índios, nem negros e aposta no extermínio, na colonização, na miscigenação.

A Aldeia Maracanã não era simplesmente um espaço de moradia para os indígenas – quando necessitavam sair de suas aldeias, seja para venderem suas mercadorias ou estudarem – mas um espaço de interação cultural entre indígenas e não indígenas, fundamental para a preservação da cultura, da memória e principalmente da socialização natural e espontânea entre as pessoas.

No dia 21, por volta das 10h, o representante dos Direitos Humanos da União, Daniel Macedo, propôs aos índios, pela primeira vez, uma reunião com o governador do Estado e representações das diversas etnias da Aldeia.

Os índios enviaram uma comissão representativa com uma contraproposta à apresentada pelo governo.

 A proposta apresentada pelo governo foi de um aluguel social de R$ 400.00. Outra opção seria os indígenas ficarem alojados em um Hotel Popular – no qual eles só poderiam dormir, pois não é viabilizada a permanência durante o dia. Uma terceira alternativa proposta era que os índios ficassem alojados em um Galpão abandonado, próximo da Quinta da Boa Vista, sem nenhuma perspectiva futura mais concreta em relação ao espaço do Museu, hora reivindicados por eles.

A contraproposta da comissão representativa dos índios seria a avaliação de um engenheiro sobre a possibilidade de ser construído um alojamento no próprio espaço da Aldeia, enquanto o governo realizasse as obras de restauração do Prédio do Museu do Índio. Outra proposta seria de que os índios pudessem ficar alojados no Prédio vazio ao lado, pertencente ao Ministério da Agricultura, que fica no mesmo espaço da área do Museu.

Contudo, a proposta apresentada pelos indígenas sequer foi analisada. Ao contrário, para a surpresa dos índios, eles foram recebidos com uma proposta já formatada e definitiva, que, de acordo com o membro do SEAS-DH, Zaqueu da Silva Teixeira, previa como única alternativa aos índios deixar o local. O prazo dado foi até as 6h de sexta-feira (22). A força policial foi acionada para retirá-los. Este foi o discurso de negociação, ou seja, a truculência!

A população carioca tem acompanhado nos últimos anos as políticas de um “governo Ditador”. Sergio Cabral e Eduardo Paes fazem a remoção nas favelas, a militarização destes mesmos espaços e artificializam as soluções. Governos que seguem nesta mesma artificialidade quando se trata da educação e da saúde pública, quando se trata de solucionar o drama dos desabrigados das enchentes, dos desempregados, de garantir os direitos da classe trabalhadora, enfim a lista é infindável – A qual, merecidamente, é encabeçada também pela gestão do governo federal de Dilma!

Infelizmente, na sexta-feira, a exemplo do ocorrido a pouco mais de um ano em São José dos Campos/SP, no Pinheirinho, presenciamos mais um despejo para beneficiar os mega empresários e os mega eventos, de forma truculenta, violenta e arbitrária e tremendamente imoral, desrespeitando seus primeiros e legítimos habitantes.

Por mais que os governos e muitos meios de comunicação contribuam para criminalizar e deturpar a realidade dos fatos, dos objetivos e dos interesses desses povos originários, índios e negros continuam sua luta e compõem majoritariamente este país.

Os Índios, assim como a população quilombola, também povos originários destas terras, não só são exemplos de resistência e de luta contra todos os tipos de sociedade opressora e exploradora. Mas são exemplos de que é possível uma sociedade mais justa e igualitária, onde não haja opressores, nem oprimidos, exploradores, nem explorados!

Com informações de Maristela Farias, do Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe.

http://cspconlutas.org.br/2013/03/nota-do-quilombo-raca-e-classe-sobre-desocupacao-truculenta-na-aldeia-maracana/

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