Clima é de apreensão entre índios na Aldeia Maracanã

Grupo tem até 18 horas para deixar o prédio. Defensoria pública já entrou com recurso e espera reverter ordem de despejo

Aldeia Maracanã: clima de apreensão entre indígenas (crédito: Pedro Carrion)

O Globo

RIO – O clima é de apreensão na Aldeia Maracanã, Zona Norte, na manhã desta segunda-feira. Com a chegada do fim do prazo dado pelo Justiça para desocupação do prédio, os índios que estão no local aguardam uma possível reversão da decisão judicial. Segundo o defensor público federal Daniel Macedo, titular do 2º Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva da Defensoria Pública da União (DPU), na sexta-feira a defensoria interpôs um agravo de instrumento, com pedido de liminar, com o objetivo de rever a decisão de despejá-los do prédio. E o grupo espera que um desembargador julgue o caso ainda nesta segunda-feira. De acordo com o defensor público, além dos índios, outras lideranças de movimentos sociais já estão se reunindo, numa vigília. Ele teme que haja um “embate físico”, caso a decisão do juiz de primeira instância seja mantida e polícia chegue para despejá-los. Eles têm até as 18h para deixar o prédio.

Na sexta-feira, o grupo se revoltou após receber a notificação de imissão de posse, entregue por um oficial de justiça. Como protesto, fizeram cinco pessoas reféns, inclusive a subsecretária estadual de Direitos Humanos do Rio, Andréa Sepúlveda, que foi liberada, junto dos outros reféns, no mesmo dia. Na manhã desta segunda, 20 pessoas permanecem no prédio. Além de índios, há cinco pessoas que parecem ser do movimento punk, mas não querem falar com a imprensa.

— O prazo de 72 horas só acaba no final desta segunda-feira, então, se nada mudar, eles podem continuar lá ainda hoje. Estamos muito preocupados porque os índios já manifestaram que vão resistir. Uma situação que pode se agravar, já que, além dos índios, outras pessoas estão se juntando ao movimento— disse o defensor, que aguarda uma decisão da Justiça a qualquer momento.

Segundo o defensor público, a posição de resistência dos 75 índios da Aldeia Maracanã é motivada pelo medo do futuro.

— O governo do estado propôs retirá-los de lá e mandá-los para um hotel, que recebe moradores de rua, com direito a três refeições diárias. Só que índio não come quentinha. Além disso, o governo prometeu enviá-los para um futuro centro de referência indígena, mas não informou o local exato onde ele será construindo, o tamanho, nem quando. Tememos que eles sejam esquecidos neste hotel e depois acabam sejam largados nas ruas — argumenta o defensor público.

Daniel Macedo acredita que, se a proposta do governo estadual fosse mais detalhada (com informações mais exatas do tamanho do local e do endereço, por exemplo), os índios estariam mais propensos a aceitar um acordo.

— Eles ocupam aquele prédio desde 2006 e deram vida a um local onde eram praticados crimes. Agora são tratados como bandidos pelos mesmo governo que os incentivava a realizar eventos culturais ali — diz o defensor.

Compartilhado por Sandra Sagrado

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