Pressão imobiliária leva entidade representativa da comunidade negra a buscar nova sede
Quando estava prestes a completar 140 anos de atividades, no final de 2012, a Sociedade Floresta Aurora começou a viver mais um capítulo crucial de sua existência. Fundada em 31 de dezembro de 1872, uma das mais importantes entidades representativas da comunidade negra da Capital vai, mais uma vez, mudar de endereço. A Floresta Aurora não suportou a especulação imobiliária nem a pressão de moradores de condomínios do bairro Pedra Redonda e vai para outro lugar, em sede no bairro Belém Velho, também na zona Sul da Capital.
Fundada por negros forros para ser entidade para arrecadar fundos para o caso de óbitos, a Floresta Aurora tinha como uma das primeiras lideranças a escrava Maria Chiquinha. Ela organizava reuniões no bairro Floresta, nas proximidades da rua Aurora, hoje Barros Cassal.
A entidade passou, depois, pela José do Patrocínio e Lima e Silva, na Cidade Baixa, e ficou durante muito tempo na Curupaiti, bairro Cristal. Para dar lugar a um condomínio residencial, o clube deixou esta sede em 1998 e se instalou na Coronel Marcos, 527, área extensa com saída para o Guaíba, em ponto onde outros clubes também estão. Ali ficará até junho, quando terá de ir para nova sede.
A presidente da entidade, Maria Eunice da Silva, explicou que não teve outra alternativa, senão a mudança. Com certa resignação, disse que a Floresta Aurora vinha sendo pressionada a fazer isolamento acústico ou sair do local por moradores de um condomínio lindeiro ao clube, construído anos depois de a entidade se instalar naquele local. Eunice revelou que o clube foi multado devido ao barulho em uma festa de réveillon e por duas reincidências, em valor correspondente a R$ 104 mil. Segundo ela, outros clubes da região também estariam sofrendo restrições, mas nenhuma na forma como ocorreu com a Floresta Aurora.
Os recursos da entidade se originam da mensalidade dos cerca de 4 mil associados e aluguel da sede. E são insuficientes para quitar a dívida e fazer o isolamento acústico, argumentou a presidente. Ela pagou com recursos próprios os R$ 104 mil e teve que optar pela venda do local, para reaver o dinheiro e deixar a entidade sem dívidas.
A saída foi fazer a permuta da atual sede com uma nova, no bairro Belém Velho, cujo endereço ela não revelou. Trata-se de área também com piscina e instalações para os eventos do clube. Além da troca das sedes, o novo proprietário da área da Coronel Marcos dará uma compensação financeira ao Floresta, suficiente para quitar suas dívidas.
A presidente da Sociedade Floresta Aurora atribuiu a pressão ao poder econômico. E disse também ter identificado preconceito racial no episódio. “Mas essa era a alternativa, já que qualquer evento incomodava os moradores”, concluiu.
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Enviada por Virgínia da Rosa.