Sete e trinta da manhã. Estamos no carro de Lázaro Ramos em uma das ruas principais do bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro, onde o artista mora. Aproveito que estamos parados em um sinal de trânsito para brincar com o ator e me referir ao horário em que a entrevista foi marcada: “Horário acintoso”, digo-lhe. Lázaro, em resposta, dá uma gargalhada divertida e se desculpa com o mais simpático dos sorrisos. Aproveita também para fazer um comentário espirituoso. “Poxa, o trânsito está bom, vamos chegar rápido ao Projac”, prevê, rindo mais uma vez. “Por favor, não torça por isso”, exclamo apreensiva. “Preciso ter tempo para, até chegarmos lá, terminar esta entrevista.” “E ainda por cima tenho que dividir a atenção de Lázaro com a direção do automóvel. Será que vai dar certo?”, questiono, em silêncio. Foi dessa forma inusitada que RAÇA BRASIL conseguiu realizar uma deliciosa e inteligente entrevista com ele que é considerado um dos atores mais talentosos de sua geração.
Aos 34 anos, pai de João Vicente, seu filho com a atriz Taís Araújo, Lázaro Ramos vive atualmente na telinha o Zé Maria, ou Zé da Navalha, como seu personagem é conhecido nos círculos de capoeira, um jovem homem negro que toma para si os sonhos e as utopias do seu povo. Homens, mulheres, jovens e crianças descendentes de escravos que, recém-libertados naquela primeira década do século 19, desejam caminhar “lado a lado” – como sugere o título da novela das seis da Globo -, em igualdade de condições com os demais cidadãos do país. Isto, naquela ainda incipiente condição de negros libertos, sem direito à prática da capoeira, ainda proibida nos anos 1910, mas criativos e potentes o suficiente para criar as bases de uma das manifestações culturais mais expressivas e atualmente conhecidas no mundo inteiro: o samba. Além de empreender muitos embates importantes que saltaram dos livros de História e tomaram a ficção. (mais…)
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