Justiça determina medidas urgentes em relação à saúde indígena no Alto Rio Negro

Aldeia hupda em São Gabriel da Cachoeira, onde surto de virose matou duas crianças em janeiro (Danilo Paiva Ramos/Freelancer)

Ações de emergência em aldeia com surto de virose e contratação de nove médicos para atender a região são alguns dos pedidos feitos pelo MPF/AM e atendidos pela Justiça

Acritica.com

Os indígenas hupda, da comunidade Taracuá-Igarapé, localizada em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros a noroeste de Manaus), deverão receber visitas diárias e semanais de profissionais de saúde até que se encerre o surto de virose que já vitimou duas crianças e deixou pelo menos outras 13 pessoas da etnia doentes.

A determinação é um dos pontos da decisão liminar concedida pela Justiça Federal, a partir de pedido urgente do Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM), em que o órgão relatou a gravidade da atual situação dos mais de 30 mil indígenas da região do Alto Rio Negro.

No último dia 25 de janeiro, o portal acrítica.com publicou matéria sobre as mortes de duas crianças da etnia hupda devido ao surto de virose. A matéria foi anexada ao pedido de providências à justiça que o MPF/AM enviou no último dia 30 de janeiro à justiça.

A decisão liminar inclui, ainda, a determinação à União para que adote medidas urgentes em relação ao atendimento de saúde indígena em toda a região abrangida pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Negro (DSEI Alto Rio Negro). Em acordo com o solicitado pelo MPF/AM, a Justiça determinou a contratação de mais nove médicos para atuar na região no prazo de 60 dias.

Também foi ordenada a criação de um canal de comunicação avançado com todas as aldeias em que há agentes indígenas de saúde, para tornar mais rápido o deslocamento de pacientes e evitar mais mortes por demora no atendimento aos doentes.

O pedido de providências à Justiça foi apresentado pelo MPF/AM no último dia 30 de janeiro, como parte da  Ação Civil Pública nº 7111-24.2010.4.01.3200, ajuizada pelo órgão em junho de 2010. Diante de novos fatos demonstrando a precariedade do atendimento em saúde na região, inclusive com relato de mais mortes, o MPF/AM solicitou a reapreciação dos pedidos feitos na ação, que haviam sido negados anteriormente. A ação segue em tramitação na 1ª Vara Federal no Amazonas.

Viagem da equipe

Conforme a decisão liminar, a União também deverá promover deslocamentos mensais das equipes de odontólogos às aldeias e comunidades a partir de fevereiro de 2013, mediante o fornecimento de combustível e insumos suficientes, e providenciar a manutenção de estoque regular de combustível e de meios de transporte no DSEI Alto Rio Negro, para possibilitar o deslocamento das equipes e dos pacientes sempre que necessário.

Em caso de descumprimento, a Justiça Federal prevê a aplicação de multa diária que pode variar de R$ 10 mil a R$ 30 mil para cada item da decisão, contra a qual ainda cabe recurso.

Precariedade

O procurador da República Julio José Araujo Junior destacou que os problemas enfrentados pelos indígenas do Alto Rio Negro para ter acesso ao atendimento em saúde já são alvo de preocupação e atuação do MPF/AM desde 2010.

“Dessa vez, além dos relatos e informações que demonstram a urgência no atendimento dos povos indígenas da região, apresentamos documento em que um gestor do DSEI reconhece a precariedade do serviço prestado. Essa situação vem piorando, com mais e mais mortes a cada ano por demora ou absoluta falta de atendimento. O MPF não pode concordar com tanto descaso”, completou.

Para o procurador, as características geográficas do Amazonas e a distribuição populacional dos indígenas no Estado requerem atenção especial da União para a garantia da prestação mínima dos serviços de saúde indígena e não podem servir de desculpa para a má prestação do serviço.

“No caso das comunidades indígenas, que ficam distante dos centros urbanos da cidade, a maioria com acesso apenas via fluvial, é ainda mais difícil. Mas o DSEI possui meios e recursos para prestar o serviço de forma mais efetiva, o que não vem ocorrendo ”, disse.

Dia D

A preocupação do MPF com a situação da saúde indígena no Brasil motivou a realização, 10 de dezembro de 2012, do “Dia D da Saúde Indígena”. A data foi marcada pelo ajuizamento de ações e expedições de recomendações pelas unidades do MPF em vários Estados para combater os problemas relacionados à saúde indígena.

No Amazonas, três ações civis públicas foram ajuizadas e 15 recomendações foram expedidas. Em duas das ações ajuizadas,  referentes ao abastecimento de medicamentos no próprio DSEI Alto Rio Negro e à reforma da Casa de Saúde do Índio de Lábrea, no sul do Estado, já tiveram os pedidos de liminar concedidos pela Justiça. A terceira ação aguarda decisão judicial.

http://acritica.uol.com.br/amazonia/MPF-Alto_rio_Negro-hupda-saude_indigena_0_859714060.html

Enviada por Elaíze Farias.

Comments (1)

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.