Neofascismo?, por Miguel Baldez

Fascismo? Um novo fascismo? Um renovado fascismo inspirado no cruel e violento fenômeno do século XX, vindo lá da cultura política capitalista da Europa mas que se propagou mundo afora e que, aqui no Brasil, teve sua primeira versão ainda na década dos anos 30, época de Vargas, com a imposição do Estado Novo, e, mais tarde, recentemente, pelo aprimoramento da tortura, ainda doída no corpo dos democratas, uma nova e mais agressiva versão na vergonhosa ditadura militar.

Pois aos democratas parecia encerrada na história do Brasil os formatos do apelo fascista. Coisas do passado, momentos da resistência política do povo que não se repetiriam neste novo século, embora não se devesse esquecer o projeto socialista, aparentemente derrotado pela malfadada exuberância do capital e sua repercussão nos países ditos periféricos como os latino-americanos, principalmente esse nosso bem comportado Brasil.

Diga-se, porém, a bem da verdade, tratando-se da latinidade, que bons exemplos de resistência não nos faltam. Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina estão aí diante de quem queira aprender boas lições de força, postura e valor políticos. Aqui mesmo, admita-se, o povo vai organizando-se e definindo em lutas e enfrentamentos importantes espaços-tempos de cidadania e plenitude democrática.

Mas, de longe embora perto por sua constante presença entre nós, Boaventura de Sousa Santos construiu, entre outras importantes lições, o conceito de fascismo social, nele valendo destacar o apartheid social e o fascismo de insegurança, formas bem destacadas por Boaventura e claramente perceptíveis na realidade institucional imposta aos brasileiros. Pois agora, as autoridades estatais, em macabra aliança entre União, Estados e Municípios contra os pobres, vão aumentando suas práticas fascistas.

Em Belo Horizonte, Dandara vai se tornando um símbolo de resistência. Não se esqueça do massacre de Pinheirinhos, em São José dos Campos, São Paulo, e, no Rio de Janeiro, além dos despejos massivos, sem ou com cumplicidade do Poder Judiciário, é de notar a perda ou extinção dos únicos órgãos institucionais comprometidos com os princípios da Constituição relativos aos Direitos Humanos, em desumana sequência que bem significa a consagração do apartheid e o estímulo à insegurança desta nossa gente historicamente excluída. Primeiro, o afastamento de Célia Ravera do Instituto de Terras, depois a extinção do Núcleo de Terras da Defensoria Pública, e, agora, o risco do afastamento do deputado Marcelo Freixo da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, e, enfim, a perda já efetivada de Leonardo Chaves da Subprocuradoria de Direitos Humanos do Ministério Público do Rio de Janeiro. Por sua atualidade, dá-se destaque ao afastamento de Leonardo Chaves da importante Subprocuradoria de Direitos Humanos. Isso por tratar-se de órgão diretamente vinculado à administração do Governo de Estado.

Creia o Sr. Governador que o  povo já não acha graça em festinhas parisienses recheadas de requebros e improvisadas fantasias. Democracia exige seriedade e comprometimento, esta gente sofrida não aguenta mais despejos massificados, nem violência policial, e, organizada, há de resistir ao corte fascista das práticas oficiais.

Acabou, entendam os senhores do poder. Fascismo, mesmo entre risos, com festas parisienses e insólitos disfarces, nunca mais.
Enviado por Alexandre Pessoa Dias.

Comments (4)

  1. Antonio,

    Olavo de Carvalho é um autor que eu definitivamente repudio, notadamente porque o acho muito incoerente e apelativo em seus argumentos, é comum ele atacar com veemência a fonte e não debater o mérito que lhe é proposto. Não sei a opinião dele sobre o assunto, e concordo com Você que ele vê comunismo em todos os cantos.

    Mas acho que Você não interpretou corretamente meu comentário. Eu disse que o fascismo foi um movimento de ESQUERDA – e foi mesmo, isso é fato. Mussolini utilizou o slogan “a terra para quem trabalha”, quando lhe convinha se utilizava da teoria marxista dizendo que “a Itália era uma nação proletária” que precisa se desenvolver economicamente para alçar o socialismo, fazia discursos inflamados contra a burguesia, era intervencionista, estatizante, demonizava o Cristianismo. Ou seja, ele era anticapitalista e antiliberal. A tradição da direita é justamente outra: liberal.

    Hitler notoriamente era um homem de esquerda. Mas como a esquerda “detém o monopólio” das boas ações do mundo, é praticamente impossível que algum esquerdista assuma isso. Ora, mas Ele, que pregou a intolerância, como pode ser? Sim, Ele era de esquerda. Se tem alguma coisa que a esquerda faz bem é revisionismo histórico, conseguiram, com êxito, jogá-lo para direita.

    Desafio Você a ler a biografia abaixo indicada. Se concluída a leitura Você ainda mantiver a sua crença de que Ele era de direita, dai eu passarei a duvidar de sua capacidade intelectual:

    Mein Kampf, Adolf Hitler;
    Mussolini: a biography, de Denis Smith;
    Hitler, de Joachim Fest;
    The nazi conscience, de Claudia Koonz;
    Why Hitler came into power, de Theodore Abel;
    Mussolini and Fascism:the view from América, de John Patrick Digginis;

    Tem muito mais coisa, mas os indicados acima já são o suficiente para um início digno.

    Abs.

  2. Obrigada, Antonio! Você conseguiu me fazer dar uma gargalhada num dia particularmente complicado! Y que vengan!

  3. Agora só falta dizer que conhecidos assassinos de comunistas como Hitler, Salazar, Franco, e a trupe da América Latina (Castelo Branco e Pinochet incluídos) eram todos de esquerda. Recomendo parar de ler o “filósofo” Olavo de Carvalho que vê comunistas até no Papai Noel da Coca-cola e comece a ler historiadores e sociólogos sérios.

  4. Há dois pontos importantes a se destacar.
    1º. Dizer que o fascismo advém de um movimento capitalista é um grosseiro desconhecimento histórico. É fato, para aqueles que já tenham estudado a questão, que o fascismo foi um movimento de ESQUERDA. Mussolini, antes de criar a ideologia, era um comunista convicto, fiel admirador de Marx e, ao longo de sua vida política, muito embora não tenha carregado consigo a alcunha de socialista, implementou diversas políticas dessa natureza. Com o antissemitismo, que, em grau menor, também existiu na União Soviética, os esquerdistas começaram dizer que o fascismo seria um movimento de direita – justamente para tentar se distanciar do genocídio cometido.
    2ª Chamar Cuba, Venezuela e Argentina de bons exemplos é piada. Especialmente quanto a Cuba, pelo visto o professor Baldez apoia o “fascismo” dos irmãos Castro, assassinos impiedosos e usurpadores da liberdade alheia.

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