Disco raro de samba gravado por Plínio Marcos vira CD e show

Lauro Lisboa Garcia / O Estado de S. Paulo

Quem quiser saber o nome de Plínio Marcos (1935-1999) nem precisa perguntar para os pagodeiros de um certo lugar. Consagrado autor de clássicos da dramaturgia brasileira, como Navalha na CarneO Abajur Lilás Dois Perdidos numa Noite Suja, ele também foi contundente cronista do homem comum de seu tempo e um aficionado do samba paulista. Um importante registro dessa atividade do teatrólogo sai agora do limbo da memória com o relançamento do raro LP Plínio Marcos em Prosa e Samba, Com Geraldo Filme, Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro. Raro não por ser item considerado “mosca branca” entre colecionadores, mas pelo valor histórico de seu conteúdo e que poucos conhecem.

Lançado pela gravadora Chantecler em 1974, o disco chega enfim ao CD pela Warner, sob a curadoria do músico e pesquisador Charles Gavin, com a colaboração de Aninha Barros, filha de Plínio. “É um registro imprescindível para compreender e discutir a identidade cultural de São Paulo”, assinala Gavin.

Balbina de Iansã é outro disco de Plínio ligado ao samba que Aninha e seus irmãos Kiko Barros e Léo Lama pretendem relançar. Prosa e Samba também deve sair novamente em vinil. “Estamos vendo um esquema na República Checa, para poder fazer o disco lá”, conta Aninha. “Estamos esperando apoio, vamos ver se a Warner se interessa.” (mais…)

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Como a ditadura monitorava Chico, Caetano e outras estrelas da cultura

Lucas Ferraz, de Brasília

O escritor Antonio Callado e a mulher, Ana Arruda, foram os primeiros a serem detidos. Desembarcavam no aeroporto do Galeão, no Rio, no voo 861 da Varig, procedente de Nova York. O oficial de migração, ao identificá-los, comentou: “Eles chegaram. Agora só faltam os dois”.

Horas depois, os dois apareceram: Chico Buarque de Hollanda e Marieta Severo vinham escoltados por policiais dentro de uma Kombi cinza. Coincidentemente, o compositor e a atriz, vindos de Lisboa num voo da TAP, chegaram ao Rio pouco depois de Callado e a mulher.

Os casais se encontraram no subsolo do terminal. Estavam presos, “para averiguações”, sob suspeita de subversão.

“Marieta, sempre despreocupada, olhou para a minha cara e disse: ‘Logo você, que nem viajou para Cuba!'”, recorda Ana.

Marieta conta que a detenção era previsível. “Sabíamos que isso ia acontecer, já esperávamos pela polícia.”

O depoimento à Polícia Federal, ainda no aeroporto, durou mais de três horas. Chico e Callado tinham estado na ilha de Fidel Castro no mês anterior, em janeiro de 1978. As bagagens de ambos foram meticulosamente revistadas. (mais…)

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Atenção: Marinha está proibindo atividade cultural do OLODUM na Comunidade Quilombola Rio dos Macacos

Hoje, 08.07.2012, o Bando de Teatro Olodum, um grupo artístico-cultural, que há 23 anos atua em Salvador, no Brasil e no mundo em defesa de uma ação cultural afirmando os direitos da população negra (é como nós ativistas negras e negros entendemos a atuação deste grupo), por conta da situação de contagem regressiva de um mês para assegurar os direitos, inclusive de expressão, da Comunidade Quilombola Rio dos Macacos, foi mobilizado pelo CDCN e organizações apoiadoras da luta de Rio dos Macacos para fazer uma apresentação em e pelo seu território.

Vale ressaltar que o Bando de Teatro Olodum, em 6 de fevereiro do ano corrente, foi um dos primeiros grupos artísticos no Brasil a se pronunciar em defesa dos direitos de Rio dos Macacos, como grupo residente do Teatro Vila Velha, uma experiência de artistas baianos que há 46 anos se manifesta pela afirmação da democracia efetiva no Brasil. Portanto, mantendo sua coerência desde o início, agora, num momento de agonia da comunidade, onde há muita tensão pela decisão do juiz, quanto à sentença de desocupação de seu território em 01 de agosto/2012, o Bando novamente se manifesta, como fez em Ato Público com diversos artistas, em 06 de fevereiro de 2012, no Vila Velha. (mais…)

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Juventude e mobilidade

Campos sociais da religião, da linguagem e da política passam por forte pressão para mudança no mundo contemporâneo, afetando sobretudo os jovens. Vencer a apatia é o grande desafio

J. B. Libanio

Juventude e mobilidade soam pleonasmo. Ninguém muda tanto e tão rapidamente como o jovem. A juventude de hoje insere-se, de modo plural, no movimento que agita vários setores da vida da sociedade, como a religião, a linguagem e a política.

No lapso das últimas décadas, assistimos, no mundo religioso da juventude, a profunda transformação paradoxal. Partiu-se, no caso do Brasil, de prática predominantemente católica tradicional. A família gozava ainda de estabilidade e transmitia espontaneamente práticas religiosas aos filhos e esses as seguiam, pelo menos, até atingirem a idade madura. A cultura circundante tradicional protegia a continuidade na fé. Havia crises e abandono precoce da religião, mas não se configurava fenômeno amplo.

Na década de 60, atravessaram o mundo jovem surtos de rebeldia social e religiosa. Os Beatles na Inglaterra quebraram ritos tradicionais não só na música, mas no trajar, no comportar-se social e religiosamente. Rodaram pelo mundo frases da entrevista de John Lennon em que ele ousara dizer: “O cristianismo vai desaparecer e encolher. Eu não preciso discutir isso, eu estou certo e eu vou provar agora. Nós somos mais populares que Jesus agora, eu não sei qual será o primeiro – o rock ‘n’ roll ou o cristianismo. Jesus estava certo, mas seus discípulos eram grossos e ordinários”. (mais…)

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Gracias a la vida

Francisca Gavilán dá vida e emoção a Violeta Parra, em atuação plena de verdade humana

João Paulo

O filme Violeta foi para o céu, de Andrés Wood, é um desses momentos que nos fazem crer no cinema. Contar a vida da cantora, compositora e artista plástica chilena Violeta Parra poderia ser motivo para todo tipo de arte. Sua vida cabe numa canção, num romance, numa peça de teatro. No entanto, ao levar para a tela a biografia escrita pelo filho de Violeta, Angel Parra, o diretor fez aquilo que cabe ao cinema e nenhuma outra forma de expressão: deu vida à artista.

Andrés Wood já havia mostrado talento e força em Machuca, seu filme anterior, marcadamente político, centrado nas disputas ideológicas entre a esquerda e a direita chilenas no movimentado início dos anos 1970, que seriam cortados a bala em 1973, com a morte de Salvador Allende. Era de se esperar que seu filme sobre Violeta, retrocedendo um pouco no tempo, buscasse inspiração política que desse à personagem sua ancoragem no tempo. O cineasta preferiu iluminar a mulher. (mais…)

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Depoimento: Velho Chico, santo Chico

Por Roney Garcia – Subeditor do Caderno Gerais

Atracado no porto de Pirapora, o Gaiola solta seu grito. Não é mais o canto imponente que o Benjamin Guimarães entoava nas primeiras décadas do século 20, convidando passageiros a embarcar para uma viagem de 1.370 quilômetros rio abaixo, até Juazeiro, na Bahia. Soa como um tipo de lamento, misto de vapor e nostalgia, que a embarcação, transformada em espécie de museu flutuante, usa para avisar sobre a próxima partida, para modestos 18 quilômetros cumpridos em três horas. Pode também ser interpretada como uma dolorida homenagem ao Velho Chico, que desde a década de 1920 serve de estrada agora cada vez mais curta ao vapor construído no Mississipi (EUA) em 1913. (mais…)

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MG – Estado lança 1,7 bi de litros de esgotos por dia em seus mananciais

Flávia Ayer

Governador Valadares e Congonhas – Noca não é de muitas palavras. Chega à beira do córrego preto e mal cheiroso, “lava” as mãos e atravessa sem render conversa. “Tem água bem mais suja que essa, moça”, diz, ao alcançar a outra margem do Ribeirão do Onça, tributário do Rio das Velhas para onde escorrem dejetos da capital e de Contagem. O ribeirinho, morador da Região Norte de BH, é a imagem de uma Minas Gerais que deu as costas ao esgoto e relegou seus cursos d’água a poços de imundície, crente que o impasse acabaria quando o rio seguisse seu curso. Apesar de a mortandade de peixes e a inviabilidade de mananciais serem problemas reais, o estado ainda não desviou 1,7 bilhão de litros de detritos – volume informado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis) – lançados diariamente rumo aos mesmos rios elençóis freáticos que fornecem água de beber aos 19,5 milhões de mineiros. (mais…)

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Em 56 anos, Rio São Francisco perdeu mais de um terço da vazão

Extração de sedimentos se tornou ocupação para a população ribeirinha no município de São Francisco

Luiz Ribeiro

São Francisco, Bocaiúva, Montes Claros e Francisco Sá – Foi-se o tempo em que o pescador no São Francisco podia se gabar de tirar das águas surubim de 40 quilos em barco de grande porte. Aliás, foi-se o tempo em que se navegava tranquilamente pelo Velho Chico, que perdeu mais de um terço de sua vazão (35%) ao longo de 56 anos, entre 1948 e 2004. As conclusões são do estudo do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), no Colorado (EUA), e estão no último relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobreo Rio da Integração Nacional. Estão também no dia a dia dos ribeirinhos, que, sem peixe, agora “pescam” areia no fundo do leito. O documento do TCU traz recomendações ao governo federal para apressar a revitalização do leito, tomada por bancos de sedimentos em vários pontos de sua calha. (mais…)

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Velho Chico tem afluentes secos, esgoto e sedimentos [em lugar de peixes]

Dirceu, no meio do rio e com água na cintura. De pescador a vendedor de areia: "Coisa do desmatamento"

Luiz Ribeiro

O alerta do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco é percebido no dia a dia de cerca de 70 trabalhadores que aprenderam a tirar seu sustento da areia que se amontoa no leito do rio, na altura do município de São Francisco, no Norte de Minas. Com pás e canoas, os areieiros trabalham praticamente no meio do rio, com a água abaixo da cintura, o que mostra o quanto o Velho Chico ficou raso no trecho.Um desses homens é Dirceu Nunes Souza, de 40 anos, que, mesmo sabendo que o sedimento representa seu ganha pão, lamenta a degradação ambiental: “Isso é conseqüência do desmatamento”. (mais…)

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