Luiz Ribeiro
São Francisco, Bocaiúva, Montes Claros e Francisco Sá – Foi-se o tempo em que o pescador no São Francisco podia se gabar de tirar das águas surubim de 40 quilos em barco de grande porte. Aliás, foi-se o tempo em que se navegava tranquilamente pelo Velho Chico, que perdeu mais de um terço de sua vazão (35%) ao longo de 56 anos, entre 1948 e 2004. As conclusões são do estudo do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), no Colorado (EUA), e estão no último relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobreo Rio da Integração Nacional. Estão também no dia a dia dos ribeirinhos, que, sem peixe, agora “pescam” areia no fundo do leito. O documento do TCU traz recomendações ao governo federal para apressar a revitalização do leito, tomada por bancos de sedimentos em vários pontos de sua calha.
O curso de seus 2,8mil quilômetros começa na Serra da Canastra, em Minas, estado onde estão concentrados 70% dos moradores. No território mineiro estão também 10 importantes tributários – entre eles Paracatu, Velhas, Verde Grande e Paraopeba –, que nem sempre levam ao Rio da Integração Nacionalo que ele de fato merece.
Segundo o Panorama das Águas Superficial de 2012, divulgado mês passado pela Agência Nacional de Águas (ANA), a Região Metropolitana de Belo Horizonte contribui com 30% da carga de esgoto remanescente nas águas do São Francisco. Em outra vertente de agressões, o aumento dos processos erosivos levou cursos d’água a secar e mudou o ambiente. “O assoreamento nos trouxe um rio com ecossistema modificado e grande perda na quantidade de peixes. A navegação ficou absolutamente prejudicada e hoje já não épossível mais sair de Pirapora rumo a Juazeiro (BA)”, lamenta Geraldo Santos. (Com Flávia Ayer)