Pedro Carrano, de Curitiba (PR)
O final de 2011 na capital reservou aos paranaenses um sol e um calor incomum nesse ano. Mas, para além das vacilações climáticas, o que mais espantou nesse mês de dezembro foram as diferentes medidas que atingiram diretamente o movimento sindical e popular, vindas do governador Beto Richa (PSDB) e também da prefeitura de Curitiba.
Nesse mês, após a aprovação do Projeto de Lei que autoriza no estado as Organizações Sociais (OSs), à revelia do protesto de mais de 350 pessoas que ocuparam a Assembleia Legislativa do Paraná; e com a aprovação das Parcerias Públicos-Privadas (PPPs) no estado, o final do ano em Curitiba reserva agora a negativa do prefeito Luciano Ducci (PSB), do mesmo grupo político do governador, em sentar na mesa de negociações com os servidores/as municipais da área de saúde. A intransigência chegou a ser pautada nos noticiários nacionais.
Os servidores se auto-intitulam “excluídos” e se mantém em mobilização em que pese a proximidade das festas de fim de ano. Estão paralisados há duas semanas, em torno da reivindicação pela jornada de 30 horas de trabalho semanal, já conquistada por outros segmentos da categoria, como os enfermeiros. Os servidores expõem que Ducci concedeu as 30 horas para 88% da categoria da saúde e que apenas a vontade política seria necessária para incluir os 12% restantes.
A avaliação de Juliana, integrante do Comando de Greve, é de que os servidores municipais na área da saúde não se mobilizavam há algum tempo e se unificaram na demanda pela redução da jornada para 30 horas. Nisso, a prefeitura atendeu a pauta apenas para alguns segmentos, buscando assim dividir o movimento, ao deixar cinco profissionais de fora, entre psicólogos, nutricionistas, profissionais de Educação Física, entre outros. Daí o nome de excluídos.
Desde então, consultórios instalados na rua, passeatas, carros de som com paródias de marchinhas de carnaval e letras de funk: o movimento tem lançado mão de diferentes táticas para denunciar a prefeitura. Certamente, a que mais incomodou até o momento é o “Café com “Ducci”, quando os manifestantes fazem o desjejum frente à casa do prefeito, localizada no abastado bairro do Batel. O prefeito, que se lançou na política sobre o signo de professional de medicina, tem evitado o contato com esses profissionais da saúde.
“Eles querem jogar essa negociação para abril, quando sabemos que é ano eleitoral e há limitações no orçamento (…) A postura do prefeito é de ‘vamos ignorar eles’, para que o movimento não tome repercussão. Estão pagando um dinheiro absurdo para laboratórios particulares fazerem análises que seriam do laboratório municipal. Não estão divulgando isso para a imprensa – é o dinheiro do contribuinte que vai para o ralo -, justamente para minimizar os efeitos da nossa greve e não abrir para negociação. Eles esperam que a gente canse, mas o pessoal aqui não vai desistir”, afirma Juliana.
No começo do décimo terceiro dia de greve dos “excluídos”, após montarem acampamento em frente à prefeitura, eles tiveram três barracas destruídas pela chefia da Guarda Municipal. Em que pese a ação da direção da GM, boa parte dos guardas se mobilizam no mesmo sindicato, comum aos servidores municipais da saúde, o Sismuc.
Depois, os trabalhadores acampados no gramado da prefeitura foram ameaçados de serem retirados à força do local. A ameaça não se concretizou devido à cobertura midiática, informa o sindicato. No momento, os servidores se mantém acampados frente à prefeitura, aguardando a mesa de negociação, sinalizada até o momento para sexta-feira (dia 13).
O sindicato denuncia que o prefeito Luciano Ducci paga a mais para fazer exames em laboratórios terceirizados como forma de atenuar o impacto da paralisação. Aberto, o custo desse exame no laboratório municipal é de R$ 1,87. Mas o pagamento efetuado pela Prefeitura é de, pelo menos, R$ 11,60 pelo mesmo exame, de acordo com tabela do SUS para laboratórios credenciados. (com Sismuc).
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