Da Direção Nacional do MST
É com um sentimento profundo de tristeza e de grande dor, que informamos a perda do companheiro Egídio Brunetto, dirigente do MST que atuava no Mato Grosso do Sul, em um acidente na rodovia MS 164 (que liga o município de Maracaju a Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai), na tarde desta segunda-feira (28/11), quando ele se dirigia ao assentamento Itamaraty.
Egídio foi um ser humano muito especial. Filho de camponeses sem terra, trabalhou desde a infância na roça e, sempre muito esperto e indignado, envolveu-se com a pastoral da terra na região de Xanxerê, em Santa Catarina, e se transformou em militante do MST desde a década de 80.
Desde então, contribuiu com a organização do Movimento em todo o país e com as lutas dos trabalhadores rurais pela terra, pela Reforma Agrária e por transformações sociais.
Militante exemplar, preocupava-se sempre com os cuidados de cada militante. Foi uma pessoa generosa e solidária com todos.
Egídio empunhou a bandeira do internacionalismo e da solidariedade às luta dos povos e da classe trabalhadora, responsável pela relação do Movimento com organizações camponesas na América Latina e no mundo, sendo fundador da Via Campesina Internacional (na foto, Evo Morales e Egídio)
O MST e o povo brasileiro perdem um grande companheiro e um ser humano exemplar, um guerreiro Sem Terra que andou pelo mundo, construindo alianças com a classe trabalhadora.
O grande companheiro Egídio nos deixa muitos e belos exemplos de vida, que nos motivarão a seguir o seu legado.
Com muita dor,
Direção Nacional do MST
Velório
O velório será nesta terça-feira (29/11), o dia inteiro, em Campo Grande, na secretaria do MST. O endereço é rua Juruema, 309, bairro Taquarucu. No fim da tarde, o corpo será levado de avião para Chapecó, em Santa Catarina. À noite, o velório será na Cooperunião, em Dionisio Cerqueira. O enterro será na manhã do dia 30.
Abaixo, leia texto de Egídio Brunetto, na edição do Jornal Sem Terra número 289, de janeiro/fevereiro de 2009.
Sobre o internacionalismo e o MST
Por Egídio Brunetto
MST/MS
E difícil e também muito bonito aprofundar o tema do internacionalismo. Tentar resgatar sua essência e principalmente desenvolver uma prática consequente cotidiana. Especialmente agora que completamos um quarto de século e que já vivemos a fase do auge revolucionário, o descenso do socialismo com o ascenso do neoliberalismo, e agora, uma grande crise do capitalismo.
O MST foi desenvolvendo esta prática a partir das lutas internacionais e das contradições da luta de classe também no Brasil. Sem esta prática e este princípio, nós não teríamos a força de hoje.
A prática da solidariedade e do internacionalismo proletário está muito ligada ao surgimento das teorias políticas revolucionárias, que vão dando origem às teorias com caráter classista. Com o surgimento do marxismo, vamos entendendo que nós vivemos em sociedades de classes antagônicas, e isso significa viver em uma luta permanente.
Sempre houve grandes lutas locais nacionais entre povos e muitos exemplos de lutadores que foram defender outros povos em outros países, mas no período mais recente, em que o tema do internacionalismo ganha forte caráter, na medida em que se chega à conclusão que a burguesia é a mesma em toda parte do mundo, é que os trabalhadores teriam que se unir e lutar contra o inimigo comum.
O surgimento da consigna histórica “Operários do mundo uni-vos!”, sintetiza a estratégia da classe a nível mundial e remete às lutas futuras a construção do projeto de libertação da classe.
O surgimento da internacional socialista foi uma das mais importantes ações da classe trabalhadora a nível mundial. E a internacional, o hino da classe trabalhadora, vai ser parte importante da mística dos povos na luta e na unidade.
Solidariedade e lutas
No final dos anos 70 e início dos anos 80, há um movimento muito bonito da lutas internacionais. Temos o exemplo da revolução sandinista, as resistências contra as ditaduras na América Latina, o fortalecimento do socialismo no leste europeu, a vitória do povo do Vietnã contra os EUA. Na África, depois de mais de 500 anos, as colônias foram derrotadas pelos povos africanos. A exemplo também, a luta do povo sul africano contra o apartheid e pela libertação do Mandela, a resistência do povo palestino, e mais recentemente, a luta pela independência no Timor Leste.
O grande exemplo aqui na América Latina é Cuba. Com sua experiência de socialismo de ensinamentos próprios, tem como importante marca de seu internacionalismo a solidariedade com outros povos. Sem igual na história recente! Só na África foram enviados mais de 300 mil militantes, entre os quais Che Guevara e sua filha Aleida Guevara. Destes, mais de 2 mil perderam a vida lutando em defesa do povo africano contra os colonizadores, o imperialismo e o apartheid.
Centenas de estudantes de países pobres tiveram a oportunidade de se formar graças a solidariedade do povo e do governo cubano. São mais de 30 mil médicos em várias partes do mundo.
Portanto, o MST é fruto deste período rico da história da humanidade e procurou aprender os ensinamentos importantes das lutas destes povos.
O MST – sempre com muitas limitações e muita humildade – buscou contribuir na construção de instrumentos capazes de ajudar a articular as lutas continentais e internacionais: o movimento continental dos 500 anos de resistência indígena negra e popular, a organização da CLOC (Coordenadora Latino-americana de Organizações do Campo), a Via Campesina, o Fórum Social Mundial, a luta contra a Alca e os vários comitês de solidariedades espalhados pelo mundo.
Nestes anos, foram mais de 4 mil pessoas que viajaram para os outros países para aprender, levar solidariedade, lutar lado a lado com outros povos, trocar experiências e levar nosso modesto aporte a partir da nossa experiências. Mas o mais importante foi desenvolver em nossa base e com os nossos militantes, milhares de ações no Brasil e em outras terras, a prática em receber de braços abertos exilados peruanos, colombianos, chilenos e de outros continentes que tinham que fugir para não ser mortos.
E com estas ações e gestos, o MST também recebeu, além do reconhecimento público, milhares de ações em outros países em defesa do Movimento. Centenas de visitas para trazer apoio e solidariedade aos nossos militantes e às nossas lutas – que foram fundamentais em nossa construção.
Neste período, os desafios continuam. Nossos militantes vão construindo uma consciência e uma prática que articule as lutas locais com as lutas internacionais, na construção de instrumentos com caráter e estruturas internacionais.
Os 25 anos do nosso Movimento nos exige uma ação internacional mais forte na construção de alternativas revolucionárias socialistas e de exemplo da nossa militância no trabalho, no estudo, na solidariedade, na indignação e fortalecer e construir a ALBA como alternativa dos povos.
Significa a defesa de valores que o mundo vai esquecendo como a defesa da natureza, da biodiversidade, dos alimentos, das sementes, da soberania alimentar como um princípio, da defesa do socialismo como um modo de produção capaz de resolver os problemas da humanidade. Entender e defender que a revolução é o instrumento da humanidade para as grandes mudanças. Entender e praticar o espírito de sacrifício sem o qual não haverão as grandes mudanças. Estar atentos como organização para estar nas grandes lutas e levar solidariedade aos que precisam urgentemente dela.
Fortalecer o intercâmbio com outros continentes e dar uma maior prioridade a África. Estar preocupado permanentemente com a violência que ocorre no nosso continente, onde a todo o momento, o latifúndio continua matando, prendendo e expulsando os camponeses, os indígenas. O internacionalismo também é fazer a luta e a resistência onde a gente mora e vive.
Ser solidário com os governos progressistas, mas também ser críticos com os desvios e ser eternamente gratos e solidários com o povo cubano.
“Operários do mundo uni-vos!”
Globalizemos a luta globalizemos a esperança!
http://www.mst.org.br/node/12710. Enviada por Sandra Quintela para a lista AMS.