Ao falar sobre a turbulenta saída de 51 integrantes do movimento, João Pedro Stediledisse acreditar que grupo radical agirá no meio urbano.
– O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não irá acabar e nem mudará o rumo das suas ações políticas pela saída dos 51 dissidentes. Essa foi a primeira manifestação pública do líder máximo do MST, João Pedro Stedile, sobre o racha que ocorreu na organização, anunciado na terça-feira, durante o encontro estadual dos sem-terra no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, na Região Metropolitana. A reportagem é de Carlos Wagner e Humberto Trezzi e publicada pelo jornal Zero Hora, 28-11-2011.
Na ocasião foi entregue uma carta de 200 linhas enfileirando os motivos pelos quais 51 dissidentes (28 deles do RS) saíram do MST e de outras organizações ligadas aos sem-terra. Stedile passou por Porto Alegre no sábado rumo ao Interior.
– Já tivemos no movimento dissidentes que saíram e se ligaram à direita e agora temos este grupo que vai para a extrema esquerda.
Diferentemente da maioria dos dirigentes gaúchos do MST, Stedile já vinha acompanhando a consolidação da dissidência. A origem do racha, segundo Stedile, foi a aproximação do grupo com sindicalistas dissidentes de Campinas (SP), ligados a sindicatos urbanos. Acredita que esteja em gestação uma organização sindical nova no Brasil que deverá ter o seu foco de ação no meio urbano. Stedile diz que não seria a Conlutas (Central Sindical ligada a partidos de extrema esquerda, como o PSTU), embora essa organização tenha sido a única do gênero a estampar, na capa do site, o manifesto dos rebeldes do MST.
Na opinião de Stedile, existem poucas chances dos 51 montarem uma organização nova no meio rural para disputar espaço político com o MST.
– Tudo indica que irão agir no meio urbano – acrescentou.
Tom ameno para evitar debandada maior
O tom quase conciliador com que Stedile fala sobre os dissidentes surpreende, sendo ele uma pessoa conhecida pelas declarações polêmicas. Mas há uma razão para o tom: ele sabe que o processo de dissidência ainda não terminou. Entre os 51 há figuras como Ivonete Tonin, a Nina, e Irma Ostrovski, a Polaca, que são líderes respeitadas e que estão trabalhando para ampliar a debandada.
Stedile não quis comentar as críticas feitas em ZH, ontem, pelo agrônomo e pós-doutor em Sociologia Zander Navarro, seu companheiro na consolidação do MST, nos anos 80. Zander aponta Stedile como o responsável pela criação de um grupo político dentro do movimento que se mantém no poder graças a práticas autoritárias. E que se fortaleceu economicamente com vínculo ao governo do PT. A carta dos dissidentes faz a mesma acusação.
Durante a semana, a cúpula do MST deverá se reunir no Interior para “lavar a roupa suja” nas chamadas reuniões de avaliação da conjuntura interna. O jogo ainda não terminou. Pela importância dos líderes envolvidos na dissidência, tudo poderá acontecer.
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