Intimidação a indígenas reforça necessidade de intervenção Federal no MS

Cleber Buzatto, Secretário Executivo do Cimi

Na tarde deste domingo (27) um grupo de lideranças Kaiowá Guarani foi abordado e sofreu explícita tentativa de intimidação por parte de fazendeiros e do presidente do Sindicato Rural de Iguatemi, Mato Grosso do Sul (MS). As lideranças estavam acompanhados de dirigentes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), de representantes de entidades de apoio, entre as quais o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), de funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da comitiva do Governo Federal que realiza visita oficial ao estado.

Nem mesmo a presença da Força Nacional de Segurança foi suficiente para intimidar os fazendeiros que, munidos de câmaras fotográficas e de uma “caneta espiã”, passaram a filmar e fotografar ostensivamente as lideranças indígenas, apoiadores e mesmo os integrantes da comitiva oficial. Além disso, o presidente do Sindicato Rural, portando-se como uma autoridade policial, passou a exigir a identificação do coordenador da comitiva, o secretário Nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, ao que se seguiu uma intensa discussão entre ambos.

O presidente do sindicato realizou alguns telefonemas e, em poucos minutos, o prefeito do município de Iguatemi também chegou ao local. Ao ser questionado sobre os motivos pelos quais nenhum membro da prefeitura fora designado para acompanhar a visita à comunidade de Pyelito Kue, o prefeito respondeu que isso não havia sido possível pelo fato da visita estar sendo feita num domingo. No entanto, ao ser questionado sobre as motivações dele próprio ter atendido imediatamente ao chamado dos fazendeiros em plena tarde de domingo, o prefeito reagiu com grande agressividade verbal contra um dos apoiadores dos indígenas. O prefeito precisou ser contido pelos agentes da Força Nacional de Segurança.

Os agentes da Força Nacional identificaram os fazendeiros e o presidente do sindicato rural. Por solicitação das lideranças indígenas, as fotografias que haviam sido tiradas por um dos fazendeiros foram apagadas. No entanto, as filmagens feitas pelo presidente do sindicato rural não foram deletadas, uma vez que o mesmo repassou a “caneta espiã” que portava a pessoas que passaram pelo local numa camionete cor prata.

O episódio ocorreu numa via pública, ao lado da rodovia estadual MS-386, entre os municípios de Iguatemi e Tucuru, ao sul do estado do Mato Grosso do Sul. A comitiva governamental, formada por representantes da Secretaria Geral da Presidência da República e da Secretaria Especial de Direitos Humanos, com as lideranças indígenas e apoiadores, retornava de visita aos indígenas da comunidade Pyelito Kue. Lideranças dessa comunidade relataram que têm sofrido ataques sistemáticos de fazendeiros e seus jagunços. Os mais graves foram realizados no último mês de agosto. No entanto, segundo os indígenas, todos os dias são disparados tiros sobre o acampamento.

Os Kaiowá Guarani que foram filmados pelo presidente do Sindicato Rural de Iguatemi estão muito apreensivos, uma vez que são lideranças de outros acampamentos e muitos deles têm sido ameaçados na região.

O fato ocorrido demonstra a total inexistência de limites por parte desse setor anti-indígena no estado do Mato Grosso do Sul. Se essas pessoas não se intimidam, em plena luz do dia, nem mesmo diante de agentes armados da Força Nacional de Segurança, o que são capazes de fazer, à noite, a indígenas desarmados que vivem em acampamentos e barracos sem o mínimo de proteção e segurança?

Fica cada vez mais nítida a legitimidade e a urgência no atendimento à reivindicação feita pelos Kaiowá Guarani, em Manifesto entregue à comitiva governamental, na tarde deste ddomingo, em que exigem, entre outras medidas, “imediata intervenção Federal no estado do Mato Grosso do Sul” e “proteção às nossas lideranças e comunidades que estão sendo constantemente ameaçadas por grupos paramilitares existentes no Mato Grosso do Sul”.

http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&conteudo_id=5980&action=read

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