Nas salas de aula, temas como respeito à diversidade e campanhas contra o preconceito ganham novos debates e projetos em comemoração ao Dia da Consciência Negra
Giselle Araujo, do Hoje em Dia
Entre várias atividades, uma proposta obteve resultados que mexeram com a vaidade das meninas. Depois da leitura do livro Os Tesouros de Monifa, as monitoras investiram no conceito de beleza da raça. Como em uma parte do livro a adolescente muda de penteado, as monitoras resolveram falar sobre cabelos. “As meninas fazem chapinha porque gostam, ou porque todo mundo faz e ela acaba imitando?”.
Alunas e monitoras promoveram uma sessão de penteado afro. Cleide conta que a experiência foi um sucesso. “Depois disso, cada dia as meninas apareciam com um penteado diferente e criativo”, diz. As garotas perceberam que não é só cabelo liso que fica bonito e passaram a valorizar mais uma característica da cultura negra. “Cada um tem um jeito, temos que respeitar as diferenças”, disse Guilherme Debian, de 10 anos, que participa do projeto.
“A Bonequinha Preta”
Um livro editado pela primeira vez em 1938, e que continua fazendo muito sucesso entre as crianças, foi tema de um projeto da Ramacrisna que encantou os estudantes. “A Bonequinha Preta”, clássico da ex-educadora mineira Alaíde Lisboa de Oliveira (1904-2006), conta a história de uma bonequinha tão bonita que tem duas trancinhas, boca vermelha e olhos bem redondos. “A boneca é de uma menina chamada Mariazinha e fala sobre vários assuntos, como respeito e obediência”, conta Francielly de Menezes Silva, aluna da Escola Municipal Jorge Afonso Defensor, de Betim.
A escola onde Francielly estuda é uma das instituições onde a Ramacrisna levou a bonequinha. “É uma bonequinha preta do tamanho das crianças, que passa o tempo todo viajando, de escola em escola”, explica Francielly. Onde chega, a bonequinha é recebida com curiosidade pelos estudantes, que ficam conhecendo a história do livro. No Diário de Bordo que a boneca leva em cada passeio, as crianças escrevem o que aprenderam ou o que acharam da Bonequinha Preta e sua história.
Além dessa personagem famosa, muitos livros contam histórias de persoangens negros, como o Menina Bonita do Laço de Fita, da escritora Ana Maria Machado e Na minha escola todo mundo é igual, de Rossana Ramos, história de uma escola onde todos os alunos convivem em harmonia, procurando superar diferenças e dificuldades. “Esses livros são muito bons, pois faltam personagens negros na maioria das histórias”, observa Luiz Gustavo de Souza, de 9 anos.
“Os Tesouros de Monifa”
Os Tesouros de Monifa fala do encontro de uma brasileirinha afrodescendente com sua tataravó, Monifa, que chegou aqui vinda do outro lado do oceano, em um navio negreiro. Mesmo escrava, aprendeu a escrever e, por meio das letras que aprendeu, deixou “para os meus filhos e os filhos dos meus filhos” o maior de todos os tesouros que alguém pode herdar. Passado de geração em geração, chega o dia desse tesouro ir para as mãos da gara, que se encanta e se emociona muito ao receber tamanha preciosidade e descobrir a vida da sua tataravó e as próprias raízes.
Cores Diferentes, Direitos Iguais
A reflexão sobre o Dia da Consciência Negra também tomou conta das aulas no Colégio Magnum – Cidade Nova. Com o projeto Cores Diferentes, Direitos Iguais, estudantes do 7º ano refletem sobre temas envolvendo etni,as diferenças de cultura e respeitoa essas mesmas culturas. Segundo o professor de Geografia, Emerson Domingues. “O projeto teve início em 2010 e envolve várias disciplinas”, ressalta o professor.
Para fechar a semana da Consciência Negra, os alunos escolheram versos de grandes poetas, que serão recitados por cada um na próxima terça-feira (22) na escola. Outra atividade é a construção de uma colcha de retalhos, com pedacinhos de pano decorados com frases escritas pelos alunos em referência à cultura negra e igualdade racial.
“Caráter não se mede pela cor da pele” foi a frase escrita pela estudante Luiza Menezes, de 12 anos. “É que nenhum preconceito tem fundamento: todos temos as mesmas possibilidades e qualquer um pode se destacar na vida”, avalia.
Para Henrique Galvão Telles, de 12 anos, o tema merece reflexão constante. “Só assim as pessoas vão entender que todos devem se respeitar, independentemente de qualquer diferença física ou social”, comenta o estudante. “Precisamos dar valor ao que realmente é importante: igualdade, amizade, companheirismo.” João Pedro Esteves Castro, de 12 anos, concorda. “Não é respeitar uma ou outra pessoa, é respeitar o ser humano”, conclui.