Altino Machado, Terra Magazine
Uma comissão de sindicância do Ministério da Educação começa a apurar, a partir desta quinta-feira (17), em Porto Velho (RO), as denúncias de irregularidades administrativas que pesam contra o reitor da Universidade Federal de Rondônia (Unir), Januário Amaral. A sindicância foi determinada pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, depois que professores e estudantes montaram um dossiê de 1,5 mil páginas acusando a reitoria de corrupção e improbidade administrativa.
Professores e estudantes da Unir estão em greve há mais de dois meses exigindo o afastamento de Januário Amaral da reitoria. No começo de outubro, os estudantes decidiram radicalizar com a ocupação do prédio da reitoria, que já dura mais de 40 dias.
Fundada há 29 anos, a Unir possui sete campi no Estado. A principal porta do prédio da reitoria foi tapada com 25 pneus velhos.
Apenas cerca de 300 estudantes que se revezam na “segurança” têm acesso ao prédio, cujos telefones e a energia elétrica estão cortados desde o dia 5 de outubro, quando começou a ocupação.
O fornecimento de água não foi interrompido, mas o gerador de energia funciona com precariedade das 20 horas até às 5 horas da manhã.
– O prédio já foi condenado pelo Corpo de Bombeiros e o gerador alvo de sabotagem. Colocaram areia dentro do carburador, mas conseguimos consertá-lo, embora a bateria usada para acioná-lo tenha de ser recarregada diariamente. Vamos continuar resistindo – disse a estudante de arqueologia Cleiciane Silva.
Dentro do prédio, os estudantes realizam oficinas de música, compartilham conhecimentos e até praticam esportes, especialmente karatê.
– Estamos em greve e ocupamos o prédio da reitoria por ética, dignidade e condições necessárias para que se possa produzir conhecimento em nossa universidade. O que temos é falta de infraestrutura, de gerência digna e responsável, que possa administrar os recursos que vêm para nossa universidade – afirmou Luana Martins, estudante de medicina, que atua como porta-voz dos estudantes que ocupam o prédio.
A Justiça Federal decidiu pela reintegração de posse a favor da reitoria, mas o mandado não chegou a ser executado. A Polícia Federal tentou negociar a desocupação, mas o estudantes exigiram que a imprensa pudesse acompanhar o cumprimento do mandado. A PF não concordou.
O clima de tensão aumentou no dia 21 de outubro quando a Polícia Federal prendeu o professor de história Valdir Aparecido de Sousa, suspeito de ter explodido uma bomba durante uma manifestação. Em liberdade provisória, Aparecido é obrigado a seguir uma série de determinações impostas pela Justiça. Ele não pode, por exemplo, se reunir com os grevistas.
– O clima de insegurança é demais. Nós estamos sendo perseguidos e todos tememos ser presos arbitrariamente. Um acadêmico já foi preso por injúria, mas nós continuamos aqui para salvaguardar os documentos. Nossa maior preocupação é proteger os documentos que estão aqui e que servirão de provas das falcatruas cometidas pelo reitor. Além disso, montamos barricadas dentro do prédio e é por isso que não permitimos nem a entrada da imprensa. Nós não queremos que a polícia saiba como montamos – disse Laura Cabral, outra estudante de arqueologia.
Professores e estudante relatam ameaças de morte, casos de assédio moral, desvios de verbas, improbidade administrativa, corrupção e superfaturamento na contratação de obras.
Os grevistas exigem o afastamento do reitor Januário Amaral para que sejam apuradas, por exemplo, denúncias de irregularidades na universidade e na Fundação Rio Madeira (Riomar), usada para captação verbas para a instituição.
O reitor também é acusado favorecer pessoas de seu círculo em concursos, sem respeito aos editais e departamentos. Além disso, os grevistas acusam o reitor de envolvimento no esquema de desvio de verbas da Fundação Rio Madeira, irregularidades em licitações e contratos e de superfaturamento de compras.
O reitor Janurário Amaral é ligado ao grupo político do senador Valdir Raupp e da deputada Marinha Raupp, ambos do PMDB. Ele tem criticado duramente o movimento dos professores e estudantes e dito que não vai ceder às pressões para deixar o cargo. A reportagem não conseguiu localizá-lo em Porto Velho.
http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=398793