O quilombo do Timbó

José Romero Araújo Cardoso*

O quilombo do Timbó está localizado no agreste meridional pernambucano sob domínio orográfico do Planalto da Borborema, a quase mil metros acima do nível do mar, entre os municípios de Garanhuns e Correntes. Integra verdadeiro cordão de aldeamentos negros que se espalham pelos ermos elevados das alterosas do Estado conhecido como “Leão do Norte”.

O quilombo do Timbó dista cerca de dois quilômetros da Fazenda da Esperança Santa Rosa, onde outrora funcionou sede da FEBEM. Trata-se de testemunho do que em um passado distante foi a grande estrutura social do quilombo dos Palmares, o qual se estendia de Porto Calvo, no Estado de Alagoas, até a cidade pernambucana de Sanharó.

A população do lugar descende de heróicos negros fugidos da ênfase fomentada por Gilberto Freyre à “doçura” dos canaviaias litorâneos, bem como das plantações de fumo e dos currais de gado circunvizinhos. Em épocas pretéritas, as plantações de fumo serviram para implementar o escandaloso escambo por vidas humanas que existiu no continente africano.

O quilombo do Timbó é a afirmação e a resistência, no presente, da grandeza das lutas do povo nordestino. Atualmente, há destaque à louvável iniciativa que vem sendo dinamizada nas artes, sobretudo em esculturas e artesanatos, pois a produção artesanal belísssima do local é significativa, sendo marcada pelo fomento efetivado por associação artística conhecida como Timbó das Artes.

O movimento cultural surgiu intuindo viabilizar as expressões culturais de uma raça historicamente sofrida e relegada ao desprezo incomnpreensível da parte dos poderes públicos e privados. A inspiração artística se alicerça na forma como a história de luta dos negros descendentes de quilombolas foi se concretizando ao longo do tempo.

O sofrimento negro está retratado nas esculturas produzidas por hábeis artesãos. Alguns são de fora do quilombo, pois se casaram com nativos do aldeamento negro, incorporando as tradições do lugar ao modus vivendi individual.

Histórias de lutas e resistências vêm sendo repassadas de geração a geração, pois as peripécias dos grandes e valorosos líderes quilombolas Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares foram imortalizadas graças aos feitos épicos que obstacularam por décadas e décadas as investidas criminosas dos lusitanos, bem como dos seus descendentes e também dos seus agregados, por prolongado tempo da nossa história. Os feitos negros ainda são vistos com olhos enviesados pela oficialidade que insiste em omiti-los de forma mesquinha e inescrupulosa.

Sobre a verdade ainda excluída dos nossos livros didáticos, vale a pena ressaltar a importância que assume oportuno livro de autoria do historiador Francisco Rubens Coelho de Figueiredo sobre as lutas do povo nordestino no inequívoco processo de formação histórica brasileira.

A importância do quilombo do Timbó para a afirmação da identidade negra é extraordinária, pois é absolutamente impossível ficar apático às singularidades da cultura africana que ainda persistem, dignificadas enquanto traços marcantes de um processo de construção coletiva que vem se efetivando há tempos imemoriais.

(*) José Romero Araújo Cardoso, geógrafo, professor-adjunto da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

http://www.turismosertanejo.com.br/novo/index.php?option=com_content&view=article&id=112:o-quilombo-do-timbo&catid=30:coisas&Itemid=30

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