Pedra do Sal tem rodas de samba de perfis distintos na segunda e na sexta-feira

Foto: João Laet / Agência O Dia
Roda de samba da Pedra do Sal (Foto: João Laet / Agência O Dia)

Por Pedro Landim

Rio – Capoeira que é bom não cai. Escorrega, segura o copo e levanta na pedra. Liberdade é busca que atravessa o tempo no pé do Morro da Conceição. Palco de escravos alforriados que viu nascer o samba, a Pedra do Sal, na Gamboa, reúne no novo milênio duas rodas diferentes e público de toda a cidade atrás do prazer em solo sagrado, música boa e gratuita.

“Em qualquer época é preciso respeitar esse chão. Não tocamos qualquer coisa e 99% do que fazemos não está no rádio. Vem gente de todas as tribos, interesse atraído pelo samba”, diz Thiago Torres, 30, do grupo Samba de Lei. Na sexta-feira, ele faz a roda microfonada que vai da ‘Mordomia’ de Almir Guineto ao ‘Canto de Ossanha’, de Vinicius de Moraes.

O público está na faixa dos 35 anos e a roda tem apoio da Bodega do Sal, boteco junto à rocha que vende cerveja, caipirinha, caldos e pastéis de feijoada. “Na segunda-feira, a ‘raiz’ é maior. Não tem microfone, quem puxa é o público. São dias diferentes e maravilhosos”, diz a secretária Marcela Fernanda, 25, do Rio Comprido, que vai a todos os dias de samba com as amigas Antonia e Vanusa.

COQUEIRO DO RITMO

Se o Cacique de Ramos tem tamarineira, e no clube Renascença a caramboleira faz sombra, na Pedra do Sal coqueiro vigia o samba, que frutificou em 2007 com o Batuque na Cozinha. A turma que ainda toca no primeiro dia da semana, com músicos de outros grupos e democracia que inclui jongo e até capoeira, embala noites de público universitário e muitos estrangeiros.

“Há uma energia diferente entre as pessoas”, resume o americano Kenji Matsuoka, 42, traçando espetinho de frango de churrasqueira no alto da pedra. “Tudo começou entre amigos, com músicas que não estavam nos shows. Não usamos microfone ou temos patrocínio. Quem quer ouvir tem que chegar junto”, afirma André Corrêa, do Batuque. E lá estão ‘Barracão de Zinco’ e o ‘Samba do Irajá’ de Wilson Moreira e Nei Lopes. Hoje, os dois grupos mantêm páginas no Facebook, com muitas fotos das noites. Quando as vozes sobem pela pedra em uníssono, o espetáculo é único.

PINTURAS NA PEQUENA ÁFRICA

Se no século 19 o francês Debret já registrava a vida dos escravos na Zona Portuária e arredores da Pedra do Sal, o artista plástico Luis Christello esteve na semana passada desenhando a roda de samba do local para uma exposição. A pedra que tem escada esculpida, na subida do morro, está situada no Largo João da Baiana, homenagem ao sambista que teria colocado o pandeiro nas rodas e por ali já esteve com Pixinguinha e Donga, no célebre quintal da Tia Ciata.

A área foi tombada em 1984 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) e abriga a Comunidade Remanescente do Quilombo da Pedra do Sal. A região foi no passado conhecida como Pequena África, abrigando escravos alforriados e seus descendentes. Como a cozinheira Lucinha, que hoje faz na rua do samba um dos melhores angus à baiana do Rio.

http://odia.ig.com.br/portal/odianafolia/html/2011/10/pedra_do_sal_tem_rodas_de_samba_de_perfis_distintos_na_segunda_e_na_sexta_feira_202837.html

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