Prettu Júnior contra o Estado: uma denúncia

“Num dia desses fui até Vicente de Carvalho pra fotografar uma amiga minha que estava grávida e queria fazer umas fotos bacanas.  O dia transcorria normalmente e eu, entretido em meus pensamentos, peguei o metrô em Del Castilho e, como tinha marcado com uma amiga minha, fiquei na entrada do metrô de Vicente de Carvalho esperando a menina.

Passaram se uns 15 minutos e quando me dei conta estava sendo abordado por um policial branco com voz arrogante me perguntando o que eu tinha na mochila. Disse que tinha uma máquina fotográfica. O mesmo me pediu pra abrir a mochila, o que fiz. Constrangido, mas o fiz.

Ao avistar a câmera – uma Canon EOS, Rebel xsi -, o cara virou-se pra mim e perguntou se eu tinha registro de fotografo. Putz! Fiquei atônito com a pergunta e respondi que não tinha que lhe dar nada disso. Então o xerifão revoltado disse que iria me conduzir à delegacia. Novamente estranhei a atitude do policial. Mesmo sendo negro e tendo sido abordado inúmeras vezes pela policia racista brasileira achei que mesmo pra um policial aquela atitude estava exagerada. Como assim mano! Registro de fotógrafo para poder andar com uma câmera fotográfica?  Não, não era possível; eu estava ouvindo errado.

Na minha utópica inocência decidi ligar para o 190. Isso mesmo. Liguei para a policia para me defender da policia. Putz! Que viagem! Falei com a atendente, expliquei o que estava acontecendo e perguntei se esse procedimento era correto. A atendente, tão atônita quanto eu, disse que não que isso não era possível. Pediu pra eu informar o nome do policial que estava me abordando. Disse o nome, mas logo em seguida fui empurrado pra dentro da viatura por dois brutamontes (brancos; é sempre bom frisar a cor dos agredidos e a cor dos agressores; afinal são sempre os mesmos).

Naquele momento só pensei nos meus filhos Victor e Denner. Então, pressentindo o pior, me recusei a entrar naquele navio negreiro em miniatura.

Encheu de gente indignada, mas ninguém fez nada. Afinal, fazer o quê? Todo dia o direito de algum cidadão negro é lesado nessa cidade; as pessoas já se acostumaram com a covardia. A minha dignidade pode ter salvado a minha vida, pois na viatura já em movimento o xerifão me perguntou com quem eu estava falando. Eu disse que era com 190, e o cara visivelmente irritado mudou a direção; pra onde íamos só Deus sabe agora.

Na delegacia o cara apresentou a sua justificativa e como se tivesse razão disse que me prendeu e algemou por que eu disse que era fotógrafo profissional, mas não apresentei o registro de fotógrafo. Ele colocou isso nos autos! Nem acreditei. Mas a trapalhada não parou ai: um dos policiais que prontamente pediu para tirar a algema de mim depois de ver que eu não tinha antecedentes criminais veio me pedir para deixar pra lá, que isso não daria em nada. O incrível é que mais tarde uma advogada que uma ONG me indicou e que se diz defensora dos direitos humanos me disse algo parecido. Porra, que droga de mundo é esse?

Eu imediatamente disse que não e que iria pro pau, pois eu estava sendo vitima de racismo. Claro não registraram queixa contra os policiais e agora eles, os policiais racistas, estão me processando por desacato (art. 331 – CP) e desobediência (Art. 330 – CP).

Só queria saber quem deve obedecer a quem: o patrão por acaso sou eu, que pago imposto para o Estado colocar uma porrada de trogloditas racistas na pista, ou o empregado, que no caso é o policial que é pago com o dinheiro do meu imposto? Só pra finalizar esse enredo patético: nos dias que se seguiram eu fui até a Central do Brasil em busca da cópia da gravação do áudio da chamada que fiz com o 190, mas me disseram que nada foi gravado. Ou eles não gravam mesmo, o que é muito grave, ou simplesmente estão acobertando os policiais, no tão falado cooperativismo. Seja o que for uma coisa é certa: o Brasil do século XXI insiste em ser um pais do século XVIII.

A audiência preliminar acontecerá no dia 17-06-2011, às 15:00 hs. Pra preto, no Brasil toda desgraça é pouca.

Prettu Júnior

Apenas um negro em movimento”.

Enviada por Ruben Siqueira.

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