Telma Monteiro
Um sistema de transmissão de alta tensão leva a energia da unidade geradora – hidrelétrica, termelétrica, eólica – até a subestação transformadora de onde saem as linhas de distribuição para o consumidor. O conjunto da transmissão de alta tensão é formado de cabos condutores, cabos para-raios, estruturas metálicas, espaçadores-amortecedores, cadeias de isoladores, torres autoportantes ou estaiadas e subestações transformadoras que têm mais outros tantos componentes.
Quase todas as linhas de transmissão no Brasil têm mais de 30 anos, exceto o terceiro circuito de Itaipu Itaberá-Tijuco Preto III que foi concluido em 2001, depois de um histórico de quatro anos de irregularidades no processo de licenciamento questionadas pelo ministério público. Visitei subestações de Furnas e tive a impressão de ter voltado no tempo, para a idade da pedra em tecnologia. Impossível não notar os painéis de controle na base das luzinhas coloridas piscando como árvores de natal, alavancas mecânicas, sinais sonoros, reloginhos de ponteiros e salas de controle em estado de sucata, além de decibéis incompatíveis com a saúde do trabalhador. Eis alguns dos problemas.
Novas tecnologias
No ano passado foi inaugurada a linha de transmissão de energia em ultra-alta tensão mais extensa e potente do mundo, na China. O projeto Xiangjiaba-Xangai de 800 kV tem aproximadamente 2.000 quilômetros e é uma nova referência em capacidade de transmissão, ocupa menos espaço e as perdas ficam abaixo de 7%. A economia é equivalente à demanda de energia de aproximadamente um milhão de pessoas na China. No Brasil as perdas de transmissão ultrapassam os 20%.
Esse sistema de alta capacidade, na China, compreende uma única linha de transmissão aérea. A nova tecnologia dispõe de um sistema de controle avançado com maior capacidade e eficiência e é adequado para países com dimensões continentais onde os centros de consumo estão localizados longe das geradoras de energia.
Então, diante desses avanços tecnológicos, não faz o menor sentido construir o sistema de transmissão das usinas do Madeira com tecnologia ultrapassada – são duas linhas, uma ficará em stand by o que comprova não só a falta de confiança no sistema como o interesse do setor de energia em promover obras desnecessárias – com um corredor de 10 quilômetros de largura.
Infelizmente, o desenvolvimento de novas tecnologias, novos conceitos de equipamentos, a manutenção e as especificações técnicas de componentes mais evoluidos com sistemas informatizados, controle digital, menor impacto e mais eficiência, ainda não chegaram ao Brasil. Já há empresas oferecendo até linhas de transmissão subterrâneas de alta tensão. Mas como as empresas estatais Eletronorte, Furnas e Cemig dominam o setor de transmissão de alta tensão, só nos resta amargar prejuízos.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) deveria defender os consumidores desses prejuízos causados pelos recorrentes apagões e pela incapacidade gerencial, falta de investimentos em novas tecnologias das empresas estatais e, concessionárias privadas. Depois da privatização não houve investimento em modernização de estações transformadoras, subestações e muito menos nas redes de distribuição e transmissão.
Outro ponto a considerar sobre transmissão seria a substituição da CA – corrente alternada, usada em todas as linhas no Brasil, por CC – corrente contínua que é mais eficiente, mas é uma tecnologia ainda não dominada por aqui. Devido à falta de investimento em tecnologias, o sistema de transmissão do Madeira só ficará pronto em 2015, muito depois da primeira turbina de Santo Antônio começar a operar!
A tecnologia de corrente contínua requereria a repaginação de todas as UHEs do Brasil, já que existe uma incompatibilidade com as máquinas geradoras antigas. A LT do Madeira – com os dois circuitos de 600kv CC – será acompanhada de outras linhas de transmissão convencionais paralelas (plural porque são várias), mas com o mesmo conceito e compontentes ultrapassados (fabricados pelas mesmas indústrias desde sempre) usados há três décadas ou mais.
Quanto à geração, o problema virá com a diminuição da capacidade das hidrelétricas com mais de 30 anos e numa curva descendente, pois ultrapassaram em muito o limite da vida útil dos seus reservatórios já assoreados. Turbinas de última geração já estão disponíveis no mercado e a simples troca das ultrapassadas poderia revitalizar e aperfeiçoar a capacidade de geração, evitando construir Belo Monte, inclusive; no entanto não interessa às concessionárias, a esta altura, investir em modernização, uma vez que estão também no limite dos seus contratos que serão objeto de revisão a partir deste ano.
Enquanto a China resolve seu problema de transmissão especial de alta tensão a longa distância, reduz as perdas e os corredores, poupa energia, aumenta a eficiência e utiliza métodos de transmissão econômica, segura e eficiente, nós no Brasil continuamos nas mãos da ineficiência da Eletronorte, Furnas e Cemig e enfrentando apagões.
http://telmadmonteiro.blogspot.com/2011/02/apagoes-de-eficiencia-e-tecnologias.html