Editorial do Observatório de Favelas
Na última semana, no dia 1º de fevereiro, uma operação da Polícia Militar no Morro do Timbau, no conjunto de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, foi mais uma prova do desrespeito aos moradores de favelas na capital carioca. A operação se deu no dia da feira popular da comunidade, e destruiu boa parte das barracas e dos produtos dos feirantes.
Em texto e imagens feitas pelos próprios feirantes (ver matéria abaixo), eles relatam e mostram como se deu a ação da polícia, e os estragos causados. Infelizmente não é comum que as pessoas consigam se organizar para relatar esse tipo de desrespeito, e na maioria das vezes esses abusos passam despercebidos pela sociedade.
Mais do que o prejuízo financeiro para os feirantes e moradores que tiveram muros, carros, barracas e produtos destruídos ou danificados, o maior problema é essa forma recorrente de ações que tratam os moradores desses espaços de forma diferenciada do restante da cidade.
Da mesma forma que os cidadãos têm deveres, também têm direitos que devem ser respeitados, principalmente pelo próprio Estado. Ações desse tipo são intoleráveis e devem ser questionadas e difundidas para evitar que novas ações semelhantes aconteçam.
O Observatório de Favelas repudia a ação da Polícia Militar realizada no dia 1º de fevereiro na Maré. Até quando os moradores de favelas e periferias vão ser tratados desrespeitosamente pelos agentes de segurança publica? O Estado, responsável pela prevenção e combate à violência, não pode ser o agente causador desse mal.
http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=1002
Polícia aterroriza feirantes e moradores
Produção coletiva*
Após o caos deixado pelos Policiais, foram registrados diversos depoimentos dos feirantes:
“Sem o tráfico a polícia passa fome, por isso que fizeram isso, não ganharam o dinheiro [Era o que queriam na operação].”
“Falaram se a gente não tirasse eles iam passar por cima, mas eles não deram tempo, o tiro tava comendo, o caveirão entrou e passou levando tudo. Meu prejuizo é de R$ 300”
“Simplesmente eles vieram levando tudo, levou barraca ,levou lona, só não perdi mais porque vi eles chegando e tentei tirar o que pude, tenho prejuízo de R$120, mais o meu dia de trabalho e sem contar com o perigo que a gente correu na hora, a gente tirando as coisa e eles atirando”
“30 homens da polícia armados de fuzil e pistola e mais ou menos 50 feirantes com laranjas, verduras e cebola. Isso é um absurdo, perdi de R$ 80 a R$ 100. Não só trabalho como também moro aqui, não aguento mais isso. Tem 3 meses que não venho trabalhar e quando chego é isso que acontece”
“Olha, foi bala para todos os lados, eles começaram atirando. Estou tremendo até agora, aqui na minha barraca destruiu tudo. Você pode ver meu prejuízo, perdi R$1.500. Meu som esta todo quebrado, olha para o homem da barraca de remédios, o da barraca das verduras, todos ficaram no prejuízo”
“Eu não perdi muita coisa, mas o pior é a falta de respeito, o perigo que todos passamos. Toda semana é isso, o horário que a comunidade está na rua isso acontece”
* Esse texto foi escrito por um grupo de pessoas que estava no local na hora dos acontecimentos. Por questões de segurança, não identificamos as pessoas que contribuíram com esse relato.
http://www.observatoriodefavelas.org.br/observatoriodefavelas/noticias/mostraNoticia.php?id_content=999