Karol Assunção
No dia 28 de janeiro de 2004, três auditores fiscais do trabalho e o motorista foram assassinados durante uma fiscalização na zona rural de Unaí, em Minas Gerais. Para homenageá-los e chamar atenção para o problema do trabalho escravo no país, instituiu-se que esse seria o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. Desde o ano passado, a última semana de janeiro é marcada por intensas mobilizações e atividades sobre a temática.
No Piauí, a igreja também esteve presente nas mobilizações. Leigos/as e Irmãs do Imaculado Coração de Maria (ICM), por exemplo, realizaram diversas ações contra o trabalho escravo durante uma semana. Panfletagens, audiência pública, oficinas sobre trabalho escravo e tráfico de seres humanos foram algumas atividades programadas pelo Fórum Estadual de Combate ao Trabalho Escravo no Piauí, composto por organizações civis e governamentais, dentre elas as Irmãs ICM e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Irmã Eurides Alves, coordenadora do setor pastoral e de ação social da congregação, comenta que as irmãs se surpreenderam com a participação das pessoas. “Houve grande receptividade, maior até do que se esperava. Muita desinformação, mas muito interesse”, alegra-se.
A coordenadora conta que, durante a semana, as irmãs também se reuniram com o governador do estado, Wilson Martins, para entregar uma denúncia e uma carta-manifesto cobrando do poder público mais ações de combate ao trabalho escravo. “Temos de continuar a pressão”, comenta, convocando mais pessoas e organizações a se engajarem no combate ao trabalho escravo. “Precisamos formar um grande mutirão”, afirma.
Irmã Eurides explica que a congregação integra a Rede Um Grito pela Vida, a qual reúne religiosas que enfrentam o tráfico de pessoas. Ela comenta que as irmãs trabalham para seguir os ensinamentos do Evangelho. “É função das igrejas, da vida religiosa defender a vida das pessoas”, explica, ressaltando que uma das formas de defender a vida é combater o tráfico de pessoas. “A Igreja que se omite, se omite na sua missão”, considera.
No Brasil, as Irmãs ICM estão presentes em 14 estados e, em todos eles, atuam na prevenção e no combate ao tráfico de seres humanos, com foco principalmente em meninas e mulheres. Entretanto, não deixam de lado o trabalho escravo, o qual também tem fortes relações com o tráfico de pessoas.
De acordo com ela, Piauí, Mato Grosso e Tocantins são os estados em que as irmãs estão presentes e têm forte atuação no combate ao tráfico de pessoas com foco na escravidão. Isso porque existem trabalhadores que também são traficados para realizarem atividades análogas a escravidão.
O estado nordestino, além de ser um grande “exportador” de trabalhadores que serão vítimas do trabalho escravo em outras regiões, está presente na “lista suja” do trabalho escravo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Na última atualização do Ministério, realizada no dia 31 de dezembro, seis empregadores do estado passaram a integrar a lista, que agora conta com 220 infratores, sendo 11 do Piauí.
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