Começa neste domingo e prossegue até o dia 11 de fevereiro a edição centralizada do Fórum Social Mundial (FSM). Neste ano, o evento acontece em Dacar, no Senegal. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou sua participação e deve ser uma das estrelas do encontro na África. Lula irá acompanhado do ex-ministro Luiz Dulci e do ex-presidente do Sebrae Paulo Okamotto.
Em sua 11ª edição, o evento volta ao continente africano depois do encontro em Nairóbi, no Quênia, em 2007. No ano passado, o Fórum Social aconteceu de forma descentralizada. Uma das atividades ocorreu na Grande Porto Alegre e contou com a participação de Lula. Também está prevista a presença do presidente da Bolívia, Evo Morales, e da ex-presidenciável francesa Segolene Royal.
O governo federal já confirmou que irão ao Senegal os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), que representará a presidente Dilma Rousseff (PT), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Luiza Bairros (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial). A prefeitura de Porto Alegre e o governo do Estado, que trabalham para trazer de volta à Capital gaúcha o evento centralizado em 2013 e que farão atividades descentralizadas no ano que vem, também terão representantes em Dacar.
Pelo município, estarão presentes o secretário de Coordenação Política e Governança Local, Cezar Busatto; Filaman dos Santos (conselheira do Orçamento Participativo), José Ricardo Caporal (membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), Nelcinda Aguirre (presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente) e Tatiane Ventura (membro do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente).
Força Sindical, CUT e outras entidades também integrarão a comitiva, que apresentará ao Comitê Internacional do FSM a Carta de Porto Alegre, documento assinado por diversas entidades da sociedade civil organizada defendendo a volta do evento ao solo gaúcho.
Após uma década, balanço é considerado positivo, mas futuro ainda gera controvérsia
Organizadores do Fórum Social Mundial avaliam que a vitória da esquerda em diversos países da América Latina nos últimos dez anos – além da eleição de Barack Obama nos Estados Unidos – foi influenciada pelos debates realizados ao longo da década sob o slogan de que “um outro mundo é possível”, o lema do Fórum.
A ascensão de um operário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao cargo de presidente da República era uma das bandeiras da primeira edição do evento, que debutou em 25 de janeiro de 2001 em Porto Alegre. Hoje, o ex-mandatário brasileiro é considerado símbolo do Fórum Social e será a grande estrela da edição de 2011, em Dacar, no Senegal.
Porém, passada uma década desde que o debate se iniciou, a esquerda ainda diverge quando o assunto é ação: enquanto alguns defendem a autogestão, com diversos eixos de reivindicação, críticos creem que o movimento está perdendo a força, ao não participar como ator político nas instâncias decisórias.
A discussão não é nova e está explícita na inconformidade de um dos idealizadores do Fórum, o empresário Oded Grajew. “Depois desses dez anos, uma das nossas dificuldades é justamente explicar o que é o Fórum, inclusive para o público que o frequenta”, lamenta Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos.
Governador do Estado durante a realização das duas primeiras edições do Fórum Social na capital gaúcha, Olívio Dutra (PT) crê que a falta de influência direta nos centros de poder prejudica o movimento. “Vejo o Fórum Social Mundial numa espécie de crise. Claro que não é algo messiânico, mas, ao optar por não fazer política, ele perde sua força.”
Mas, para Grajew, esta atitude cabe a um partido, e não a um movimento plural como o Fórum. Ao seu lado, está a cientista política Vanessa Marx, professora e pesquisadora da Ufrgs. “O Fórum não trabalha com modelos, não está no seu espírito ter uma receita de soluções. O movimento não vai deliberar sobre como isso tem que ser feito. Esta é uma expectativa que não deve ser incentivada”, analisa Vanessa, que integrou durante sete anos o Conselho Internacional do Fórum.
As leituras sobre o papel do encontro são tão diversas quanto as entidades e organizações que o compõem. Debaixo do guarda-chuva do Fórum Social Mundial estão movimentos que eventualmente podem até ser antagônicos. Caso das feministas que defendem o aborto e alguns setores da Igreja Católica que sempre marcam presença no evento.
Ironicamente, um dos pontos de consenso entre os integrantes da organização do Fórum é uma das causas dessa dificuldade de construir um discurso comum: o respeito à diversidade de bandeiras.
“Dilma Rousseff (PT) é uma política absolutamente identificada com a causa do Fórum. Mas ela é sabidamente desenvolvimentista, acredita que a natureza está a serviço do bem-estar do trabalhador. E isso é amplamente criticado por grupos ambientalistas, que também integram o movimento”, sintetiza outro integrante do grupo de organizadores pioneiros, o advogado Mauri Cruz, representante da Associação Brasileira de ONGs no comitê gaúcho do Fórum.
‘Força do FSM está na sua pluralidade’
A causa anticapitalista é o que une centenas de entidades e organizações não governamentais. Foi, inclusive, o fator que levou um grupo de representantes dos movimentos sociais a propor um encontro que confrontasse o Fórum Econômico de Davos no final dos anos 1990.
“Na época, o discurso e a política neoliberal eram dominantes, e nós representávamos um pensamento oposto a esse. Era uma necessidade debater alternativas em um encontro”, rememora Olívio Dutra.
Os 20 mil ativistas que compareceram ao primeiro Fórum se multiplicaram. Em 2005, quando retornou à Capital gaúcha depois de passar pela Índia, o evento bateu o recorde de público, recebendo 150 mil participantes. E, com a chegada sistemática de novos grupos, outras propostas foram somadas ao caldeirão de ideias já existente. O que não preocupa Oded Grajew. “A força do Fórum nasce justamente da pluralidade e da diversidade que envolve.”
Mesmo assim, alguns integrantes sentem falta de que o Fórum Social Mundial exerça pressão sobre os governantes comprometidos com o projeto. Os críticos do Fórum concordam que há avanços.
“A grande diferença da esquerda atual para aquela das Internacionais Comunistas é que hoje não existe um modelo único a ser seguido, como pregava Karl Marx”, avalia o cientista político Paulo Moura, coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). “Eles hoje seguem o jogo democrático e governam seguindo o caminho social-democrata.”
Apesar de a esquerda ter ganhado terreno na América Latina desde que o Fórum começou a existir, o principal ponto positivo destacado pelos seus fundadores foi a formação de redes de cooperação internacionais nos mais diversos âmbitos.
“O maior êxito foi ter colocado em contato grupos que antes atuavam localmente”, acredita a cientista política Vanessa Marx. “Independentemente de governos de esquerda ou direita, esse valores vão permanecer porque a população está consciente.”
Mauri Cruz lembra o exemplo do Chile, onde, depois de um governo altamente popular comandado pela socialista Michelle Bachelet, a oposição venceu as eleições e empossou o representante da centro-direita Sebástian Piñera.
“Houve uma troca na orientação ideológica do governo. Mas a agenda não mudou em sua essência, não houve um enfrentamento. E é um dos países com maior histórico neoliberal.”
Fonte: Nossa São Paulo / Jornal do Comércio
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