Bispos levam solidariedade à luta dos Povos Indígenas visitando ao Acampamento Terra Livre

Egon Dionísio Heck

Adital – Em nome dos bispos e pastorais do Regional Oeste 1 da CNBB, Dom José Moreira, bispo referencial do Cimi e das pastorais sociais do regional, visitou o acampamento levando a solidariedade aos povos indígenas reunidos e em especial os povos indígenas do Mato Grosso do Sul. No final do ano passado eles já haviam manifestado seu apoio aos direitos desses povos em documento à opinião pública. De Asunción a Campo Grande – um longo caminho de luta e esperança.

Os representantes Kaiowá Guarani e membros do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) que participaram o IV Fórum Social das Américas seguiram quase direto para Campo Grande. Os mais de seiscentos quilômetros que separam as duas cidades, do Paraguai ao Mato Grosso do Sul, foram sendo povoados pela memória do que se tem passado nessas terras nos últimos quinhentos anos. A resistência Guarani, a partir de suas raízes profundas é, por sua vez, denúncia das milhares de vidas ceifadas e o anúncio de que continuarão a viver nesse território, por outros milhares de anos.

Em Campo Grande eles se juntarem a centenas de patrícios de seu povo e de outros povos indígenas do país, no grande momento político e cultural dos povos indígenas do Brasil: o VII Acampamento Terra Livre. É o difícil e árduo caminho da luta pelos direitos deles enquanto povos e em defesa da mãe terra, que lhes foi sendo roubada e destruída.

FSA – o grito da Mãe Terra

Alguns aspectos se destacaram neste fórum. Dentre eles, a majoritária presença das mulheres e jovens, de campesinos e indígenas. E quanto espaço e experiência histórica! Sem dúvida, a grande contribuição veio da Bolívia e da população andina. Porém, o grito que mais ecoou nos espaços plurais das centenas e centenas de atividades e manifestações foi o grito da mãe terra. “Ferida mortalmente pelo sistema colonial, capitalista e neoliberal, seu grito de socorro teve guarida nos corações do coração do continente. Ela exige de nós seus filhos uma atitude corajosa, uma resposta eficaz a seu pedido de socorro”, afirmou o chanceler boliviano D. Choquehuanca.

Talvez em nenhum Fórum anterior se tenha falado tanto em terra, território, direitos da mãe terra, soberania alimentar, prevalência da vida e um novo projeto civilizatório inspirado no Bem Viver. América está em caminho. O Fórum Social das Américas foi mais uma parada para alimentar a esperança e olhar com determinação o horizonte. Irá chegar e está chegando um novo dia, e ele se gesta nesta terra invadida e subjugada, mas que manteve -com a resistência secular, nas entranhas da mãe terra , na memória perigosa e sabedoria de seus filhos, povos e culturas-, a força e inspiração de um projeto civilizatória, do bem viver, para sepultar de vez o projeto suicida do capitalismo. América latina é hoje o espaço de esperança para o mundo.

Foram denunciadas as ações criminosas e violações constantes promovidas pelo grande capital, pelas transnacionais nos diversos países do continente de do mundo. Teve destaque a atuação, invasão e destruição promovida pelo grande capital nas terras indígenas e campesinas no continente, e em especial no Paraguai. A “sojização”, com o monocultivo está envenenando e destruindo a terra, contaminando até os lençóis freáticos, como o aqüífero Guarani.

O tererê, o mate e a luta Guarani

Quem vê as alegres rodas de tererê, ou as quentes rodadas de mate (chimarrão) mal pode entender o poder simbólico e real desses costumes Guarani. A árvore bendita com o qual milenarmente o povo Guarani matava sua sede e ajudava a digestão, com uma cuia e bomba de taquara, tornou-se também símbolo de integração de populações dos Paraguai, Argentina e Brasil. Mudam os tamanhos das cuias e o preparo da erva mate. A hilis paraguaiensis, como ficou cientificamente denominada a árvore nativa bendita, chegou a ser o maior produto de exportação da região nos séculos 17 e 18. Hoje, os próprios Guarani se veem muitas vezes privados da importante bebida, que ganhou o mundo, mas foi ficando cada vez mais difícil para seus originários descobridores.

Hoje, quase todas as matas nativas de erva mate estão destruídas. Em meados do século 19, a grande região com abundâncias de erva mate foi cedida para uma companhia argentina, a Mate Laranjeira. Ela dominou absoluta sobre uma área de mais de 7 milhões de floresta com erva mate, no Paraguai e no Mato Grosso do Sul. A mão de obra foi basicamente a dos índios Guarani que viviam nessa região. Quando o mercado da erva mate decaiu, essas terras foram sendo transformadas em fazendas. Novamente os índios se tornaram a principal mão de obra na derrubada da floresta e na implantação das pastagens. Hoje, lhes resta ser submissos aos rigores do trabalho em situação análoga à escravidão nas usinas sucroalcooleiras. Mas continuam tomando o tererê e o mate quanto podem, lembrando com saudade a fartura da erva mate e a liberdade de que hoje se sentem privados.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=50308

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