As exigências indígenas na Bolívia

A Bolívia festejou 185 anos da declaração de sua independência com uma série de conflitos que rodeiam o governo de Evo Morales (foto). Um desacordo limítrofe entre dois departamentos, críticas das organizações indígenas por causa da política governamental de exploração de recursos naturais e a escandalosa bebedeira de um senador do governo são alguns motivos, dentre outros, que preocupam o Palácio Quemado.

A reportagem é de Sebastián Ochoa, publicada no jornal Página/12, 07-08-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Nesta sexta-feira, o presidente respondeu aos indígenas cujos territórios recebem a contaminação de empresas mineradoras, dentre outras. “O governo defende a industrialização dos recursos naturais sem provocar danos à Mãe Terra nem ao meio ambiente”, defendeu Morales depois de promulgar uma lei para a exploração de ferro em El Mutún, em Santa Cruz.

O Conselho Nacional de Markas e Ayllus do Qullasuyu (Conamaq) anunciou que, no próximo dia 9 de agosto, irá cortar a água à Empresa Mineradora Coro Coro, acusada de contaminar águas e terras de várias comunidades de La Paz. Para a organização dos povos quíchua e aimara, o mesmo problema se repete com mineradoras de Oruro, Potosí, Cochabamba ey Chuquisaca. Eles avisaram que os dejetos químicos chegam ao lago Titicaca, que a Bolívia compartilha com o Peru.

Os indígenas andinos e de terras baixas exigem que seja respeitado o direito à consulta às comunidades quando capitais privados e o Estado pretendam explorar recursos naturais em seus territórios. Nesse sentido, consideram que há contradições entre o discurso pró-Pachamama do governo e suas ações.

“A nova Constituição deu ao povo todo o poder político, mas não nos é permitido usá-lo. As pessoas não vivem de discursos, nem de ideologias, mas de fatos. Queremos propostas”, disse Rafael Quispe, mallku das Indústrias Extrativas do Conamaq. “O socialismo comunitário que o governo propõe é puro discurso, por isso as pessoas se deram conta de que estão aprofundando o capitalismo”, avaliou.

As organizações indígenas exigem que a Assembleia Legislativa Plurinacional considere as propostas das bases no momento de aprovar leis. O jornal Página/12 se comunicou com o senador Isaac Avalos, do Movimiento Al Socialismo (MAS), para consultá-lo sobre esse tema. Mas ao ouvir a pergunta, optou por cortar a ligação.

Outro “masista” em apuros é o senador Fidel Surco, secretário executivo da Confederação Sindical das Comunidades Interculturais da Bolívia (Cscib). Na última segunda-feira de manhã, ele bateu o carro que dirigia em El Alto, segundo as perícias, em um insustentável estado de embriaguez. O senador teve o benefício de dormir oito horas na delegacia até que o levaram ao hospital para analisar quanto álcool ele tinha em seu sangue. Ainda havia 1,5%.

“Bom, é uma coletiva de imprensa. Vamos pedir muito respeito por isso, porque está feita para temas internacionais”, se esquivou Morales quando lhe perguntaram sobre o que aconteceu com Surco.

Segundo um estudo da Captura Consulting, a imagem positiva de Morales é de 49%. Porém, observa-se o desgaste do capital político do presidente, re-eleito em dezembro passado com 64% dos votos. Contribuem para isso conflitos como os destes dias. Ou a incapacidade para resolver problemas como os que Oruro e Potosí têm, enfrentados há dez dias por causa da propriedade de uma jazida de pedra caliça que serve para fazer cimento, localizado justamente no limite entre esses departamentos. Os manifestantes potosinos ameaçam fechar a passagem para a Argentina por La Quiaca.

Os problemas domésticos não afetam a economia da Bolívia, que cresceu no primeiro semestre 3,3%. No entanto, o governo previa chegar a este mês com um aumento de 4,5%. Os números positivos devem-se principalmente às regalias por causa da exploração de gás e petróleo. Embora o Estado tenha a maioria acionária de todas as empresas, mesmo assim não tem capacidade operativa nem técnica para explorar e perfurar poços.

Por esse motivo, a Bolívia ainda depende das transnacionais para extrair seus hidrocarbonetos. O presidente atribui o pouco avanço nessa matéria às papeladas entre ministérios. “Um dos piores inimigos da Bolívia é a burocracia. Temos dinheiro e não podemos gastar”, disse nesta sexta-feira em Santa Cruz.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=35073

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