Mayron Régis
O Encontro de Lavradores da região do Munim faz parte de uma época em que o sol calcinava um tantinho sequer os corpos de homens e mulheres que caminhavam sozinhos ou em grupos por longas horas diurnas e noturnas só tendo como companhia um ligeiro acento de chuva no ar.
De vez que o acento da chuva no mês de julho se dobra sobre os morros e os campos dos municípios de Morros e Cachoeira Grande para encher mais um pouquinho o solo e o subsolo das nascentes dos rios cujos verdes se atravessam de pés calçados e a cavalo para que se descarreguem as bagagens no local do encontro.
Cada Encontro de Lavradores da região do Munim reacende algo inerte dentro de cada participante, principalmente, naqueles que iniciaram a jornada há quase trinta anos atrás. Quase como abrir um álbum de fotografias e nele se reaviva um número maior de gente. Alguns morreram e outros emudeceram pelo restante da vida.
O 28º Encontro de Lavradores da região do Munim entalou mais de cem pessoas no povoado do Buriti da Maria Chica, município de Cachoeira Grande, para discutir Grandes Projetos, Meio Ambiente e Reforma Agrária. Essa discussão aparelhara os trabalhadores rurais nas edições anteriores como na do povoado Zacarilândia, município de Morros. Uma das particularidades deste povoado da qual as pessoas fogem é a tremenda distância que o separa da sede do município. A maioria dos seus moradores vota em São Benedito do Rio Preto.
A situação de Zacarilândia não se resumia a dificuldade de acesso. Ele é um assentamento estadual, ou seja, sob responsabilidade do Iterma e como tal totalmente negligenciado. O que mais faltava para supliciar Zacarilândia? O ex-deputado estadual Kleber Verde pretendia grilar parte da área do assentamento para plantar cana-de-açucar. O projeto deu pra trás até porque o próprio Keber Verde falecera e ninguém prosseguira com a farsa da grilagem.
Quanto a questão agrária, o município de Morros segue o exemplo do município de Barreirinhas absorvendo vários projetos estaduais de assentamento e, para os próximos anos, prevendo a criação de assentamentos pelo INCRA. Esse dado falseia um pouco a realidade da reforma agrária no município porque leva a crer que muito já foi feito e na verdade falta quase tudo como se viu no caso de Zacarilândia e como se vê no caso da desapropriação da Gleba Santa Cecília.
A Gleba de Santa Cecília, município de Morros, compreende mais de dez mil hectares. O senhor Ribamar Lopes exerce a sua propriedade e no ano de 2008 firmara parceria com a imobiliária Franere com o propósito de vender a área. Nessa gleba moram mais de 500 famílias.
No final dos anos 90, o STTR de Morros entrou com um pedido de vistoria da área junto ao INCRA, só que o órgão simplesmente parou o processo. Com a investida do senhor Ribamar Lopes e da Franere todo um aparato de instituições de Morros (Tijupá, STTR de Morros, Fórum Carajás e prefeitura de Morros) saiu a campo para que o INCRA fizesse a vistoria antes que a venda da área se concretizasse.
Os boatos que corriam davam conta que em Santa Cecília plantariam eucalipto. Por conta disso, pensou-se a elaboração de uma lei que proibisse o plantio de monoculturas no município. A possível compra da área para o plantio de eucalipto assustou as instituições de Morros porque os seus parâmetros se relegavam a práticas político-cartoriais de décadas passadas. Como bem disse Inaldo, morador do povoado de Santa Cruz, que faz parte da gleba Santa Cecília, durante a oficina de Grandes Projetos, no Encontro de Lavradores da região do Munim, no povoado do Buriti da Maria Chica: “Ribamar Lopes comprou Santa Cecília e fez dele seu curral eleitoral. Quando seu retorno político-eleitoral se esgotou resolveu vender”. Atualmente, o processo de desapropriação da gleba Santa Cecília está em Brasilia para a assinatura do presidente Luis Inácio Lula da Silva.