Jeremy Hance
Ambientalistas e grupos indígenas se uniram para condenar o plano de US$ 15 milhões para seis hidroelétricas na Amazônia peruana, assinado na semana passada pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Alan Garcia, do Peru. As usinas irão produzir seis mil megawatts, a maior parte destinada para o Brasil. Críticos afirmam que as represas vão inundar dezenas de milhares de hectares de florestas, acabar com o estilo de vida dos índios e serviria apenas a grandes corporações brasileiras.
“Este acordo não irá garantir energia limpa e renovável para o Peru. Pelo contrário, irá impor uma série de impactos sociais e ambientais como a expulsão de índios e o desmatamento em ao menos cinco departamentos peruanos, colocando em risco o futuro da Amazônia”, afirmou Mariano Castro, antigo secretário executivo do Conselho Nacional do Meio Ambiente do Peru (CONAM) e advogado da Sociedade Peruana de Direitos Ambientais (SPDA).
Segundo a ONG International Rivers, a construção da represa de Paquitzapango no rio Ene, um dos afluentes do Amazonas, ameaçaria mais de 17 mil membros da tribo Ashaninka, o maior grupo indígena da Amazônia peruana. A área inundada ainda colocaria em risco duas áreas de proteção: a reserva de Ashaninka e o parque nacional de Otishi.
A comunidade Ashaninka já perdeu terras devido a concessão do governo para a exploração de petróleo e madeira em regiões de ocupação da tribo. Além disso, os Ashaninka afirmam não terem sido consultados sobre a represa Paquitzapango.
“A usina está sendo planejada sem o diálogo entre o governo e as pessoas que serão afetadas. O rio Ene é a alma de nossas terras, é o rio que alimenta nossas florestas, animais, plantas e, especialmente, nossas crianças”, disse Ruth Buendia Mestoquiari, uma das líderes dos Ashaninka.
Outra represa envolvida no acordo, a Inambari no rio Madre de Dios, deverá deixar 46 mil hectares de floresta sob a água e 15 mil pessoas irão perder suas áreas de plantio e subsistência.
“Este acordo irá beneficiar apenas o Brasil e nós não vamos deixar que isso aconteça”, avisou Alfredo Novoa Pena, fundador da ONG Pro-Naturaleza.
O professor de engenharia elétrica da Universidade de São Paulo, Célio Bermann, contou à International Rivers que o acordo não busca atender as necessidades energéticas dos brasileiros mas apenas das grandes companhias.
“A eletricidade que será produzida irá servir aos interesses de companhias mineradoras e metalúrgicas que estão sempre se expandindo pela Amazônia. A energia não será destinada para as necessidades dos peruanos ou brasileiros comuns”, afirmou Bermann.
Nos últimos anos, o Peru vem abrindo a sua floresta para empreendimentos de larga escala, aumentando o conflito com povos indígenas. No ano passado, uma disputa deixou 23 policiais e 10 índios mortos na cidade de Bagua. Até hoje os índios afirmam que o número de mortos é bem maior que o governo admite.
Atualmente, 41% da Amazônia peruana está aberta para concessões de gás e petróleo, enquanto 75% do total pode ser explorada em outras atividades.
O governo brasileiro anunciou que o aumento dos investimentos em hidroelétricas é necessário para alcançar as metas de fontes limpas de energia. Entretanto, estudos demonstram que as represas, especialmente as localizadas nos trópicos, emitem uma quantidade significativa de metano, um gás que é aproximadamente 20 vezes mais potente para o efeito estufa que o CO2, através da decomposição da vegetação. Assim, esse tipo de energia pode acabar sendo equivalente aos combustíveis fósseis.
As seis represas em solo peruano estão sendo planejadas pela Eletrobrás, BNDES e realizadas pelas empreiteiras Odebrecht e Camargo Corrêa.
Traduzido por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil
http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=358610
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