Assim como pretende “jogar para fora do mercado as siderúrgicas ineficientes”, ao implantar siderúrgicas no País, a Vale está utilizando todas as suas armar para expulsar os moradores do bairro Chapada do A, em Anchieta. No local, ela pretende instalar a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), que, junto com outros três projetos, deverá garantir o monopólio da mineradora no mercado do aço.
O bairro Chapada do A não foi comprado pela Vale. Mas, se nada for feito em defesa das famílias que o ocupam, ele será destruído.
O processo de ocupação da Vale em Anchieta é antigo e, até o último ano, teoricamente discreto. Em 2006, ela já detinha 50% da Samarco Mineração S/A e 78 Km2 das terras do município. Na ocasião, ela anunciava um projeto de construir usinas de pellets e uma siderúrgica na região.
Desde lá, o que se viu foi o retrato do poder político da empresa, em função do valor irrisório dado à população local pelo poder público estadual e municipal. A eles, caberá aprender a lidar com os impactos, em grande parte irreversíveis, que serão gerados caso a siderúrgica se instale no balneário.
Neste contexto, a Vale tenta licenciar a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), em uma região já impactada, principalmente pela atividade da Samarco Mineração S/A, Petrobras, entre outras empresas atraídas por este mercado na região. No município, os níveis de poluição máximos previstos em Lei já foram ultrapassados e a indisponibilidade hídrica para abastecer população e indústria já foi comprovada cientificamente e na prática, após o período de falta d´água presenciado no verão deste ano em Anchieta e municípios do entorno.
Além disso, a região enfrenta problemas graves desde a chegada de trabalhadoras na década de 70 para a construção da Samarco. No balneário, faltam espaço, saúde, educação e segurança para os moradores, que reclamam do aumento da violência, do surgimento do tráfico de drogas e da prostituição na região. E a previsão é que mais de mais de 18 mil trabalhadores cheguem à região com a construção da CSU.
Mas, segundo a Vale, a região permite que ela aproveite as vantagens competivivas de produzir aço com acesso ao seu próprio minério, fechando a cadeia produtiva de aço no Estado. Em Anchieta, a CSU pretende produzir 5 milhões de toneladas ano de aço. Junto com os três outros grandes projetos siderúrgicos da Vale (CSA no Rio de Janeiro, CSP no Ceará e Alpa no Pará), a mineradora entra no mercado siderúrgico do País com uma produção de 18,5 milhões de toneladas por ano.
Pressão
Para atingir o controle do mercado do aço, a Vale está deixando os moradores da Chapada do A, como eles mesmos classificaram, na condição de “uma bola de futebol no meio do campo”. Coagidos a deixar suas terras, os descendentes de índios, sem escrituras, estão revoltados. Entre eles há senhoras e senhores de mais de 80 anos que nasceram na região.
Na prática, o que se vê na região é um franco processo de expulsão com direito a invasão de terra por técnicos contratados pela Vale, ameaças e até manobras para gerar conflitos familiares. As belas imagens e o respeito ao brasileiro vistos nas propagadas da Vale passam longe da realidade na região e nem o slogan “não há futuro sem aço” faz qualquer sentido aos moradores.
“Nós lemos jornal, vimos que o mercado brasileiro não comporta tanto aço. Ela quer destruir nossa raiz por dinheiro que vai só pra ela, como todas as outras grandes empresas que chegam aqui. É só andar pelo município que vai ver se elas trouxeram qualquer desenvolvimento à região”, questiona a Associação de Moradores da Chapada do A em uma de suas manifestações contra a venda de suas terras.
No Rio de Janeiro, onde a mineradora acaba de inaugurar a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma parceria com a ThyssenKrupp, o mesmo processo de esmagamento dos interesses ambientais, sociais e econômicos também ocorreu. Na região, também não funcionaram as denúncias feitas por moradores e representantes da comunidade científica sobre as ilegalidades cometidas na região. O empreendimento foi inaugurado no Rio de Janeiro, na última semana.
Aqui, uma audiência a pedido dos moradores da Chapada do A chegou a ser realizada em março deste ano, na Assembléia Legislativa. Na ocasião, sob um clima de tensão, os moradores denunciaram que técnicos contratados pela Vale estavam visitando a região afirmando que, caso as famílias não vendessem suas terras, teriam que sair da mesma forma. A pressão dos técnicos se dava principalmente para que os moradores optassem por uma das três opções dadas pela empresa para as famílias esvaziarem o local.
A primeira era de se construir um bairro para alocar as famílias. A segunda, pagar indenização pelo imóvel. E, a terceira, comprar casas em outras localidades do município. Todas foram rejeitadas pela comunidade.
Segundo o presidente da Associação de Moradores da Chapada do A, Josias Pereira, a Vale mente sobre a compra das terras da Chapada do A.
“A comunidade está revoltada e indignada com a informação publicada nos jornais “A Tribuna” e “A Gazeta” de sábado. Eles estão comprando o entorno, compraram mais duas ou três fazendas mais para cima do bairro, mas aqui não compraram nada. Eles estão nos cercando de forma covarde e cruel. Para ela, nós não somos nada, nem gente. Somos só mais um empecilho”, disse ele.
Conforme publicado em “A Gazeta”, a empresa já dispõe das áreas não só do bairro Chapada do A como do bairro Monteiro, em Ubu, e mesmo que os moradores não saiam da região, ela afirmou que poderá dispor das terras como preferir. Na reportagem, as comunidades de Chapada do A e Monteiro, em Anchieta, foram classificadas como um empecilho para o empreendimento.
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