ES – Vale mente ao afirmar que já comprou bairro Chapada do A, em Anchieta

Flavia Bernardes

Assim como pretende “jogar para fora do mercado as siderúrgicas ineficientes”, ao implantar siderúrgicas no País, a Vale está utilizando todas as suas armar para expulsar os moradores do bairro Chapada do A, em Anchieta. No local, ela pretende instalar a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), que, junto com outros três projetos, deverá garantir o monopólio da mineradora no mercado do aço.

O bairro Chapada do A não foi comprado pela Vale. Mas, se nada for feito em defesa das famílias que o ocupam, ele será destruído.

O processo de ocupação da Vale em Anchieta é antigo e, até o último ano, teoricamente discreto. Em 2006, ela já detinha 50% da Samarco Mineração S/A e 78 Km2 das terras do município. Na ocasião, ela anunciava um projeto de construir usinas de pellets e uma siderúrgica na região.

Desde lá, o que se viu foi o retrato do poder político da empresa, em função do valor irrisório dado à população local pelo poder público estadual e municipal. A eles, caberá aprender a lidar com os impactos, em grande parte irreversíveis, que serão gerados caso a siderúrgica se instale no balneário.

Neste contexto, a Vale tenta licenciar a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), em uma região já impactada, principalmente pela atividade da  Samarco Mineração S/A, Petrobras, entre outras empresas atraídas por este mercado na região. No município, os níveis de poluição máximos previstos em Lei já foram ultrapassados e a indisponibilidade hídrica para abastecer população e indústria já foi comprovada cientificamente e na prática, após o período de falta d´água presenciado no verão deste ano em Anchieta e municípios do entorno.

Além disso, a região enfrenta problemas graves desde a  chegada de trabalhadoras na década de 70 para a construção da Samarco. No balneário, faltam espaço, saúde, educação e segurança para os moradores, que reclamam do aumento da violência, do surgimento do tráfico de drogas e da prostituição na região. E a previsão é que mais de mais de 18 mil trabalhadores cheguem à região com a construção da CSU.

Mas, segundo a Vale, a região permite que ela aproveite as vantagens competivivas de produzir aço com acesso ao seu próprio minério, fechando a cadeia produtiva de aço no Estado. Em Anchieta, a CSU pretende produzir 5 milhões de toneladas ano de aço. Junto com os três outros grandes projetos siderúrgicos da Vale (CSA no Rio de Janeiro, CSP no Ceará  e Alpa no Pará), a mineradora entra no mercado siderúrgico do País com uma produção de 18,5 milhões de toneladas por ano.

Pressão

Para atingir o controle do mercado do aço, a Vale está deixando os moradores da Chapada do A, como eles mesmos classificaram, na condição de “uma bola de futebol no meio do campo”. Coagidos a deixar suas terras, os descendentes de índios, sem escrituras, estão revoltados. Entre eles há senhoras e senhores de mais de 80 anos que nasceram na região.

Na prática, o que se vê na região é um franco processo de expulsão com direito a invasão de terra por técnicos contratados pela Vale, ameaças e até manobras para gerar conflitos familiares. As belas imagens e o respeito ao brasileiro vistos nas propagadas da Vale passam longe da realidade na região e nem o slogan “não há futuro sem aço” faz qualquer sentido aos moradores.

“Nós lemos jornal, vimos que o mercado brasileiro não comporta tanto aço. Ela quer destruir nossa raiz por dinheiro que vai só pra ela, como todas as outras grandes empresas que chegam aqui. É só andar pelo município que vai ver se elas trouxeram qualquer desenvolvimento à região”, questiona a Associação de Moradores da Chapada do A em uma de suas manifestações contra a venda de suas terras.

No Rio de Janeiro, onde a mineradora acaba de inaugurar a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), uma parceria com a ThyssenKrupp, o mesmo processo de esmagamento dos interesses ambientais, sociais e econômicos também ocorreu. Na região, também não funcionaram as denúncias feitas por moradores e representantes da comunidade científica sobre as ilegalidades cometidas na região. O empreendimento foi inaugurado no Rio de Janeiro, na última semana.

Aqui, uma audiência a pedido dos moradores da Chapada do A chegou a ser realizada em março deste ano, na Assembléia Legislativa. Na ocasião, sob um clima de tensão, os moradores denunciaram que técnicos contratados pela Vale estavam visitando a região afirmando que, caso as famílias não vendessem suas terras, teriam que sair da mesma forma. A pressão dos técnicos se dava principalmente para que os moradores optassem por uma das três opções dadas pela empresa para as famílias esvaziarem o local.

A primeira era de se construir um bairro para alocar as famílias. A segunda, pagar indenização pelo imóvel. E, a terceira, comprar casas em outras localidades do município. Todas foram rejeitadas pela comunidade.

Segundo o presidente da Associação de Moradores da Chapada do A, Josias Pereira, a Vale mente sobre a compra das terras da Chapada do A.

“A comunidade está revoltada e indignada com a informação publicada nos jornais “A Tribuna” e “A Gazeta” de sábado. Eles estão comprando o entorno, compraram mais duas ou três fazendas mais para cima do bairro, mas aqui não compraram nada. Eles estão nos cercando de forma covarde e cruel. Para ela, nós não somos nada, nem gente. Somos só mais um empecilho”, disse ele.

Conforme publicado em “A Gazeta”, a empresa já dispõe das áreas não só do bairro Chapada do A como do bairro Monteiro, em Ubu, e mesmo que os moradores não saiam da região, ela afirmou que poderá dispor das terras como preferir. Na reportagem, as comunidades de Chapada do A e Monteiro, em Anchieta, foram classificadas como um empecilho para o empreendimento.

http://www.seculodiario.com.br/exibir_not.asp?id=6004

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