José Inácio Werneck, de Bristol (EUA)
O leitor surpreendeu-se com o calor recorde que fez este inverno no Brasil? Não deveria, pois no outro extremo do mundo, no Oceano Ártico, os sinais de que a Terra está mais quente são muito claros, com o derretimento da calota polar.
Uma tragédia ambiental, sem dúvida, mas também uma oportunidade para refletirmos sobre o egoísmo humano, na mesma semana em que vem a luz um video de Mitt Romney referindo-se com desprezo à camada da população que ele considera parasítica, por não pagar Imposto de Renda.
Falando a alguns colegas seus bilionários, Mitt Romney diz que “essas pessoas acreditam que tem direito a serviços médicos, a ajuda-desemprego, a assistência social…. São pessoas que não pagam Imposto de Renda, que jamais votarão em mim e não vou perder tempo com elas”.
Jamais ocorreu a Mitt Romneu que o Estado moderno deve, sim, prestar tais auxílios às camadas mais pobres da população que, se não pagam Imposto de Renda Federal é porque não ganham bastante para tanto. Mas pagam toda sorte de outros impostos indiretos, diretos e, em alguns casos, até Imposto de Renda Estadual, típico dos Estados Unidos.
A audácia de Mitt Romney, que mantém dinheiro em paraísos fiscais para fugir ao Imposto de Renda nos Estados Unidos, só é comparável à sua ignorância e tem origem, é claro, em um profundo egoísmo.
O mesmo egoísmo que mostram as nações desensolvidas ao constatarem que o Oceano Ártico está derretendo. Em vez de anunciarem medidas mais duras de combate ao aquecimento global, Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, Canadá, Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia entraram em uma corrida para… para aproveitar o degelo e explorar as riquezas da região em minerais, gás e petróleo.
Até a China, que não tem fronteiras com o Oceano Ártico, entrou na competição, alegando que “está próxima do Ártico”. Nuuk, a capital da Groenlândia, estado autônomo pertencente ao Reino da Dinamarca, vem experimentando uma febre de construção. Neste último verão no Hemisfério Norte, 97% da imensa cobertura de gelo da Groenlândia estavam derretendo.
O maior interesse da China parece estar em metais raros encontrados na região e, para anular suas investidas, a União Europeia ofereceu centenas de milhões de dólares ao governo da Groenlândia, pedindo, em troca, que não permita acesso aos chineses.
Os Estados Unidos possuem uma base aérea militar em Nome, no norte da Groenlândia, e parecem estar em posição mais favorável do que qualquer outro país para assumir o controle da região – mas, certamente, encontrará grande resistência da Rússia, país que tem o maior litoral ártico do planeta.
O que não se está ouvindo de nenhum dos países limítrofes ao Oceano Ártico ou próximos a ele é uma preocupação com o derretimento da calota polar, embora, como diz o cientista dinamarquês Morten Rasch, “ele venha ocorrendo com muito mais rapidez do que temíamos”.
Portanto, caros, quando nações ricas declararem na próxima Conferência da ONU sobre Aquecimento Global que estão preocupadas com o futuro do planeta, saberemos que no fundo agem com o mesmo egoísmo de Mitt Romney.
O egoísmo dos poderosos.
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