*Como ficou dúbio, esclareço que o “pior que plástico, só amianto”, colocado antes do título da matéria que com justiça elogia o projeto de cisternas que mudou tantas vidas no Semiárido, é uma menção ao absurdo e execrável projeto em discussão no Governo Federal de instituir as cisternas de plástico, para acelerar o processo. Isso sem levar em conta quer a durabilidade, quer (muito mais importante) o trabalho comunitário e a solidariedade presentes na construção dessas cisternas, que já se integraram inclusive à cultura da região. Para mais detalhes ler o ótimo artigo de Gogó. TP.
No passado, o segundo semestre do ano era de sofrimento com a escassez de água. Hoje, a realidade mudou
Diário do Nordeste – 11/11/2011
Duas organizações não governamentais, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, em Senador Pompeu, e o Instituto Elo Amigo, em Iguatu, integram o esforço da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), para promover o acesso à água e à segurança alimentar a dezenas de famílias de agricultores no sertão cearense.
A construção de cisternas de placas e de calçadão, cujos recursos são oriundos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), tem se mostrado um meio eficaz de acesso à água para consumo e produção de alimentos.
Até agora, já foram construídas 39.275 cisternas de placas, com a programação de mais 22.500 para o próximo ano, segundo dados da Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Estado (SDA). Há um projeto piloto para a construção de 1.500 cisternas de calçadão, que já foram conveniadas e estão em fase de execução.
Em meio a denúncias de má aplicação de recursos do MDS por algumas Prefeituras no Interior do Ceará para a construção de cisternas de placas (obras inacabadas ou com rachaduras), o esforço de organizações de sociedade civil tem apresentado bons resultados.
As famílias são capacitadas sobre o uso correto das unidades no período de estiagem. Os exemplos, segundo o coordenador da ONG Instituto Elo Amigo, Marcos Jacinto, estão espalhados em diversas comunidades rurais nos Municípios de Cariús, Crato, Jardim, Saboeiro, Piquet Carneiro, Independência, Tauá e Crateús.
Seleção
As instituições que fazem as políticas públicas do Governo Federal chegar à casa dos agricultores integram a articulação do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido. Uma comissão municipal faz a seleção das famílias, que passam por formação técnica, para serem beneficiadas com as obras.
Há dois tipos de cisternas: a de placa, com capacidade para armazenar 16 mil litros de água de chuva captados por calha no telhado, do Programa por Um milhão de Cisternas (P1MC), que começou em 2003; e a cisterna calçadão, do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que armazena até 52 mil litros de água para uso em irrigação de hortaliças e pomares no quintal das casas.
Para entender a sigla P1+2, Marcos Jacinto, esclarece: “O um significa terra para produção. O numeral dois corresponde a dois tipos de água – a potável, para consumo humano, (armazenada em cisternas de placas), e água para produção de alimentos (armazenada no modelo calçadão)”.
As famílias atendidas pelo Programa P1+2 são selecionadas a partir de critérios sociais e econômicos, com prioridade para as casas que já dispõem de cisterna de placa, mulheres na qualidade de chefe de família, presença de crianças de até 6 anos, idosos acima de 65 anos e pessoas portadores de necessidades especiais.
De acordo com a ASA, o objetivo do programa é fomentar a construção de processos participativos de desenvolvimento rural no semiárido brasileiro e promover a soberania, a segurança alimentar e nutricional e a geração de emprego e renda às famílias agricultoras, por meio do acesso e manejo sustentáveis da terra e da água para produção de alimentos.
Na localidade de Riacho do Meio, zona rural de Cariús, quase todas as 54 famílias moradoras do lugar foram atendidas com cisternas de placas e nove do tipo calçadão. Antonieuda Carvalho é uma das beneficiadas e disse que a obra trouxe grande benefício. “Antes, a gente andava com balde na cabeça, indo pegar água distante, no riacho”, contou. “Na época do verão, da seca, os poços secavam e água ficava ruim”.
Hoje, além da água para o consumo, a família dispõe de verdura e algumas frutas, mesmo no período de verão. “Até abacaxi a gente está plantando”, mostrou. “O excesso de produção da verdura a gente dá para os vizinhos”. O marido dela é pedreiro e, atualmente, trabalha na construção de outras cisternas em Cariús.
As famílias dão como contrapartida a escavação do terreno, a alimentação dos operários e ajudam no trabalho de construção da unidade. Irani Vieira de Lima, outra beneficiada com a cisterna calçadão, disse que a obra trouxe uma vida nova. “Com certeza, melhorou a nossa qualidade de vida”, frisou. “Os frutos que nós produzimos é de forma orgânica, sem veneno”. A água acumulada ajuda outra atividade da família: a criação de vacas leiteiras.
O agricultor Emídio Lima, ao lado da esposa, Francisca Lima, mostra-se satisfeito com as duas cisternas. “Foi uma bênção”, disse. Inicialmente, o produtor não queria o benefício, por estar idoso, mas hoje agradece. “Já sofri muito indo pegar água no riacho, em poços, mas agora tenho aqui do lado da minha casa”.
Na comunidade de Riacho do Meio, a 37Km de Cariús, não se vê mais uma pessoa com lata d´água na cabeça. “A nossa meta é atender outras famílias com cisterna calçadão. Primeiro nós temos a preocupação de capacitar os beneficiários para que usem corretamente as unidades”, frisou o técnico do Elo Amigo, Ednaldo do Carmo. A ideia é evitar o uso inadequado ou mesmo a não utilização das cisternas, deixando de captar água no período invernoso. Neste ano, o Elo Amigo em parceria com outras instituições já construiu 77 cisternas de placas, quatro barragens subterrâneas e três tanques comunitários.
MAIS INFORMAÇÕES:
Instituto Elo Amigo
Rua 21 de Abril, S/N
Bairro Prado – Município de Iguatu
Telefone: (88) 9962. 5061
Honório Barbosa – Repórter
SERTÃO DOS INHAMUNS: Tecnologia garante produção
Independência – Na localidade de Brilhante, a 9Km da sede deste Município, existem quatro cisternas calçadão. Construídas há quase dois anos, como projeto piloto de uma parceria entre o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) e o Instituto Elo Amigo, a iniciativa comprova a eficiência desta tecnologia de convivência com o semiárido.
Torna possível, com o armazenamento de água proveniente da chuva no período de inverno a produção de frutas, legumes e criação de pequenos animais durante todo o verão, tanto para o consumo das famílias como para gerar renda com a venda do excedente.
“É um sonho por uma época dessa não termos a preocupação com a falta de água, não termos que ir buscar água longe ou correr o risco de não ter onde ir buscar. Temos água em casa, aqui no nosso quintal”, comemora Celma Pereira. Para além de possuir a água como um bem necessário ao dia a dia, para beber, banho, cozinhar e outras utilidades do cotidiano de uma família de cinco pessoas, Celma se anima também com a realidade de transformação de vida conquistada por meio da cisterna calçadão, no que diz respeito à produção. “Plantamos primeiro para o nosso consumo, depois vendemos o que sobra”.
Depois da construção da cisterna, dá gosto visitar o quintal da casa de Celma e da comadre Isabel Cristina, vizinhas que dividem os benefícios e trabalho advindos da cisterna e canteiros. Está tudo no início, mas a família já se serve da produção de verduras e frutas. “Nesse período o cuidado tem sido dobrado e a produção diminui”, afirma Celma. O sol castiga muito a plantação, é tempo da seca. O tomate é o mais prejudicado. O que tem colhido dos canteiros é a cebolinha, coentro e algumas frutas para consumo da família. Diz que vai cuidando e mantendo, enquanto o inverno chega. Quando a produção é boa, vende para a própria comunidade e até manda para vender na sede.
Maracujá, goiaba, abacate, acerola, seriguela, manga, macaxeira, banana, coco, mamão. Tem um pouco de tudo no quintal da Celma. Tudo muito bem cuidado e aguado com o que ainda resta dos 53 mil litros da cisterna calçadão, que ficou cheia com o inverno deste ano. A água é bem aproveitada de todas as formas pela família. Além da produção de frutas e hortaliças, beneficia na criação de animais domésticos. Ela cria galinhas e suínos. Diz que com a chegada da cisterna de produção tudo mudou na vida da família, a partir da alimentação. “Aproveitamos a água de todo jeito em nosso benefício e hoje temos uma alimentação com muita qualidade. Além do feijão e outras misturas trazidas da cidade, temos muitas frutas, legumes, ovos e boa carne. Tudo isso é uma bênção”, reflete a agricultora.
Com a cisterna, Celma teve a oportunidade de participar de cursos e conhecer outras formas de plantio para aproveitar a água acumulada na cisterna. Por meio do projeto de implantação viajou, inclusive, para outras cidades que tinham experiências de sucesso em plantios dessa natureza. E decidiu, junto com a vizinha, implantar os canteiros econômicos, nos quais a semente é adubada na terra que depois é coberta com lona, esterco e uma camada de telha, tudo intercalado por canos furados. Fizeram quatro canteiros.
A experiência, viagens, cursos e a prática nos canteiros lhe deram uma nova visão em relação à vida e de como lidar com o seu sistema de produção. Agora, de forma mais sustentável.
Silvania Claudino – Repórter
http://www.asabrasil.org.br/portal/informacoes.asp?cod_clipping=1384. Enviada por Ruben Siqueira.
Há um projeto do governo de abandonar as cisternas feitas pela própria população, de forma coletiva e já tradicional, substituindo-as por cisternas de plástico! Veja, por favor, http://racismoambiental.net.br/2011/11/dilma-tratora-as-cisternas/.
Busquei, mas não consegui ver uma relação sugerida pela titulo da materia pior que plástico so amianto com a convivencia com o semiárido.