Ao completar dois meses dos assassinatos de José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, os familiares do casal e os movimentos sociais que a esta subscrevem, vem a público manifestar e requerer:
1 – O afastamento do Juiz Murilo Lemos Leão da condução do processo. No dia 20 desse mês, a polícia civil do Pará anunciou a conclusão das investigações e apontou como mandante dos crimes o fazendeiro José Rodrigues Moreira e como executores, os pistoleiros Lindon Jonhson Silva Rocha (irmão de José Rodrigues) e Alberto Lopes do Nascimento. Mesmo identificando os executores e um mandante do crime, nenhum deles foi preso, todos encontram-se livres em lugar não sabido, graças as decisões do juiz Murilo Lemos Simão, da 4ª vara penal da comarca de Marabá. No curso das investigações, a polícia civil pediu a prisão temporária dos acusados. Mesmo com parecer favorável do Ministério Público o juiz negou o pedido. De posse de novas provas sobre a participação dos acusados a polícia ingressou com um segundo pedido; dessa vez, requereu a prisão preventiva desses. O pedido chegou novamente às mãos do juiz com parecer favorável do MP e, para a surpresa de todos, o juiz negou o pedido. Uma semana antes da conclusão das investigações, a polícia civil ingressou com um terceiro pedido de prisão e, mais uma vez, o juiz não decretou a prisão dos acusados e, segundo informações da polícia, requereu novas diligências.
Ao negar a decretação da prisão dos acusado por duas vezes, o juiz contribuiu para que esses fugissem da região e, mesmo que sejam decretadas suas prisões agora, a prisão do grupo se torna ainda mais difícil. O mesmo juiz, decretou o sigilo das investigações sem que o delegado que presidia o inquérito ou o Ministério Público tenha solicitado.
Muitos outros crimes de grande repercussão já ocorreram no Estado do Pará (Gabriel Pimenta, Irmã Adelaide, massacre de Eldorado, José Dutra da Costa, Irmã Dorothy), e em nenhum deles foi decretado segredo de Justiça. Entendemos que a decretação do segredo de justiça é uma forma de manter os familiares, as entidades e a sociedade distante das informações. As decisões do juiz Murilo Lemos é mais um passo em favor da impunidade que tem sido a marca da atuação do Judiciário paraense em relação aos crimes no campo no Estado.
Ao não decretar a prisão dos acusados a segurança das testemunhas fica comprometida, na medida em que a polícia já divulgou os nomes das pessoas que apontaram em depoimento os acusados como responsáveis pelos crimes. Soltos poderão atentar contra a vida das testemunhas. Com os criminosos em liberdade, nenhuma testemunha terá a segurança e a tranquilidade de se apresentar perante o juiz para prestarem novos depoimentos, comprometendo dessa forma a garantia da instrução processual.
2 – A continuidade das investigações. Desde o início das investigações as testemunhas ouvidas já indicavam a possível participação de José Rodrigues como um dos mandantes do crime, ao lado de outros fazendeiros e madeireiros do município. José Rodrigues pretendia ampliar sua criação de gado para dentro da reserva extrativista. No entanto, a área que ele dizia ter comprado já estava habitada por três famílias extrativistas. Na tentativa de expulsar as famílias, José Rodrigues levou um grupo de policiais entre civis e militares até o local, os quais expulsaram os trabalhadores do local, atearam fogo em uma das casas e levaram um trabalhador detido até a delegacia de Nova Ipixuna. Na delegacia o trabalhador foi pressionado pelos policiais e José Rodrigues a assinar um termo de desistência do lote. José Cláudio e Maria além de denunciarem a ação ilegal dos policiais ao INCRA apoiaram a volta dos colonos para os lotes.
Meses antes de suas mortes José Cláudio e Maria denunciaram as ameaças que estavam sofrendo e apontavam fazendeiros e madeireiros como os ameaçadores. As dezenas de depoimentos colhidos durantes as investigações apontam para a participação de outras pessoas na decisão de mandar matar José Cláudio e Maria, o que não aparece nas investigações feitas pela polícia civil. Razão pela qual as entidades abaixo relacionadas defendem a continuidade das investigações. As entidades esperam ainda que o inquérito presidido pela Polícia Federal, e não concluído ainda, possa avançar na identificação de outros acusados pelos crimes, bem como na apresentação de novos elementos de prova em relação aos já indiciados pela polícia civil.
3 – A federalização do processo. Caso não haja mudanças na condução do processo por parte do Judiciário paraense, os representantes dos familiares e dos movimentos sociais solicitarão ao Ministério Público Federal que proponha junto à Procuradoria da República o pedido de federalização do processo que apura a assassinato do casal de extrativistas. A atuação do judiciário, através da ação do juiz Murilo Lemos, não tem contribuído para a prisão rápida dos responsáveis, comprometendo dessa forma o prosseguimento da ação penal. Na esfera federal, espera-se que a apuração seja mais ampla e que todos os responsáveis sejam devidamente identificados e presos, dando dessa forma a tranquilidade necessária para o prosseguimento da ação penal.
4 – A volta para o assentamento de todas as famílias que saíram da área logo após as mortes. As 09 famílias, entre parentes de José Cláudio e Maria e lideranças que deixaram o assentamento logo após os assassinatos, comunicam que irão retornar imediatamente ao assentamento. As razões que motivam os familiares a tomarem essa decisão são as promessas não cumpridas dos governos Federal e Estadual de amparo e segurança de todos. Passados dois meses, a irmã de Maria do Espírito Santo, professora no assentamento, corre o risco de perder o emprego devido o Estado não ter providenciado a transferência da mesma para outro município; a assistência médica e psicológica também não funcionou conforme o prometido; a promessa de aluguel de casas para abrigar os familiares não se cumpriu; cessaram-se os contatos das pessoas indicadas pelo governo do Estado para o acompanhamento da situação das famílias; não há até o presente momento resultados concretos sobre investigações de ameaças contra lideranças ameaçadas no assentamento extrativista e na região.
Todas as autoridades (Presidente Dilma, Ministro da Justiça, dos Direitos Humanos, do Ministério de Desenvolvimento Agrário, Ouvidor Agrário Nacional, Comissões de Direitos Humanos do Congresso e da Assembleia Legislativa, Presidente do Tribunal de Justiça, CNJ, e outros) que prometeram ações concretas, logo após as mortes, serão informados através desse e de outros documentos.
As entidades abaixo relacionadas exigem providências urgentes das autoridades!
Prisão imediata de todos os responsáveis pelas mortes de José Cláudio e Maria!
Esclarecimento de todas as mortes de trabalhadores rurais ocorridos na região!
Marabá, 25 de julho de 2011.
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá.
FFETAGRI Regional Sudeste.
Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS.
Movimento Sem Terra – MST.
Pastorais Sociais da Diocese de Marabá.
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Nova Ipixuna.
Centro de Apoio e Assessoria Sindical e Popular – CEPASP.
Conselho Indigenista Missionário – CIMI.
Fórum de Educação do Campo – FREC.
Familiares de José Cláudio e Maria do Espírito Santo.
Associação do Projeto de Assentamento Agroextrativista – APAEP.
O GT Meio Ambiente da Associação dos Geografos Brasileiros,apoia
Prisão imediata de todos os responsáveis pelas mortes de José Cláudio e Maria!
Esclarecimento de todas as mortes de trabalhadores rurais ocorridos na região!