Marcela Belchior, Adital
Um alerta: a Rede Nacional de Ação Ecologista da Argentina (Renace) chama a atenção dos movimentos sociais dos mais diversos países para acompanharem a pesquisa em torno dos perigos do uso do glifosato. Trata-se de uma substância herbicida não seletiva, ou seja, que mata qualquer planta, desenvolvido para acabar com ervas perenes e o principal ingrediente do Roundup, herbicida da Companhia Monsanto, empresa multinacional de agricultura e biotecnologia. Recentes investigações apontaram que, além do alto prejuízo ao ecossistema, o glifosato é cancerígeno. Para a entidade, é preciso saber como a Organização Mundial de Saúde (OMS) vai tratar do tema.
Por meio de nota amplamente divulgada aos movimentos e meios de comunicação contra-hegemônicos, a Rede pede que sejam contatadas as autoridades locais da OMS em cada país para que a organização explique como será estruturado o futuro grupo de trabalho especial de especialistas que investigará as propriedades cancerígenas do glifosato.
“Sabemos que, em cada comissão que tratou historicamente os riscos de cada uma das substâncias perigosas lançadas no mercado, houve infiltrados da indústria que os fabricava, que percorreram o eixo da discussão, conseguindo que fossem classificadas como inócuas ou pouco perigosas, substâncias que, com o passar dos anos, revelaram seu risco e contabilizaram vítimas”, alerta a Renace.
De acordo com a Rede, o glifosato é uma dessas substâncias, cujos riscos foram ocultados pela força do mercado sobre as entidades sociais. “Agora, diante da declaração de sua provável propriedade cancerígena, a indústria sai a defender suas vendas e busca que essa ‘comissão ad hoc’ reduza o nível de toxicidade, para poder continuar vendendo-o como inócuo, distorcendo os resultados para seus benefícios econômicos”, aponta a Renace.
A Rede requer que a OMS desenvolva o processo com transparência e informe quem serão os integrantes do grupo de trabalho, que deve decidir os rumos do uso dessa substância. Além dos nomes dos especialistas membros do grupo, os ecologistas querem saber os critérios pelos quais eles/as serão selecionados, quem selecionará, se haverá representação territorial e de diferentes escolas de pensamento.
Perguntam ainda se os/as especialistas serão pessoas independentes das empresas e corporações, onde e quando devem se reunir, em que data estimada será emitido o informe do grupo. A Renace requer uma resposta também sobre a maneira como a OMS pretende utilizar os dados no intuito de evitar que as empresas pressionem o grupo de especialistas.
“Estamos muito preocupados pela falta de resposta da OMS aos questionamentos”, afirma a Renace, em carta dirigida à Organização.”Depende de como se componha esse grupo e quais sejam os critérios com o quais serão escolhidos os trabalhos a considerar, quais as conclusões a que chegarão”, destaca a entidade.