Luiz Ribeiro
Em ação conjunta com o Ministério do Trabalho e do Emprego e com o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal resgatou 31 trabalhadores submetidos a condições precárias numa extração clandestina de cristal de quartzo, no distrito de Senador Mourão, em Diamantina, a 290 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha. A Operação Senzala foi iniciada na semana passada encerrada ontem, contando com a participação do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e do Instituto Chico Mendes.
Foram apreendidas no local 375 toneladas de minério, e equipamentos usados na extração, como pá carregadeira, motobomba, patrol e vários motores. De acordo coma PF, a cada mês era feita a retirada ilegal de cerca de 2 mil toneladas de quartzo, vendidos a R$ 40 a tonelada. Com isso, o negócio gerava uma renda da ordem de R$ 80 mil mensais. A mineração foi instalada nas fazendas Dom Bosco e Estoque em área de preservação permanente, no entorno do Parque Nacional das Sempre Viva.
O delegado federal Rodrigo Moraes Fernandes, que comandou a operação, disse que os 31 operários foram encontrados sem carteira assinada e sem as mínimas condições de segurança e de higiene. “Eles saíam pela manhã para trabalhar na mineração e ficavam de oito e nove horas sem alimentação. Depois, voltavam ao alojamento, onde dormiam amontoados devido à falta espaço”, relatou o delegado.
Segundo ele, os operários faziam o percurso entre o alojamento e os locais de extração do quarto em cima de um trator, sem qualquer segurança. “E ganhavam por produção, lavando pedras com as mãos em uma lagoa”, afirma o policial. Ele explicou que, quando alguma maquina quebrava, a produção era interrompida e os trabalhadores nada recebiam pelos dias parados. Desta forma, muitas vezes recebiam menos de um salário mínimo por mês. “Vários trabalhadores disseram que viviam nestas condições há mais de oito anos”, revelou Rodrigo Fernandes.
O responsável pelo empreendimento, que arrendou o terreno, não foi encontrado no local durante a Operação Senzala. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, foi apontado como dono da mineração Paulo Gorayeb Neves, que se apresentou às autoridades na terça-feira, em Diamantina, e se comprometeu a arcar com as dívidas dos trabalhadores, que devem chegar a R$ 200 mil. Ontem, além dos salários, foi providenciado o pagamento do seguro-desemprego dos trabalhadores, assim como a volta deles para suas casas na própria região de Diamantina.
SIDERÚRGICAS – O delegado Rodrigo Fernandes informou que o quartzo extraído irregularmente em Diamantina era vendido a siderúrgicas para ser empregado na produção de ferro-gusa e de aço. Como se trata de uma mineração não autorizada pelo DNPM, as empresas também deverão responder a inquérito pelo crime de usurpação de bens da União. Já foram identificadas pela Policia Federal três firmas do polo siderúrgico mineiro que adquiriam o minério clandestino e que deverão ser envolvidas no inquérito. Mas os nomes das siderúrgicas são mantidos em sigilo.
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ESTADO DE MINAS, 7-4-2011 Caderno Gerais – Página 26. Enviada por José Carlos.