Após o retorno a São Félix do Araguaia, Milton, suspendeu
Quando questionado pelo jornal Diário de Cuiabá, pelo ato de levar o coordenador para aldeia, Luis Carlos Mauri Karajá, cacique da aldeia Santa Izabel do Morro, em São Félix do Araguaia afirmou que os karajá é um povo pacífico. ” Não somos a favor da agressão ou violência, só estamos cansados de sofrer. Nós estamos morrendo por negligência”, denunciou.
O novo descaso gerou um novo protesto. No dia 14 os indígenas levaram veículos do DSEI, numa nova tentativa de chamar a atenção das autoridades para suas exigências em favor da melhoria do atendimento a saúde de seu povo. Mesmo diante da cobertura da mídia estadual para o caso, não aconteceu nenhum pronunciamento oficial de um representante da Sesai ou do próprio Ministério da Saúde, diante da situação o grupo de lideranças Karajá encaminhou uma denúncia para o Ministério Público Federal e uma carta para o coordenador da Sesai. Na denúncia e na carta a comunidade indígena descreve a situação atual e enumera suas reinvindicações.
Leia a Carta de reivindicações Karajá
Atualmente, segundo os indígenas, 90% dos barcos a motor estão quebrados, o que impossibilita o transporte dos pacientes. Eles querem que sejam realizadas as compras das peças para manutenção dos veículos. A comunidade exige a regularização dos contratos para compra de medicamentos, “pois não adianta ter médicos e enfermeiros se não tem medicamentos para continuar o tratamento”, diz a carta.
E cobram
Hoje, 17/10, o grupo vai se reunir na aldeia Fontoura, na Ilha do Bananal, para discutir a situação e organizar novas ações. Os indígenas estão denunciando novamente, uma situação que se arrasta por anos e que já foi comprovada pela Auditoria da Controladoria Geral da União (CGU). Em março desse ano, o jornal Folha de São Paulo noticiou o resultado dessa auditoria, que constatou um gasto irregular de 6,7 milhões com a saúde indígena brasileira nos anos de 2011 e 2012. O Dsei Araguaia, um dos 34 distritos do País, foi apontado com um, dos dois distritos, onde foram encontradas as irregularidades. A auditoria apontou os problemas de falta de infraestrutura, o número de veículos quebrados, a existência de uma firma prestadora de serviços fantasma e o grande número de medicamentos vencidos.
Encurralados pela pobreza, cercados pelo preconceito, invisíveis ao governo, os indígenas Karajá resistem e gritam por justiça e por seus direitos. Oxalá fossem respeitados!
Alcoolismo, uma ferida aberta
E um pedido dessa carta revela a complexidade do problema na saúde que os Karajá enfrentam e diz respeito ao retorno do contrato dos vigilantes. Embora a comunidade saiba e tenha a responsabilidade de cuidar do prédio e do patrimônio dos postinhos de saúde dentro das aldeias, os indígenas afirmam que devido ao crescimento do alcoolismo dentro das comunidades é quase impossível impedir as depredações e prejuízos aos prédios e patrimônios públicos e por isso se faz necessário a recontratação de um guarda, que foi suspenso pelo Dsei.
O alcoolismo continua marginalizando e matando silenciosamente jovens, velhos, mulheres e homens Karajá.
Em 2010 o jornal A Gazeta Digital abordou o tema e citou uma pesquisa realizada, em 2014, pela Fundação Nacional da Saúde (FUNASA), com os homens karajá de cinco aldeias: Tytemã, JK, Wataú, Santa Isabel, São Domingos e Fontoura – todas localizadas às margens do Rio Araguaia. Na divisa entre Tocantins e Mato Grosso, estão mais próximas à São Félix do Araguaia e Luciara, do lado mato-grossense. Dos 558 homens entrevistados, cerca de 214 disseram que consumiam bebidas alcoólicas, o que corresponde 38,40% da população. Destes, 77% dizem ficar embriagados” diz uma reportagem do jornal Gazeta Digital.
Já foram realizados diversas reuniões com o Ministério Público Federal, foi criada uma “Força-Tarefa” entre diversas entidades e saíram nas aldeias ministrando palestras e seminários, fazendo reuniões, dia disso, dia daquilo, mas até o momento não foi implementada nenhuma política pública efetiva para enfrentar o problema do alcoolismo.
Além de ser uma questão de saúde pública o alcoolismo entre os indígenas, hábito introduzido pelo contato com a sociedade não-índia, está influenciando a vida nas aldeias e ameaçando a segurança de seu território. O álcool, assim como na sociedade “branca”, gera violência dentro e fora das famílias, pobreza e marginalização. Não existem dados oficiais sobre as mortes causadas pelo abuso de álcool, mas são percebidos, esses óbitos, com frequência nas comunidades.
Entretanto, o povo Karajá continua resistindo culturalmente e politicamente. O bispo, Pedro Casaldáliga, no documentário Besoróró, A TV e OS KARAJÁ, diz “Os Karajá são um povo forte, pois depois de três séculos de massacre, massacre cultural sobretudo, falam a língua é um povo forte”. E acreditando nessa força que os mantém unidos, somos motivados abraçar suas causas e compartilhar a dor de suas feridas. Mesmo nesse cenário tão vil que a política brasileira criou para os povos indígenas, onde todos os dias seus direitos são reduzidos e algumas vezes esmagados, como o que acontece com os Guarani Kaiowá, em MS, que estão sendo expulsos de sua terras, mas esse é assunto para outro texto.