Apesar de celebrada no Ocidente, no Paquistão alguns chamam Malala de marionete
Por Richard Leiby e Karla Adam, do Washington Post, em O Globo>
Quando o mundo soube que Malala Yousafzai tornou-se a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel na História, a menina de 17 anos estava no lugar onde deveria estar: na escola. A jovem defensora da educação feminina já disse que quer ser vista pelos colegas da escola onde estuda, em Birmingham, no Reino Unido, como uma “garota normal” desde que sobreviveu ao ataque de talibãs há dois anos. Mas a normalidade provou ser quase impossível em meio ao crescente reconhecimento internacional, e a nova fama estratosférica.
A vida mudou de forma irrevogável para Malala por volta de seus 11 anos, quando começou a escrever anonimamente em um blog sobre o apoio à educação de meninas na região conservadora e religiosa do Vale do Swat, controlada pelo Talibã de 2007 a 2009. A franqueza da menina nos textos colidiu não só com a dura sharia imposta por mulás, mas também com os arraigados costumes sociais paquistaneses, particularmente em áreas mais rurais, onde meninas são obrigadas a casarem-se cedo e mantidas isoladas em suas casas.
A exposição midiática colocou sua vida em risco: foi no trajeto de casa para a escola — fundada pelo pai, poeta e ativista —, em um ônibus escolar, que ela e duas colegas de classe foram baleadas por um homem armado do Talibã.
Depois disso, tudo mudou. Malala foi abraçada por Hollywood e apareceu no “The Daily Show”. Como as estrelas pop, ela é imediatamente reconhecida pelo nome — mesmo antes do Nobel. Uma adolescente normal? Dificilmente. Ela passou seu 16º aniversário fazendo um discurso nas Nações Unidas, e seu 17º na Nigéria “para demonstrar solidariedade” às alunas sequestradas no início do ano por militantes do Boko Haram.
Ainda assim, Malala mantém um pouco da adolescente fã de Justin Bieber e Selena Gomez antes do exílio no Reino Unido — uma decisão tomada por sua família e por ela, que temem novos ataques. Perguntada sobre uma das coisas mais difíceis durante a adaptação à vida na Inglaterra, Malala disse à BBC no ano passado:
— Aqui, eles me consideram uma boa menina, a menina que brigou pelos direitos das crianças, que foi baleada pelo Talibã. Eles nunca olham para mim como Malala, como uma amiga e uma garota normal.
Mas no Paquistão ela não é universalmente celebrada. Alguns afirmam que tudo não passa de um “drama”, o que no país é sinônimo de exagero e mentira, mesmo que o Talibã tenha revindicado a autoria do tiroteio.
— Sua nova vida continua a dividir a opinião no Paquistão — escreveu um repórter no “Express Tribune” na quinta-feira. — Alguns a veem como uma marionete do Ocidente; já os que gostam dela afirmam que ela é uma força que combate o extremismo religioso e defende o direito das mulheres.