Isabela Vieira – Repórter da Agência Brasil
Um grupo de pescadores protestou hoje (18), em frente à sede da Petrobras, contra os danos ambientais causados pela estatal na Baía de Guanabara. Com redes de pesca, vestidos de preto, o grupo cobrou o pagamento de indenização estipulada em R$ 1 bilhão pelo acidente que provocou o derramamento de 1,8 milhão de litros de óleo na baía, em 2000.
Segundo o Fórum de Pescadores e Amigos do Mar, o acidente causou uma série de impactos socioambientais e provocou a redução de 90% da pesca na região. Pelo dano, ocasionado por um problema em oleoduto da Petrobras, a Justiça condenou a empresa a pagar R$ 1 bilhão de indenização. “Até hoje, a empresa não cumpriu a decisão. Os pescadores estão idosos, doentes, empobrecidos, venderam embarcações para pagar dívidas. Muitos morreram, suas viúvas estão abandonadas e os que sobraram não têm sustento”, disse o ambientalista Sérgio Ricardo, que integra o fórum. “Há um drama humano, queremos o diálogo”, completou. Procurada pela reportagem, a Petrobras não se pronunciou sobre o caso.
Da colônia de pescadores Z-10, de Niterói, Jane dos Santos, de 71 anos, participou do ato e relembrou os efeitos do vazamento. “[A baía] tinha garça rosa, garça cinza, tinha mexilhão, peixe-carapicu, maria-preta e cocoroca. A poluição acabou com tudo”, disse. Ela pescava 0,5 tonelada por dia antes do acidente. Depois, a média caiu para 200 quilos. “Tirava 40 panos de rede por dia, pescava muito, conheço todas as colônias do Rio. Parei de pescar pela idade, aposentei com um salário mínimo. Não dava mais”, completou.
Durante o protesto, os pescadores alertaram para existência de óleo remanescente nos manguezais e no fundo da baía, o que tem afetado a reprodução dos peixes até os dias de hoje e provocado o desaparecimento de espécies. “Todos os berçários de peixe foram consumidos pelo óleo da Petrobras”, disse o pescador Paulo Sérgio, de Niterói.
“O óleo afundou, mas fica lá, matando. Você joga uma linha e pode ver, ela volta suja de óleo. Então, todos os peixes que tinha, que se alimentavam do limo das pedras, e também o camarão, o boto, não existem mais”, explicou Paulo Sérgio, que é da Colônia Tubiacanga. Para sobreviver, ele conta que alguns pescadores alugam barcos para o turismo.
Para o Fórum de Pescadores, a expansão da indústria petroleira tem ocorrido sem “critérios técnicos e sem ouvir as comunidades impactadas” e ameaça a fauna e o meio de trabalho e vida dos pescadores. Eles cobram o zoneamento ecológico-econômico e demarcação de territórios pesqueiros pelo governo do estado.
A Secretaria Estadual do Ambiente também não respondeu sobre os procedimentos solicitados pelos pescadores.