Muita gente desistiu de checar informação, pura e simplesmente. Antes já tinham ojeriza a isso – por preguiça, ignorância, incompetência ou o ritmo industrial de produção – quatro patas que sustentam o mau jornalismo (não considerei a má fé como um dos elementos porque, aí, deixaria de ser jornalismo).
Mas, agora, impulsionado pelo poder de difusão das redes sociais e com a entrada, nos últimos anos, de novos atores em cena, parece que verificar a veracidade de determinada informação antes de compartilhá-la virou atentado violento ao pudor. Checar é coisa do capeta.
Uma fonte me passou uma informação interessantíssima. Minutos depois, mandou uma mensagem perguntando se não ia divulgar. Pedi um tempo e expliquei que estava verificando se a informação procedia. Ficou possesso com minha “desconfiança”. Pedi a ele que esperasse um pouco mais, que isso fazia parte da profissão e não era pessoal. Não teve jeito, ficou amuado e passou para outra pessoa.
Não foi a primeira vez, nem será a última, não só comigo mas com milhares de colegas. Com isso, já me salvei de burradas homéricas, mas também já perdi “furos”. Como não encaro minha profissão como roleta russa, prefiro o risco de perder o ineditismo a perder a cabeça – por mais que a quantidade de leitores interessados em notícias que corroborem sua visão de mundo e não a desafiem cresça a cada dia.
Em uma analogia grotesca, passar adiante informação não checada é equivalente a topar transar com uma pessoa desconhecida que se nega a usar preservativo. Você não é obrigado a isso, mas se topar por achar mais cômodo e gostoso ou por se considerar invencível, pode ter algumas dores de cabeça no dia seguinte.
Esse, que é um dos grandes dilemas do jornalismo (a checagem de informação, não o uso de preservativos), vai ganhando contornos épicos, cômicos e dramáticos com a popularização dos meios de comunicação em redes sociais.
Como saber se uma informação está incorreta? Bem, às vezes você não tem como saber de antemão, por isso é importante checar sempre. Citar de onde veio uma informação e não transformá-la em boato, garantindo que o fuinha que a divulgou seja devidamente responsabilizado em caso de notícia falsa, pode ajudar. E se não puder citar, por proteção à integridade da fonte, checar tantas vezes por possível com fontes independentes.
Separar joio do trigo demanda também pessoas bem informadas e, mais do que isso, bem formadas. Que consigam olhar para algo e cravar um ponto de interrogação ao invés de exclamação. O que vem de acúmulo de vivência e de leitura e não significa apenas banco de escola, faculdades ou cursos.
Quem confia cegamente em fontes governamentais ou de oposição, em alguém porque esse é famoso ou seu amigo, costuma publicar contos de fada.Pessoas que não verificam se determinada história é verdade e, por caber em sua visão de mundo, a circulam loucamente como um telefone sem fio. E quando aparecem os desmentidos e correções reais (porque também há desmentidos para informações corretas), os ignoram.
O que decorre uma máxima da profissão: todo mundo erra. Conviva com isso ou não faça jornalismo. Reconhecer o erro rapidamente é que faz a diferença. O problema é que uma fofoca viraliza, mas a correção, não.
Se você é daqueles que não leem coisa alguma e dizem que não tem tempo, nem paciência para isso, e, além do mais, acham que senso crítico é uma besteira, mas adoram curtir, compartilhar e retuitar tudo o que passa pela frente, feito um chimpanzé com cãibra, por favor, dedique-se apenas à divulgação de vídeos de gatos vestidos de tubarão em aspiradores de pó, fotos de pugs em situações vexatórias e memes com lições de vida de alguém que passou por uma grande provação e tem o objetivo de levar às lágrimas.
Mas abstenha-se de transmitir informação que pode causar dano a alguém.
Ou, em outras palavras, não sabe brincar, nem quer aprender, nem desce pro play.