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Conforme o Rio de Janeiro se prepara para os Jogos Olímpicos que ocorrerão em um ano, uma tendência está emergindo: ativistas comunitários estão sendo eleitos para presidir associações de moradores em favelas. Recentemente, Maria do Socorro foi eleita presidente da Associação de Moradores da favela Indiana, na Tijuca, em sete de junho. Indiana é uma pequena comunidade com cerca de 600 moradores na Zona Norte do Rio. A eleição de Maria do Socorro segue a vitória de André Constantine, na Babilônia; ambos são membros do movimento Favela Não se Cala e conhecidos ativistas.
Lançando sua candidatura de última hora, Maria do Socorro prometeu posicionar a Associação de Moradores contra a remoção da comunidade: “A nossa luta toda é isso, somos pobres mas também temos direitos”.
A nova presidente deixa claro que a Associação irá se tornar uma ferramenta para que os moradores lutem contra as remoções, que vêm atingindo a comunidade, sobretudo, após 2012. Localizada aos pés do morro do Borel, nas vizinhanças da Tijuca, bairro de classe média, Indiana é considerada área de risco pela prefeitura, devido à sua localização próxima a um rio. A prefeitura quer realocar os moradores para uma habitação pública do projeto Minha Casa Minha Vida em Triagem, a sete quilômetros de distância. Antes de 2012, seis casas foram demolidas e 110 famílias removidas, mas uma decisão judicial preveniu futuras ações, alegando que a prefeitura falhou em providenciar justificativas suficientes para remover a comunidade.
Moradora antiga e mobilizadora da comunidade, Inês Ferreira contesta as alegações que Indiana é uma área de risco e, na verdade, acredita que a remoção é devido à “especulação imobiliária… para outro nível de pessoas morarem [aqui] porque é mais fácil você expulsar o favelado”. Inês faz eco à um sentimento compartilhado por diversas favelas do Rio e expressada por Bob Nadkarni, proprietário de um bar na Tavares Bastos, como um trabalho da prefeitura para remover moradores “um por um, abrindo espaço para imobiliárias”.
Recentemente eleita, Maria do Socorro é rápida ao enfatizar que a luta contra as remoções ainda vive: “Não temos nada que diga que a Indiana não sairá mais, porque o ano que tem as Olimpíadas. Lutamos com a Copa e agora vem as Olimpíadas”.
Ativista experiente, marchando durante os protestos de 2013 e participando regularmente das reuniões do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas, Maria assegura que sua experiência exemplifica a organização e o ativismo necessário para lutar contra as remoções. Diz ela: “Vou reunir pessoas que sabem realmente como que é a luta, como é que é ir para rua, como que é lutar pela sua moradia”.
Maria representa um significativo contraste com o presidente anterior. Após 12 anos no poder, os moradores reclamavam da falta de engajamento e apoio à causa, resultando no estabelecimento de uma Comissão de Moradores alternativa. “Foi fundada justamente para olhar para dentro da comunidade, criticar a associação quando fizer besteira e ser a favor quando fizer algo bom”, explicou Antônio Carlos, um dos fundadores da Comissão.
A Comissão é formada por um grupo proativo de moradores que deram importantes passos para proteger sua comunidade, incluindo a criação de um jornal comunitário, a organização de reuniões e o desenvolvimento de um plano de urbanização da comunidade em parceria com estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Malu, uma estudante que trabalha no projeto, explica que este é um “plano da urbanização para mostrar que é viável a Indiana ficar”. Embora algumas residências realmente estejam em risco, o plano é para preservar a comunidade e “a gente vai tentar fazer com que aquelas pessoas sejam reassentadas dentro da própria comunidade”.
Antônio Carlos explica que a proposta da Comissão é “acrescentar a luta. Nós estamos lutando pela urbanização, por direitos sociais”. A Comissão planeja atuar junto com uma associação que se coloque ao lado dos moradores e proteja a comunidade.
Com as Olimpíadas a apenas um ano, os moradores da Indiana não vêem uma solução rápida para seus problemas de moradia. Eles também reclamam sobre a falta de serviços e melhorias que a comunidade deveria ter recebido. A associação também se queixa do baixo número de recursos disponíveis e está tentando conseguir “mais alguma atividade que ocupe as crianças e doações para os moradores”. Os lideres estão fazendo um apelo por doações de qualquer coisa que possa ajudar sua sede ou os moradores. Por exemplo, ha duas semanas eles compraram 26 caixas de leite para dar para as famílias mais necessitadas da comunidade.
A desconfiança dos moradores com a prefeitura apenas aumentou desde que o Prefeito Eduardo Paes visitou a comunidade Indiana em 2013, quando prometeu que não ocorreriam mais remoções, o que depois falhou em interromper as ameaças e oferecer garantias.
Para ajudar a favela Indiana com doações, entre em contato com a Associação de Moradores aqui ou Maria do Socorro via Facebook.