Perseguir jornalista em rede social é nojento. Coisa de perfil falso e de páginas de ódio que operam de forma anônima na internet porque não têm ética para dialogar de cara limpa e de forma construtiva. Ou porque fazem isso profissionalmente.
Mas quando cidadãos comuns adotam esse comportamento, agindo como uma manada doida, algo de muito errado está acontecendo. Pois não adianta você bater no peito, dizendo que é um defensor da democracia se, na primeira oportunidade, usa de métodos ditatoriais para transformar a vida de outras pessoas em um inferno.
Ficou insatisfeito com uma reportagem veiculada na Veja sobre o Romário? Critique o texto, aponte suas discordâncias, debata com os amigos com base em dados, mas não tente transformar a vida digital dos profissionais envolvidos em um inferno. “Ah, mas há colunistas que usam desse expediente…” Dane-se! Quantos anos você tem para usar um argumento do tipo “Ah, mas ele também está fazendo isso, mãããe”? Quatro, talvez cinco?
Se os citados em reportagem de qualquer veículo de comunicação se sentiram lesados, há instrumentos legais para resolver o assunto. E se eles não forem suficientes, podemos discutir outros. Na minha opinião, como a questão do direito de resposta – que está sem regulamentação no país. Mas, definitivamente, não é com assédio e ameaças digitais que as coisas vão se resolver.
Aos que me acusam de corporativismo, minhas condolências. Estou sendo racional, pois as regras não são aplicáveis apenas ao que concordo.
Repórteres da Folha, do Estado de S.Paulo e da Carta Capital também sofreram assédio pesado nas redes sociais após cobrirem protestos contra o governo federal. Isso sem contar os da Globo, como o Caco Barcelos, que quase apanhou quando cobria uma das manifestações de junho de 2013 para o Profissão Repórter.
É isso o que vocês querem realmente? Dar porrada digital e física em jornalista? Acham que isso vai resolver os problemas da sociedade ou da sua própria insegurança frente ao mundo? Acha que isso vai democratizar a mídia?
Mesmo falta de reflexão e de bom senso se viu com milhares de pessoas ameaçando de morte o tosco e bizarro dentista de Minnesota que matou o leão no Zimbábue. É claro que ele fez uma coisa terrível, mas deve-se batalhar para que ele responda legalmente pelo que fez e não que seja assassinado ou esfolado em praça pública, como as redes sociais clamam.
Há quem, no meio da multidão, grite por Justiça feita com as próprias mãos. E conclame o povo a acender as fogueiras.
Levo cusparada diariamente nas redes sociais (e já levei ao vivo também) por escrever sobre direitos humanos. Com exceção das ameaças de morte e algumas coisas pesadas, encaro até com bom humor as abobrinhas, como vocês bem sabem. Mas nem todo mundo consegue.
Porque ao contrário do que muitos pensam, a internet não é um “lugar” que você visita. É uma plataforma de construção da vida cotidiana e é tão real quanto as outras camadas de interação da nossa existência. E as regras da vida do “lado de fora” valem para cá também.
Você, que é contra linchamentos com paus e pedras, jura mesmo que não vê problemas com linchamentos digitais?