Unidades que aderiram à cota racial falam em democratizar a universidade. Veja quais vagas da USP vão para o Sisu e quais continuam na Fuvest
Ana Carolina Moreno – Do G1, em São Paulo
A adesão parcial da Universidade de São Paulo (USP) ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), anunciada no mês passado, representa a quebra de dois paradigmas na maior universidade pública da América Latina. Além de decidir selecionar parte dos estudantes para vagas na graduação sem usar a nota da Fuvest, a USP também vai reservar, pela primeira vez, 225 vagas para estudantes pretos, pardos e indígenas que tenham cursado todo o ensino médio na rede pública. Veja como fica a divisão de vagas entre Fuvest e Sisu em 2016
Apesar de 59% dos 144 cursos da USP terem decidido aderir parcialmente ao uso da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no ano que vem, só 13,5% das 11.057 vagas vão ser disputadas fora da Fuvest.
Das 1.489 vagas da USP no Sisu, 1.159 (ou 77,8%) vão ser destinadas apenas para estudantes da rede pública, incluindo as 225 específicas para pretos, pardos e indígenas, e 340 serão disputadas na modalidade de ampla concorrência. Porém, só em 13 cursos de quatro unidades houve decisão de reservar vagas para cotas raciais.
A Fuvest usa as seguintes classificações de raça e etnia: branca, preta, parda, indígena e amarela. Nas pesquisas sociológicas, é comum o termo “negro” ser usado para englobar pretos e pardos.
Com exceção do curso de psicologia, no Instituto de Psicologia (IP), os cursos que aderiram ao Sisu são recentes na história da USP: a Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each), localizada no campus da USP Leste; o Instituto de Relações Internacionais (IRI) e o curso de graduação em saúde pública, na Faculdade de Saúde Pública (FSP).
A adesão parcial ao Enem foi decidida em junho, durante reunião do Conselho Universitário (CO) da instituição. A maioria dos conselheiros votaram a favor da medida, incluindo o reitor, Marco Antonio Zago. Em entrevista coletiva após a reunião, ele classificou a aprovação como um “primeiro passo”, e disse que a USP tinha ficado “ilhada” muitos anos, ao não usar o Enem como nota de seleção de calouros. Mas representantes dos estudantes e dos funcionários no CO foram contra a medida. Segundo eles, os detalhes da divisão de vagas não responde à demanda dos movimentos negros por uma política de ação afirmativa mais inclusiva.
Na última edição da Fuvest, levantamento feito pelo G1 a partir dos dados socioeconômicos dos candidatos mostrou que, em seis dos dez cursos mais concorridos do vestibular da USP, nenhum estudante preto conseguiu ser aprovado.
‘Democratização’
O G1 ouviu as unidades que decidiram aplicar as cotas sobre os motivos que levaram à decisão. A Each foi a única unidade que tem mais de um curso e onde todos eles vão reservar cotas por raça ou etnia. “A Each se caracteriza por ser inclusiva desde a sua fundação”, afirmou a professora Maria Cristina Motta de Toledo, diretora da unidade, em nota.
Enquanto a média de vagas da USP reservadas ao Sisu ficou em 11,5% por curso, na Each, esse número é quase três vezes maior. “A porcentagem de 30% para todos os cursos é o que pôde ser feito no atual quadro da Universidade de São Paulo”, explicou Maria Cristina.
Outra unidade da USP que justificou a decisão com base na tentativa de inclusão foi a Faculdade de Saúde Pública. “O curso de graduação em saúde pública é um curso novo, em fase de consolidação e que já tem uma proporção elevada de alunos de escola pública e PPI”, afirmou a professora Adelaide Cassia Nardocci, presidente do Conselho de Graduação da FSP, que vai ter quatro vagas destinadas a alunos da rede pública e quatro para candidatos da cota racial no Sisu 2016.
“Considerando que um dos objetivos da entrada no Sisu é a democratização do acesso à universidade, entendemos que é importante verificar como será a demanda de vagas destes grupos em um vestibular de abrangência nacional”, disse Adelaide.
Ampla concorrência
No IRI, o curso de relações insternacionais, as 12 vagas destinadas ao Sisu também foram divididas em duas: metade para candidatos que estudaram na rede pública, metade para alunos que se autodeclararem pretos, pardos e indígenas.
Em entrevista ao G1, o diretor da unidade, professor Pedro Dallari, afirmou que duas propostas foram votadas no instituto. A que foi derrotada, e que tinha seu apoio, previa a divisão das vagas entre estudantes da rede pública e ampla concorrência.
Dallari justifica sua posição afirmando que a ampla concorrência é a única forma de permitir que “todo jovem brasileiro tenha a chance de ingressar na USP”, já que as provas da Fuvest exigem que candidatos de fora viajem para participar do vestibular.
“A ampla concorrência garante a possibilidade due qualquer candidato do Sisu entrar na USP, mas a cota de escola pública e PPI permitem que haja também política social”, disse ele, que se posicionou favorável a, dentro das vagas reservadas a alunos da rede pública, criar uma cota racial. “Vai ao encontro da lei federal”, explicou ele.
O G1 entrou em contato com a assessoria de imprensa do Instituto de Psicologia, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Calendário
A Fuvest vai receber inscrições para o vestibular 2016 da USP entre os dias 21 de agosto e 9 de setembro. A prova da primeira fase acontece em 29 de novembro, e a segunda fase será realizada entre os dias 10 e 12 de janeiro de 2016.
Já o Sisu ainda não teve o cronograma de inscrições e resultados divulgado pelo MEC, mas só poderão participar candidatos já inscritos para o Enem 2015, que acontece nos dias 24 e 25 de outubro.