Por Neimar Machado de Sousa, no Combate Racismo Ambiental
A última pessoa que eu esperaria cruzar numa aldeia guarani do ms era o Roberto Carlos, da jovem guarda. Eu o encontrei mais de uma vez na terra indígena te’ýikue, município de Caarapó, MS. Inicialmente pensei que estivesse interessado no conservatório de música, que está em estágio final de construção, ou mesmo na orquestra de violões que, desta aldeia, encanta plateias.
Após o contato inicial e as apresentações, tomei coragem de abordá-lo. Durante a conversa fiquei ainda mais intrigado ao saber que Roberto Carlos havia nascido em uma aldeia chamada Guasuty, no município de Aral Moreira, MS, fronteira com o Paraguai, antiga região de exploração do mate e dos índios nos tempos da Cia Matte Larangeira.
O Roberto Carlos que encontrei, também da jovem guarda, faz parte da quinta turma do Magistério para professores indígenas Guarani e Kaiowá, Ará Verá, espaço-tempo iluminado na língua Guarani.
Durante as duas últimas semanas, 40 jovens indígenas, representantes de muitas comunidades e acampamentos indígenas de Mato Grosso do Sul, estão usufruindo a hospitalidade da Aldeia Te’ýikue, de Caarapó, onde têm aulas o dia inteiro com especialistas em educação escolar indígena e mestres tradicionais.
Este curso, o Ará Verá, é ofertado há mais de quinze anos em regime de reciprocidade, potyrõ, entre a Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul, prefeituras e universidades como, por exemplo, UEMS, UCDB, UFGD e UFMS. Atualmente é coordenado pelo professor indígena, Claudemiro Lescano, da aldeia Takuapery, de Coronel Sapucaia, MS. Apesar de todas as parcerias para garantir que os povos indígenas também tenham acesso à educação e à formação continuada de seus professores, os atrasos e contingenciamento de recursos levou seus professores a pedir socorro para seus alunos, em nome da pátria educadora, numa aldeia, que prontamente os atendeu.
Durante os quinze anos de formação continuada de magistério em nível médio para professores indígenas em Mato Grosso do Sul, uma das barreiras que a jovem guarda dos professores indígenas não conseguiu transpor foi a violência, que ceifou a voz, o canto e os corpos de dois de seus alunos, Genivaldo Vera e Rolindo Vera, na volta para a aldeia Ypo’i, em 2009, no município de Paranhos, MS. Estes crimes, somados a muitos outros contra os índios, ainda não foram esclarecidos.
Aos curiosos, envio uma foto não autorizada, do tímido Roberto Carlos, jovem guarda da Aldeia Guasuty.
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Neimar Machado de Sousa é Professor na FAIND/UFGD.