Ubervalter Coimbra, Século Diário
A Aracruz Celulose (Fibria) quer tomar áreas públicas da comunidade do bairro Coqueiral, no município de Aracruz. Inclusive área de mata nativa, conservadas pelos próprios moradores e pela prefeitura. Os moradores, que já perderam o Centro Comunitário, agora podem perder o campo de futebol. Eles denunciam as arbitrariedades da empresa.
Artur Branco, presidente do Centro Comunitário de Coqueiral (CCC), informou que a Aracruz Celulose (Fibria) está prejudicando os moradores como o fechamento do centro. No local, se reuniam membros da comunidade, como grupo da terceira idade, escoteiros, dois times de futebol de veteranos e um infantil.
O centro também abrigava praticantes de natação, inclusive hidroginástica e de artes marciais. Desde agosto do ano passado a Aracruz Celulose (Fibria) avisou que não quer mais atividades no clube, onde também, além do centro, um campo de futebol.
A empresa teve de construir o clube como condicionante, uma exigência legal, para instalar seus projetos no município, que são as três usinas de celulose, além de plantios de eucalipto. Direitos que remontam às décadas de 60/70 do século passado.
A Aracruz Celulose (Fibria) teve de construir não só o clube reservado a seus funcionários onde se localiza o centro comunitário, como outros espaços públicos no bairro. Como a praça, o campo de futebol, além de reservar áreas nos fundos dos lotes onde os funcionários construíram suas casas, que tem vegetação.
O presidente Artur Branco, informou que desde a construção do bairro, as áreas públicas, como praça e área verde, são cuidadas pela prefeitura local. E pelos moradores.
Para surpresa de todos, o Centro Comunitário de Coqueiral, conhecido como CCC, foi fechado. Literalmente. Artur denuncia que a diretoria anterior do CCC devolveu o espaço, mesmo com decisão contrária de assembleia. Entretanto, os moradores que utilizam o centro se revoltaram. Alguns deles retomaram o local. A ocupação durou 13 dias, com algumas pessoas permanecendo direto no centro.
A Aracruz Celulose (Fibria) conseguiu uma liminar na Justiça, e os ocupantes tiveram de sair. Na sequência dos episódios, houve um embargo e a decisão favorável à empresa foi cassada. Para surpresa dos que queriam o centro de volta, em nova decisão do Tribunal de Justiça foi favorável a recurso da Aracruz Celulose. Com o voto do desembargador que, antes, fora favorável aos moradores.
O tramite do processo foi em tempos diferentes. Quando em novembro do ano passado a decisão do juiz local foi revogada pelo Tribunal de Justiça, o processo só chegou à diretoria do CCC meses depois, em fevereiro. Agora, com a decisão da turma de desembargadores, o mandado judicial foi cumprido em dias. O clube está fechado e a empresa colocou seus seguranças no local.
Ocorre que os moradores estão se organizando para defender o seu centro comunitário. A atual diretoria, diz o presidente, já contratou advogados para defesa de direitos que a Aracruz Celulose (Fibria) terá que respeitar. Uma nova ação será proposta, afirma Artur Branco.
Loteamento
Não bastasse a surpresa em ver a Aracruz Celulose (Fibria) tomando o seu centro comunitário e o campo de futebol, os moradores de Coqueiral de Aracruz ficaram pasmos e revoltados com uma outra arbitrariedade. As áreas verdes nos fundos de suas casas estão demarcadas, formando lotes.
Lotes na praça do bairro, no campo de futebol, e até nas áreas verdes de Coqueiral de Aracruz, agora têm preço. Os mais baratos custam R$ 145 mil.
Os moradores já se preparam para outros movimentos. Se reuniram nesta quarta-feira (22) e dividiram tarefas que serão cumpridas junto aos poderes públicos locais. Alguns já retiraram piquetes colocados pela Imobiliária Rose Garcia, como afirma uma moradora.
Na semana que vem, já de posse das informações e feitos contatos, inclusive com a promotoria de Justiça de Aracruz e políticos, os moradores voltam a se encontrar.
Há uma reunião programada para a quarta-feira (29), de onde sairão novos encaminhamentos. Os moradores, porém, já definiram que não aceitam a destruição da área de mata nos fundos de seus lotes, que cuidam há décadas, nem dos espaços comunitários.
A Aracruz Celulose (Fibria) tem um histórico de destruição ambiental no Espírito Santo. E seus investimentos são com dinheiro público, como do BNDES, e com a conivência dos poderes públicos.